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Bruno Madeira é Bacharel, Mestre e Doutor em música pela Unicamp
Por Gabriela Tiburcio
O violonista catarinense Bruno Madeira ficou em terceiro lugar no The International Classical Guitar 2 in 1 Online Competition da Finlândia, no último dia 01. O prêmio foi o 17° conquistado pelo artista, entre concursos nacionais e internacionais. Bruno Madeira é Bacharel, Mestre e Doutor em Música pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), intérprete solista, pesquisador e professor de violão dos cursos de Bacharelado e Licenciatura em Música na Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC).
O International Classical Guitar 2 in 1 Online Competition é uma parceria entre o Tampere Guitar Festival, da Finlândia, e o Petrer Guitar Festival, da Espanha. O concurso contava com três fases, além de uma rodada de bolsas, cujo objetivo era oferecer bolsas de estudos a profissionais de todo o mundo que sofrem com problemas financeiros.
Portal Digitais: Quando você começou a tocar violão?
Bruno Madeira: O violão foi com doze anos, mas eu comecei a estudar música ainda criança, com uns seis anos. Na verdade, iniciei com o teclado. Depois ainda passei por uma época de trompete antes de achar o instrumento que combinou melhor comigo. Na minha família a música sempre acompanhou o cotidiano, mas alguns momentos especialmente marcantes foram encontros nas férias, quando nos reuníamos com primos e tios de outras cidades e fazíamos música.
PD: O profissional da música nem sempre é valorizado no Brasil. Como você percebeu que valia a pena investir na carreira e, mais especificamente, no violão?
Bruno: Com uns quatorze anos de idade eu comecei a dar algumas aulas particulares e logo depois fui professor de uma escola de música, o que já me mostrou desde cedo que era uma profissão que eu poderia seguir. O exemplo do meu primo, Eduardo Fiorussi, também foi bem importante na época do vestibular, quando eu ainda não tinha certeza se faria música. O Edu foi o primeiro músico da família a ter a formação superior em música, e o fato de ele ter estudado na Unicamp acabou me levando para estudar lá também. São vários pequenos passos, conversas e experiências que se somam e me fizeram acreditar que seria uma carreira possível.
PD: Qual estilo de música você mais gosta de tocar?
Bruno: Quando eu comecei a aprender violão, brincava na saudosa Banda Nuclear, que eu tinha em casa com meus irmãos Tiago e Lucas. A gente se divertia tocando Legião Urbana, Capital Inicial, Paralamas do Sucesso… Paralelamente, foram me cativando outros sons, que eu gosto de ouvir e tocar, também em família, até hoje, como Tom Jobim, Chico Buarque, Pixinguinha, Jacob do Bandolim, além de violonistas como Guinga, Marco Pereira, Dilermando Reis, entre muitos outros. Mas, hoje em dia, meu maior foco de interesse e de trabalho é no repertório de violão solo, que pode ser chamado de violão de concerto ou violão clássico também. Adoro tocar Villa-Lobos, Bach, Brouwer e Giuliani.
PD: Qual mensagem você tenta passar através da música que você toca?
Bruno: São muitas, porque cada música expressa algo diferente. A minha arte como intérprete está entre compreender o que os compositores deixaram escrito nas partituras e transmitir essas sensações, ideias e emoções aos ouvintes. Do ponto de vista mais prático, é tentar encontrar o timbre, dinâmica, articulação, acentuação e outras particularidades do som que sejam mais adequadas para caracterizar essas sensações. Uma partitura de uma música é como se fosse um script de cinema. O conteúdo está ali de uma forma quase impessoal, então é preciso que um bom intérprete entenda as minúcias, traduza a escrita para som e adicione um pouco da sua personalidade para que esse conteúdo chegue ao público da melhor forma.
PD: Qual a maior dificuldade do profissional de música no Brasil?
Bruno: Acredito que tem muitas dificuldades parecidas com a de outros profissionais, como a falta de estabilidade nos contratos de trabalho, desvalorização e “pejotização”. Mas se somam a esses pontos alguns preconceitos como os de que músico não trabalha, ou que deve trabalhar com alguma outra coisa, ou de que a simples divulgação ou exposição de um trabalho é o próprio pagamento.
PD: Como você avalia os cortes de verba do Governo Federal para a área da cultura em 2021?
Bruno: A gestão da arte e cultura no Brasil me assusta a cada dia que passa. A extinção do Ministério da Cultura, já em janeiro de 2019, apontava para o rumo que iria ser tomado, com a transformação para Secretaria Especial da Cultura, subordinada ao Ministério da Cidadania e posteriormente do Turismo. Houve uma sucessiva troca de pessoas desqualificadas para a gestão, que passam por simpatizantes de discursos nazistas, fundamentalistas religiosos e apologistas da ditadura militar, tudo permeado por constante ataques aos profissionais das artes. Os cortes de gastos sufocam a classe artística e o acesso da população à arte e cultura, além de atingirem importantes instituições que preservam o patrimônio cultural do país, que passam a correr o risco de tragédias, como o incêndio da Cinemateca Brasileira, em julho desse ano.
PD: A arte, muitas vezes, é vista como uma forma de escape da realidade. Você sente que o profissional de música foi mais valorizado na pandemia?
Bruno: A pandemia dificultou e muitas vezes impediu o contato das pessoas com as artes. Percebo, sim, uma valorização da experiência artística, ainda não necessariamente do profissional, tanto no início da pandemia, nos refúgios em filmes, séries, livros e música, quanto agora nessa progressiva retomada, com a vontade, alegria e emoção das pessoas de poderem participar novamente de espetáculos.
PD: Qual conselho você daria para alguém que pretende investir na carreira da música?
Bruno: Não é uma decisão fácil, então se prepare para enfrentar vários obstáculos. Considere sua relação com a música. Ela tem que significar muito para você, tem que ser uma parte importante da sua vida. Ter começado a estudar quando criança ajuda bastante, apesar de não ser estritamente necessário. Recomendo fortemente procurar um bom professor, depois possivelmente um curso superior e sempre conversar com pessoas com mais experiência, tanto na vida profissional quanto acadêmica, para que você conheça alguns dos perfis profissionais, que são muitos. Esteja preparado para mergulhar de cabeça. A carreira tem muitas dificuldades, mas também é muito bonita.
PD: O que o público pode esperar da sua carreira no futuro? Vem novidade por aí?
Bruno: Estou na etapa final de produção do meu primeiro álbum, dedicado à música latino-americana para violão solo. Conto com a ajuda de grandes profissionais como Henrique Caldas (produção musical e edição), Ricardo Marui (mixagem e masterização), Felipe Rinke (engenheiro de som) e Daniel Cornejo (produção executiva). O lançamento deve acontecer nas plataformas digitais no começo de 2022. No repertório tem obras de Leo Brouwer, Manuel Ponce, Carlos Rafael Rivera e Maria Ignez Cruz Mello. Além disso, tenho em vista alguns concertos, agora que parece que a pandemia está se encaminhando para um fim.
Para assistir à apresentação de Bruno no concurso, clique aqui.
Orientação: Prof. Gilberto Roldão
Edição: Gabriela Tiburcio
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