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Francisco Foot Hardman e Celso Favaretto debatem Semana de 22, na véspera de seu centenário
Por: Laura Nardi
Em seminário virtual que dá início à celebração do centenário da Semana de Arte Moderna, de 1922, e do bicentenário da Independência do Brasil, promovido nesta quarta-feira (29) pelo Sesc-São Paulo, o professor Francisco Foot Hardman, da Unicamp, associou o legado dos modernistas ao tempo presente vivido pelo país. “Diante desse cenário de barbárie e caos, nossos melhores mestres modernistas podem nos guiar, dando sugestões nesse combate inadiável”, disse o pesquisador de história literária reportando-se ao clima de confronto e desacertos patrocinado pelo governo federal.
Fazendo menção à decisão que, por unanimidade, levou o Conselho Universitário da Unicamp a revogar o título de dr. honoris causa atribuído ao ex-ministro da Educação Jarbas Passarinho, em 1973, nos anos de chumbo da ditadura militar, Hardman celebrou o que chamou de reparação histórica. “Esta terça-feira (28) foi um dia importante na história da universidade pública brasileira, sobretudo para a Unicamp”, disse referindo-se à cassação póstuma da honraria concedida ao ex-coronel do Exército.
Hardman também se referiu ao incêndio provocado na estátua do Borba Gato, no bairro de Santo Amaro, em São Paulo, em julho deste ano, para exemplificar como os levantes modernistas estariam presentes na contemporaneidade. O ataque foi justificado pelo papel que o bandeirante desempenhou na caça e escravidão de indígenas e negros. O professor explicou que a relação dos dois episódios com o pensamento modernista pode ser estabelecida na ruptura com símbolos de um passado tradicionalista e colonial ou ditatorial, “que já não cabe mais na esfera social contemporânea”.
De maneira análoga, o pesquisador e professor de pós-graduação em Filosofia e Educação, da USP, Celso Favaretto, reforçou os argumentos de Hardman. “O modernismo foi o primeiro esforço para construir o Brasil moderno. Entretanto, sabemos que o movimento não está situado no passado cronológico. Ele é contemporâneo ao dever histórico, e não cessa de nele operar”, avaliou.
Para Favaretto, a herança do modernismo pode ser observada no tropicalismo, movimento musical nascido durante o regime militar brasileiro. O período ditatorial teria despertado nos artistas – segundo explicou o conferencista – uma determinada consciência política sobre suas produções. Eles as usavam para realizar seus protestos contra a realidade em que viviam, trazendo tanto novas discussões políticas e estéticas como resgatando debates e abordagens artísticas que inspiraram a Semana de 22. Perseguições e censuras promovidas pelos governantes de então não teriam sido suficientes para impedir debates políticos importantes e produzir leituras críticas sobre a realidade brasileira, por meio das suas múltiplas formas de expressão, sendo a música a mais popular.
Francisco Foot Hardman criticou o governo de Jair Bolsonaro, ao qual se referiu como “desgoverno”. “Nós estamos diante de forças que são contra a arte, a cultura, a educação, a ciência e a universidade. Os levantes modernistas agora têm que tomar frente neste combate, dado ao contexto de urgência e relevância”, afirmou. “O mote para agir nos anos 70 foi o abaixo a ditadura, e agora é o fora Bolsonaro”, completou.
O seminário organizado pelo Sesc-SP leva o título de “Diversos 22: Levantes Modernistas”, e faz parte da série “Projetos, Memórias, Conexões’. Segundo informa o portal da instituição, “a ideia é pensar o significado da Semana no século de seu centenário, na abordagem das comemorações e críticas feitas a ela ao longo desses anos”. O evento se estenderá ao longo dos próximos meses desse ano e de todo ano de 2022, com outros seminários, cursos, festivais e exposições on-line e presenciais na capital, interior e litoral do estado de São Paulo.
Aqui, acesso ao seminário “Diversos 22: Levantes Modernistas”, do Sesc São Paulo.
Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti
Edição: Fernanda Almeida
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