Economia
Mesmo com a incerteza, ainda há esperança com o novo plano para o setor agrícola
Por: Fernanda Afonso Alves, Guilherme Dabori Volpon e Guilherme de Oliveira Tristão
A escalada do preço dos fertilizantes importados preocupa agricultores por todo o país. Segundo a Argus Media, empresa inglesa considerada como uma das maiores agências de preços do mundo, os valores dos fertilizantes registraram um aumento bastante expressivo por conta dos incidentes no leste europeu. O principal fertilizante utilizado nas culturas é feito de cloreto de potássio. Tal elemento possui taxa de importação de 90% no Brasil, sendo que metade provém da Rússia e Bielorrússia.
Com a repercussão do atual cenário dos fertilizantes em todo o mundo, a preocupação com a falta de insumos para o agronegócio brasileiro é motivo de alerta para os produtores. Isso porque o fertilizante é essencial para a compensação do solo, através de vitaminas, nutrientes e produtos afins.
O diretor executivo da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) e executivo sênior e economista pela holding do Grupo Bunge no Brasil, Ricardo Tortorella, explica a importância dos fertilizantes para o agronegócio e diferencia o que muitas pessoas confundem quando falamos sobre os insumos utilizados: “entenda fertilizante como o alimento da planta. Muita gente confunde com defensivos que são os tóxicos (agrotóxicos). Os defensivos são remédios da planta, já os fertilizantes são saudáveis, o que é bom para a planta, é a parte que podemos comer sem medo de ser feliz”.
Tortorella relata que nos últimos 30 anos houve um aumento no uso de fertilizantes e a produção nacional não cresceu conforme essa demanda. “Importamos os insumos básicos do fertilizante, ou seja, nos últimos 30 anos dependemos cada vez mais do exterior para buscar esses insumos principais, que chamamos de NPK: Nitrato, Fosfato e Potássio. Esses três são os componentes mais importantes na produção dos fertilizantes que o solo precisa”, disse.
De acordo com ele, o Brasil produz na média 15% desses insumos, já os outros 85% é preciso buscar fora do Brasil. Ele ressalta que as crises anteriores, como pandemia e a crise da queda do Produto Interno Bruto (PIB) nacional geraram uma demanda mundial maior que a oferta, deixando esses insumos mais caros.
“Não é só a guerra da Rússia, mas também as outras crises como a da pandemia, da energia, da falta de petróleo e a recessão internacional. O mundo parou e as economias sofreram com isso tudo”, disse Tortorella.
A guerra entre Rússia e Ucrânia afeta diretamente o agronegócio no Brasil pelas sanções de mercado impostas a Moscou. “O problema são as sanções impostas para a Rússia, pois até onde se sabe o país não parou, os russos estão ganhando seus salários, estão trabalhando diariamente e estão produzindo. Então o fertilizante está lá e está sendo produzido normalmente. Existe só um problema temporário, enquanto está em guerra, fica difícil atracar navios e trazer esse produto para o Brasil, portanto, o grande perigo está nas sanções, pois caso haja um pacto de não comprar mais nada da Rússia, precisaríamos procurar outros fornecedores, o que acarretaria preços mais altos”, afirma Ricardo.
Um dos problemas mais antigos com relação aos insumos de fertilizante é com uma das aliadas da Rússia, a Bielorrússia. Esse governo é extremamente autoritário e desrespeita os direitos humanos. O país já vinha acumulando sanções de países do Ocidente, e por se tratar de um dos principais fornecedores do Brasil, o agronegócio sofreu com o aumento do preço desses insumos.
Plano nacional
Uma solução encontrada pelo Governo Federal foi o Plano Nacional de Fertilizantes. Ele propõe um diagnóstico da porcentagem do uso de fertilizantes no Brasil e traça metas ousadas para reduzir o custo com importação até 2050. “Hoje nós estamos longe do equilíbrio. A gente depende muito do exterior e pouco do Brasil. O plano nacional de fertilizantes vem nessa diretriz correta para buscar uma dependência menor do exterior”, afirmou Tortorella.
Marcelo Alvim Soares, formado em medicina veterinária, deixou a sua formação de lado para cuidar das fazendas da família e conta que uma das propriedades, localizada no município de Tabaporã (MG), conta com 6 mil hectares de soja e milho, que já viram seus lucros serem minimizados desde que a guerra começou.
O veterinário conta que como suas plantações são commodities e o mercado externo controla o preço. Por isso, não podem aumentar o valor do seu produto. “Gasta-se mais na produção e, na hora da venda, o preço é praticamente o mesmo. Por sorte de clima e demanda, os preços de soja e milho ainda estão bons, mas se essa alta dos fertilizantes continuar e com a tendência de baixa das commoditiesagrícolas, vai ficar bem difícil o plantio. Além disso, aqui no Mato Grosso, alguns lugares já não tem mais estoque e por isso demoram para realizar as entregas, o que dificulta o planejamento para a próxima safra”, afirmou o produtor rural. Essa demora para o recebimento dos fertilizantes é devido ao fechamento do Mar Negro para frotas militares, assim, o que era o caminho mais perto, tornou-se inviável e o custo da viagem aumentou.
Para finalizar, Marcelo ainda diz que mesmo que o preço aumente, não poderão parar de plantar. “A grosso modo, o solo não pode ficar sem plantar senão ele ‘estraga’ e o nosso prejuízo fica ainda maior. Então, mesmo que o preço continue aumentando, é melhor lucrar menos do que perder o solo e ter que fazer toda a sua preparação novamente”, destacou.
Orientação e edição: Prof. Artur Araujo
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