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Segundo especialista, somente no ensino presencial existem as ferramentas de interação social entre os alunos
Por Caroline Adrielli
Os cursos de ensino superior a distância (EAD) no Brasil receberam mais matrículas do que os presenciais em 2020, tanto na rede pública quanto na privada. Os dados fazem parte do Censo da Educação Superior 2020, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Apesar da praticidade e potencial de alcance dessa modalidade, interações sociais que só existem no ensino presencial não são substituídas.
Dentre os mais de 3,7 milhões de ingressantes de 2020 em instituições públicas e privadas, mais de 2 milhões (53,4%) optaram por cursos a distância e 1,7 milhão (46,6%), pelos presenciais. Essa é a primeira vez que o país registra maior preferência pelo EAD, modalidade em que as aulas não acontecem ao vivo, portanto, não é necessário estar online em determinados horários.
Foi essa flexibilidade que fez com que Sofia Portella, de 19 anos, ingressasse no ensino a distância para conquistar seu segundo diploma. “Optei pelo EAD pela praticidade. Tive apenas três semanas de aula presencial em 2020 e essa rotina não era nada prática, principalmente quando se tem que lidar também com as tarefas domésticas”, afirma.
Sofia é formada em Comércio Exterior e mora sozinha. Para ela, o ensino a distância permitiu estudar Relações Internacionais e conciliar a rotina de trabalho, estudos e tarefas domésticas. “Estudando a distância consigo descansar bem mais, porque posso estudar na hora em que sinto vontade, mas sempre respeitando as datas limites da faculdade. Essa é uma liberdade que senti muita falta quando estudava no modelo presencial”, completa.
Interação – Apesar da flexibilidade, a estudante relata que sente falta das interações sociais e da sensação de que pertence a uma turma, um grupo de pessoas com interesses em comum. “Ter alguém do seu lado na faculdade faz toda a diferença, não só para trabalhos em grupo, mas para socializar também. Além disso, no ensino a distância não tenho uma turma onde todos se conhecem, sinto falta dessa sensação de pertencimento”, ressalta Sofia.
Segundo Juleusa Maria Theodoro Turra, diretora-adjunta do Centro de Linguagem e Comunicação (CLC) da PUC-Campinas e especialista em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP), somente o ensino presencial é capaz de abrir o caminho para as ferramentas de interação. “O ensino presencial ainda é a base da socialização, desde as crianças até os adultos. É nesse momento que se começa a ter relações além daquelas que se tem dentro do núcleo familiar e com pessoas da mesma idade. Ao conviver com a mesma faixa etária, é possível identificar as desigualdades e diferenças, e isso abre a possibilidade da cidadania e de uma presença individual que só é vivenciada quando se passa pela escola presencial”, explica.
Segundo a professora, quando se está na universidade, a cultura das gerações também é bastante presente. Existem os rituais de colação de grau por exemplo, onde as pessoas sentem orgulho de fazer parte de determinada turma. É a partir da convivência que as pessoas passam a se conhecer e promover eventos como esses, o que significa entender seu local no mundo. “Isso é o verdadeiro networking (rede de contatos), muito mais do que Instagram, Twitter ou Facebook”, completa.
O estudante de enfermagem Gustavo de Andrade Nunes, de 20 anos, experienciou o ensino remoto durante a pandemia enquanto se preparava para o vestibular e acabou se acostumando, mas ainda assim optou pelo ensino presencial para cursar o bacharelado. “Quando estudei a distância sentia muita falta da interação entre o aluno e o professor, principalmente para tirar dúvidas”, conta. “Além disso, não acredito que seja possível cursar enfermagem no EAD, pois é um curso que exige a experiência laboratorial, e o online não entregaria esse tipo de vivência para o currículo”, completa.
Mesmo com as interações sociais prejudicadas, a professora Juleusa ressalta que o ensino à distância também funciona como um facilitador em alguns cenários. “Nem todos os serviços conseguem estar em todos os lugares, muitos vão estar somente nas grandes cidades, e nós vamos ter diferenças. A educação à distância é uma possibilidade para diminuir essas diferenças. No passado essa modalidade já foi realizada por cartas. Isso já existia, e agora possui um formato muito mais rápido e disseminado, pois é possível estudar através dos computadores e celulares”, destaca.
Facilidade – Em um país, como o Brasil, em que há uma oposição entre os centros urbanos e as zonas rurais, o ensino à distância é considerado essencial pela professora Juleusa, por funcionar como agente facilitador também nas questões de mobilidade.
Devido a flexibilidade, o método de estudo do ensino à distância é definido totalmente pelo estudante. A estudante Sofia Portella lembra que escolhe os horários e quanto tempo vai estudar.
Orientação: Profa. Rose Bars
Edição: Oscar Nucci
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