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Data comemorativa traz alerta sobre cultura da dieta

No Dia da Saúde e da Nutrição, os especialistas apontam os riscos dos modismos alimentares

Por: Paloma Ruiz

31 de março é considerado o Dia da Saúde e da Nutrição e um assunto que traz preocupações para profissionais da área nesta data comemorativa é a busca pelo corpo perfeito, que pode levar as pessoas a se tornarem vítimas dos mitos nutricionais e das dietas enganosas que circulam, principalmente pela internet. Uma das facetas da cultura da dieta é o terrorismo alimentar. O termo que ganhou força nas redes sociais nos últimos meses se refere à demonização de determinados alimentos que fazem parte do cardápio do brasileiro. Assim, o arroz, o feijão, o pão e derivados da farinha de trigo ganham status de vilões e ficam marcados como alimentos que ‘engordam” e, logo, não devem ser consumidos.

Aline Monteiro, nutricionista especializada em transtornos alimentares e mestre em Alimentos, Nutrição e saúde pela Universidade Federal da Bahia (Foto: Arquivo pessoal)

Para a Aline Monteiro, nutricionista especializada em transtornos alimentares, vivemos hoje o que pode ser denominado como cultura da dieta, que dita um conjunto de regras que se deve seguir para controlar o peso e chegar no corpo ideal, mas isso não passa de um mito espalhado pelas redes sociais. “Não existe alimento que tenha poder de engordar ou emagrecer de maneira isolada”, explica Monteiro.

Eliane Fonseca, de 36 anos, luta contra a balança desde os 22 anos (Foto: Arquivo pessoal)

Uma das vítimas dessa cultura foi Eliane Fonseca, contadora e dona de casa, de 36 anos. Ela revela que devido à pressão sofrida na adolescência para estar com o corpo dito como o ideal, acabou recorrendo a dietas extremamente restritivas com todos os alimentos tidos como vilões sendo cortados das refeições. Na busca por uma rápida perda de peso, a contadora revela que já passou por períodos se alimentando apenas com ovo, sopas e saladas. Ao longo dos 14 anos em que lutou contra a balança, Fonseca afirma tentou vários tipos de dietas super regradas. Como resultado, Eliane perdia peso, mas depois de algum tempo não conseguia manter a dieta e voltava a engordar.

Eliane não é uma exceção, conforme dados de 2020 da Organização Mundial de Saúde,  4,7% dos adultos brasileiros sofrem com algum distúrbio alimentar. E em buscas pelo Google é possível notar que um dos primeiros resultados para arroz e feijão na guia de pesquisa é: “arroz e feijão engorda”.

Mariana Escanho, nutricionista especializada em Nutrição Esportiva e em Educação, Desenvolvimento e Comportamento Alimentar (Foto: Arquivo pessoal)

De acordo com Mariana Escanho, nutricionista especializada em educação, desenvolvimento e comportamento alimentar, ao negligenciar a própria fome em prol de dietas inadequadas, o organismo da pessoa pode entrar em desordem uma vez que a quantidade e a qualidade do que é ingerido não atendem as necessidades do corpo e isso pode gerar um processo estressante que pode vir a desencadear um quadro de transtorno alimentar como o da compulsão alimentar. Além das dietas restritivas acarretarem em problemas de saúde, os resultados obtidos por meio delas não são duradouros. Para Escanho, a busca por resultados imediatos é o principal fator que leva as pessoas a aderirem aos modismos alimentares, porém o resultado não é permanente haja vista que os períodos de privação estimulam o movimento “oito ou oitenta” na alimentação que leva ao “efeito sanfona”.

Palloma Cabral embarcou nas dietas restritivas após ganhar peso na segunda gestação (Foto: Arquivo pessoal)

Ansiosa por uma perda rápida de peso, Palloma Cabral, de 33 anos, foi mais uma das vítimas das dietas restritivas. A empresária buscava perder os quilos ganhos depois da gestação do segundo filho e para isso recorreu a uma alimentação extremamente regrada, que só permitia salada, frutas, frango e os famosos alimentos lights. Em uma das suas experiências com as dietas detox, que consiste em jejum seguido da ingestão de frutas, vegetais e leguminosas, Palloma perdeu 2 kg em um dia. Como resultado dos períodos de privação, ela sofria com dores de cabeça e chegou a desmaiar de fome. Mas, após a perda de peso, a empresária voltava a comer compulsivamente e retornava ao peso anterior.

Fernanda Alves, nutricionista com mestrado em Nutrição em Saúde Pública (Foto: Arquivo pessoal)

De acordo com Fernanda Alves, nutricionista e mestre em nutrição em saúde pública, o terrorismo alimentar criado entorno de algumas comidas se dá pelo nutricionismo, que é quando o alimento é reduzido a nutrientes e assim eles são classificados e dicotomizados entre bons e ruins. Ainda segundo a nutricionista essa forma de classificação não considera aspectos importantes da alimentação como o fato do comer também ser uma prática social e afetiva. Assim, essa forma de pensar termina por promover a desinformação e os mitos nutricionais.

Hoje, depois de se libertar desse ciclo vicioso de emagrecimento e buscar ajuda especializada, Palloma Cabral busca ajudar quem quer emagrecer com saúde, através de um projeto fit que está desenvolvendo em parceria com a sua nutricionista. Segundo Cabral, o principal objetivo do projeto é ajudar pessoas a não se tornarem vítimas dos mitos nutricionais propagados pelas redes sociais, assim como ela e Eliane foram um dia.

Áudio 1 – Eliane Fonseca e o início das dietas restritivas –  https://soundcloud.com/paloma-pereira-ruiz/audio-eliane-m4a?utm_source=clipboard&utm_medium=text&utm_campaign=social_sharing

Áudio 2 – Palloma Cabral comenta o que a levou a procurar pelas dietas restritivas  –  https://soundcloud.com/paloma-pereira-ruiz/audio-palloma-cabral-m4a?utm_source=clipboard&utm_medium=text&utm_campaign=social_sharing

Orientação e edição: Prof. Gilberto Roldão


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