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Em palestra, psicanalista defende mais diálogo na relação com as crianças
Por Mariana de Castro
“Até que ponto as crianças de hoje são diferentes das de antes?” – esse foi o tema mais um episódio do programa Café Filosófico, transmitido no último domingo (30) através do canal CPFL Cultura, no YouTube. Leandro de Lajonquière, psicanalista, autor argentino, e doutor em educação pela UNICAMP, abordou a infância contemporânea e a forma como se diferencia ao longo da história.

Leandro de Lajonquière: “Crescer significa vir a conquistar um lugar em um mundo que já é velho” (Foto: Café Filosófico)
“Quando eu recebi o convite, me veio rapidamente este título, que é uma pergunta: até que ponto as crianças são diferentes das de antes? De fato, já é uma afirmação; nós partimos do pressuposto de que sim, as crianças de hoje são diferentes das de antes. A nossa dúvida é: até que ponto?”, iniciou o psicanalista. Lajonquière afirma que as crianças de hoje são mais inteligentes, visto que estão expostas a tecnologias de formas que, anteriormente, não existiam em outras gerações. O psicanalista ainda ressaltou que, atualmente, as crianças teriam uma infância mais curta, ou seja, o período até a fase adulta — chamado por Lajonquière de “A Quarentena” — estaria diminuindo gradualmente ao longo dos anos.
Apoiando seu discurso em estudos de demais autores, como, Neil Postman, Sigmund Freud e o historiador Philippe Ariès, Leandro de Lajonquière aponta que o próprio conceito de infância é histórica e socialmente moldado, tendo sido alterado por diversas vezes ao longo dos séculos. “Isso que nós entendemos por infância levou mais ou menos 400 ou 500 anos para ser construído paulatinamente. A vida cotidiana, junto às crianças, muda nos pequenos detalhes, até que se precipita entre o final do século 19 e início do século 20, o que Philippe Ariès chama de “sentimento moderno de infância”, comenta.
Para ele, o sentimento moderno da infância corresponde, sobretudo, a uma diferença inerente entre o ser criança e o ser adulto. Ao longo dos anos, as crianças foram tratadas como frágeis, devendo ser protegidas do mundo adulto (violência, sexo, política); crescer, portanto, era visto como uma forma de ganhar poder sobre este mundo até então desconhecido. Lajonquière acredita que, a posição do adulto atual para com a criança, muitas vezes, é de cansaço, omissão e confronto: “Há um certo mal entendido entre as gerações. Por isso costumo dizer que todo encontro com uma criança é um encontro desencontrado”.
Lanjonquière diz que o contato do adulto contemporâneo com a criança pode ser definido através de três arquétipos, os quais ele chama de “figuras do infantil”, sendo elas: o estrangeiro, o selvagem e o extraterrestre — o estrangeiro corresponde a tratar a criança como um ser, ainda que diferente, apto a se tornar um familiar, um igual. O selvagem, por sua vez, reflete uma forma desigual de tratamento, na qual a criança é colocada como um ser oposto, incapaz de dialogar. O extraterrestre, por fim, e em contrapartida ao selvagem, impõe a criança como mais capaz. No entanto, este comportamento também contraria a possibilidade de qualquer tipo de contato com ela.
A palestra de Leandro de Lajonquière, enfim, revela seu cerne: atualmente acredita-se que a infância tenha mudado porque, antes de tudo, a criança não é, de fato, reconhecida como igual; para existir ensino, diz Lajonquière, é necessário, primeiramente, que exista diálogo. “Crescer não é simplesmente ganhar peso e um pouco de músculos. Crescer significa vir a conquistar um lugar no mundo em um mundo que já é velho”, encerra.
Orientação: Profa. Amanda Artioli
Edição: Leonardo Fernandes
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