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A psiquiatra Cláudia Facuri diz que a pandemia potencializou os gatilhos da agressão em família
Por Larissa Mairís
O isolamento social imposto pela Covid-19 tem se tornado um desafio para as mulheres que passaram a conviver mais tempo com companheiros agressores. Só no mês de janeiro, Campinas chegou a registrar aumento de 277% nos casos de violência contra mulher, enquanto desde o início da quarentena não identificou aumento das denúncias, segundo a Prefeitura Municipal. De 18 casos notificados em janeiro de 2019, no mesmo mês deste ano o número foi de 68 casos.
De acordo com o Fórum de Segurança Pública, entre os meses de março e abril, houve aumento de 22,2% nos casos de feminicídio. Entretanto, o órgão detectou que as mulheres passaram a ter mais dificuldade para denunciar, reduzindo assim o número de registro dos crimes nas delegacias.
Para a advogada e cofundadora do grupo “Mulheres pela Justiça”, Thaís Cremasco, apesar do aumento identificado pela Secretaria de Segurança Pública, o número é ainda maior do que o registrado, isso porque muitas mulheres não conseguem denunciar e entram para a estatística das subnotificações.
“A subnotificação é um problema gigantesco e a única forma de combatê-la é através da denúncia. A sociedade só tem conhecimento desses crimes quando são notificados, quando não há notificação, além de colocar sua vida em risco, a mulher deixa de estimular outras a também quebrar o silêncio.”
Denúncias informais
Uma pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública constata que em ambiente digital houve aumento de 431% de relatos de brigas entre casais. Número detectado a partir da busca por menções feitas por usuários da rede social Twitter, entre os meses de fevereiro e abril, período inicial do isolamento social.
Para a advogada Thaís Cremasco, a criação de códigos e meios para realização de denúncias indiretas é de extrema importância: “Uma mulher que está isolada com o agressor deve formar uma rede de apoio, criar códigos e se comunicar com vizinhas, colegas ou pessoas da família. Sabemos que a violência contra mulher não é um rio calmo, é um ciclo com altos e baixos, então é necessário aproveitar quando a mulher se sente forte para denunciar”.
Segundo a médica e psiquiatra Cláudia Facuri, com mestrado em Saúde Mental pela Unicamp, o isolamento social potencializou os gatilhos de violência e aproxima os agressores das vítimas.
“Em vários momentos nas famílias disfuncionais, as vítimas conseguem se distanciar do agressor quando eles saem de casa, há uma trégua, mas nesta fase de isolamento, ela passa a não mais existir e os gatilhos aumentam. Particularmente com a Covid-19, além do tempo de exposição, há o controle e o abuso financeiro.”
Cláudia Facuri afirma que entre os gatilhos para violência estão a crise financeira, a presença das crianças em casa, a tensão em relação ao desemprego, o estresse e o distanciamento das mulheres de suas redes de apoio. Além disso, a insegurança gerada pela pandemia, aumenta a insegurança das vítimas em denunciar e sair de seus lares abusivo.
“As políticas públicas e medidas de segurança são insuficientes, não temos um sistema legal que ofereça alternativas para essas pessoas. Em geral, as mulheres que saem de seus lares abusivos, voltam por não terem para onde ir ou como se sustentar. Já se faz mais do que se fazia no passado, mas estamos longe do ideal”, destaca da psiquiatra.
Apesar dos inúmeros fatores que dificultam a denúncia e a saída das mulheres de seus lares abusivo, o grupo “Mulheres pela Justiça” formado por advogadas, psicólogas, nutricionistas, dentistas e outras profissionais que acolhem mulheres vítimas teve aumento no número de buscas.
“Temos parceria com o CAISM, CEAMO e outras entidades para divulgação do nosso serviço gratuito e voluntário. Durante a quarentena houve uma busca grande, muito embora nós não estejamos fazendo os plantões presenciais, as mulheres têm buscado ajuda através do nosso Facebook e WhatsApp.”
A cidade de Campinas possui serviços municipais de apoio, como a Casa Abrigo da Mulher Sara M que oferece uma moradia transitória às vítimas, além de ONGs e projetos sociais.
“Quem estiver próximo a uma vítima de violência doméstica, deve fazer a denúncia através do 180 ou fazer o boletim de ocorrência, que estão sendo feitos online nesse momento, devido ao atendimento das delegacias da mulher estarem sendo focados em casos de flagrante”, completa a advogada Thaís Cremasco.
Orientação: Prof. Marcel Cheida
Edição: Laryssa Holanda
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