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Especialista alerta sobre os riscos desse distúrbio psíquico e ressalta a importância do diagnóstico clínico
Por: Lara Costa
A pandemia que marcou os dois últimos anos modificou a rotina de trabalho de muitos brasileiros, intensificando o formato de trabalho em home office, que foi muito comum entre profissionais de diversas áreas. Com o assédio moral e a pressão constante pela produtividade, comum desse sistema, o aumento do stress no ambiente de trabalho se intensificou, o que contribuiu para o crescimento de diversas estatísticas a respeito de doenças psíquicas, a principal delas, a Síndrome de Burnout.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no início de 2002, a síndrome de Burnout, foi incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID), como “síndrome conceitual resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso”. Ainda de acordo com a OMS, em 2019, cerca de 20 mil brasileiros solicitaram afastamento do trabalho por doenças mentais causadas pela pressão no ambiente profissional e, também, por conta das jornadas exaustivas de trabalho.

Heloisa Aparecida de Souza, psicóloga, especializada na área da saúde do trabalhador com foco na área da saúde mental relacionada ao trabalho, é professora e supervisora da área de Trabalho e Organizações da PUC-Campinas. Segundo ela, as relações de trabalho podem implicar no processo de subjetivação, identidade e saúde mental de cada indivíduo, visto que as pessoas tendem a organizar seu cotidiano em relação à própria ocupação, em busca da sensação de pertencimento social e autorrealização, desencadeando síndromes como o Burnout.
“Esse tipo de síndrome se agravou durante a pandemia, pois vivemos em um momento em que a produtividade no trabalho está sendo supervalorizada, fazendo com que algumas pessoas se sintam bem se entregarem o máximo possível. Criou-se a mentalidade de que precisamos ser viciados em trabalho e muitas vezes essa entrega acaba não respeitando as limitações do indivíduo”, afirma a especialista.
A psicóloga diz que o autoconhecimento, no sentido de cada indivíduo conhecer os seus limites pessoais, é um caminho importante para diagnosticar e prevenir a Síndrome de Burnout, mas que é preciso pensar nessa questão como um fenômeno organizacional e social. “A saúde mental relacionada ao trabalho apresenta-se como um sério problema de políticas públicas e precisa ser olhado com atenção. Não somos robôs. O Burnout é um processo, uma trajetória de grandes demandas e hiper exigências”, alerta Heloisa.
Como formas de tratamento, a especialista destaca a importância de buscar a ajuda de um profissional qualificado e desmistificar o preconceito existente quando se trata de saúde mental. “Ainda existe um tabu sobre saúde mental, como se a pessoa tivesse que se reconhecer fraca. Então é necessário quebrar esse tabu e procurar ajuda já no primeiro sinal de esgotamento, ansiedade generalizada ou quadro depressivo. Além de encontrar um psiquiatra ou psicólogo, que são os profissionais capacitados para dar o suporte necessário”, afirma Heloisa.
As redes de relacionamento também são muito importantes nesse processo de tratamento, principalmente na busca de reflexão que a terapia pode proporcionar. “Vivemos em uma sociedade muito individualista, a terapia é um processo de tomada de decisão, e importante para a recuperação das pessoas que já estão acometidas por um esgotamento, característico do burnout. Por isso, o indivíduo deve conversar com especialistas, para minimizar os efeitos e buscar um tratamento que seja de fato eficaz”, explica a especialista.

“Trabalhar a temática é uma forma de não naturalizar e denunciar que existem situações e exigências que vão além das condições e podem ter uma consequência muito negativa para quem trabalha. É importante não banalizar isso”, acrescenta Heloisa.

Bruna Said, Community Manager, de 29 anos, foi diagnosticada com Burnout após intensificar a rotina de trabalho. “Eu estava em uma rotina de trabalho muito intensa, trabalhava mais de doze horas por dia e nem parava para comer. Um dia, no meio do trabalho, eu comecei a hiperventilar e a chorar sem parar, minha pressão subiu e eu não conseguia controlar”, relatou. Após esse episódio, Bruna que já fazia tratamento psicológico, procurou ajuda de profissionais de saúde que confirmaram o diagnóstico. “A minha psiquiatra confirmou e reforçou meu tratamento com outros remédios mais fortes. Eu fiquei em choque porque sempre ouvi falar da síndrome, mas nunca achei que passaria por algo parecido”, contou.
Após receber o diagnóstico, a jovem deu início a um tratamento que envolveu medicamentos para controle da pressão arterial e terapia. “Eu tive que fazer um acompanhamento de pressão, porque minha pressão ficou alta por um tempo. Foi difícil, mas eu sabia que era importante. Hoje não tomo mais os medicamentos, mas continuo na terapia, porque esse autocuidado é constante e não pode parar nunca”, disse.
Hoje, Bruna reflete sobre a importância de se dedicar ao trabalho de maneira consciente, sem extrapolar os limites. “Depois que passei por isso, eu entendo que limite não é chegar no extremo ao ponto de pedir socorro. Limite é até onde eu posso chegar para não ter que pedir socorro. Aprendi a me cuidar mais, a me olhar mais e a entender que preciso estar bem e só eu posso fazer isso”, declarou.
Segundo um estudo produzido pelo Instituto de Psiquiatria da USP, realizado em 2021, o trabalho remoto gerou um aumento de até 65% da jornada profissional, sendo as mulheres as mais afetadas com a sobrecarga. De acordo com pesquisas realizadas pela International Stress Management Association (ISMA), a Síndrome de Burnout, desenvolvida em momento de trabalho remoto, foi responsável por 30% dos afastamentos de trabalhadores no país.
Com base nesses dados, é notório que o trabalho em home office impactou diretamente na saúde mental dos trabalhadores, principalmente no período de quarentena da pandemia de Covid-19. Entretanto, o aumento de casos de Burnout entre os profissionais de diversos segmentos é registrado desde 2018 quando, de acordo com a International Stress Management (ISMA), cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros já haviam apresentado crises de Burnout.
Orientação: Prof. Gilberto Roldão
Edição: Laura Nardi
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