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Lorenzo Tugnoli retrata vida em regiões de conflito

Fotógrafo ganhador do World Press Photo 2021 cedeu entrevista a alunos da PUC-Campinas sobre carreira na área                                                                                                                       

Em entrevista realizada para a disciplina de Fotojornalismo, Tugnoli apontou os principais desafios de seu trabalho (Foto: Plataforma Zoom)

 

Entrevista realizada em conjunto por Allane Moraes, Frederico Vieira, Gabriela Souza, Gustavo Costa, Luiz Oliveira e Maria Eduarda Abrantes

O fotojornalista italiano Lorenzo Tugnoli, que ganhou no último dia 15 de abril o prêmio World Press Photo na categoria “Notícias Locais”, cedeu entrevista a alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas. Tugnoli contou sobre sua carreira como fotógrafo, abordou os problemas que enfrenta no trabalho, e reforçou a responsabilidade do jornalista nas áreas de conflito.

Cobrindo a crise no Oriente Médio, Tugnoli explora as consequências humanitárias das guerras na região. O fotojornalista trabalha para o jornal americano Washington Post e chegou a registrar de perto a explosão ocorrida no ano passado no porto de Beirute, capital do Líbano, onde mora desde 2015.

Foto ganhadora do World Press Photo 2021, da explosão no porto de Beirute, em agosto do ano passado (Foto: Lorenzo Tugnoli)

O World Press Photo é o maior e mais prestigioso prêmio de fotojornalismo mundial, sendo uma organização independente e sem fins lucrativos. Foi fundado em 1955, em Amsterdã, na Holanda, e possui diversas categorias, reunindo fotógrafos do mundo todo. Após a cerimonia de premiação, as fotos vencedoras são reunidas em uma exposição itinerária, visitando mais de 40 países.

Lorenzo Tugnoli é um importante nome para a fotografia e para o jornalismo, tendo trabalhado ainda no Iêmen, no Afeganistão, no Iraque, na Síria e na Líbia. Em 2019, Tugnoli ganhou o prêmio Pulitzer, e por três anos consecutivos o World Press Photo.

 

Digitais: Por que se interessou pelo fotojornalismo?

Lorenzo Tugnoli: Eu comecei a tirar fotos quando eu estava na universidade. Havia várias exposições de fotos na época, mas uma das maiores era sobre a invasão de 2004 dos Estados Unidos ao Iraque. Eu era um militante, então comecei a utilizar a câmera como um jeito de estar lá. A partir desse jeito politizado de pensar a fotografia, eu me interessei pelo jornalismo. Comecei a viajar e fui sortudo o suficiente por conhecer vários fotógrafos. Na verdade, eles me ajudaram a olhar para as imagens e guiar minha carreira.

 

Digitais: Por que você decidiu focar nas regiões de conflito?

Tugnoli: Eu cresci olhando para imagens de Beirute e a guerra que havia lá. Era uma coisa que sempre esteve diante dos meus olhos. Por isso, eu decidi ver como era aquilo pessoalmente. Além disso, a Itália não é tão longe, e o Líbano é um desses lugares, como Palestina e Israel, que são seguros para viajar. É um lugar para onde os novos fotojornalistas que estão interessados na área costumam ir. Então, o meu amor pela região começou, e ainda está aqui, porque eu moro em Beirute, junto de minha esposa, que é libanesa.

 

Lorenzo Tugnoli prefere utilizar câmeras menores no trabalho fotográfico, para não intimidar a população (Foto: Lorenzo Tugnoli)

Digitais: Você já ouviu que o seu trabalho não estava ajudando na solução dos problemas da região?

Tugnoli: Como fotojornalista, você frequentemente viaja para lugares que estão passando por crises, e conhece pessoas que são vítimas da guerra. Então, sim, às vezes você ouve isso. As pessoas na Líbia sempre tiveram essa percepção negativa de fotógrafos e de jornalistas. Porque os profissionais de lá não estavam trabalhando para uma imprensa livre, mas sim para uma produtora de propagandas de um regime. Por isso, é muito difícil comunicar para as pessoas, que, na realidade, você está ali para mostrar a verdade sobre o que acontece com elas. Mas esse é só um aspecto da experiência como fotojornalista. Também acontece frequentemente de eu ser bem-vindo em situações muito difíceis, como funerais, porque as pessoas queriam que a história delas fosse conhecida.

 

Digitais: Como você lida com o confronto armado, a fome e as doenças nessas regiões?

Tugnoli: Eu acho que é importante, como fotógrafo e jornalista, você se lembrar da sua posição de privilégio e de poder. Porque você é ocidental, tem mais dinheiro e um passaporte que te permite sair quando você quiser. É algo que os jornalistas precisam lembrar quando escrevem sobre as pessoas e a situação delas. Não são muitos os jornalistas que estiveram lá. Então, você tem a responsabilidade de contar a história do que está acontecendo no país, e tem que se lembrar disso. Algumas vezes, você vai ser a única pessoa que vai contar que a situação estava desabando.

 

Digitais: Qual mensagem você tenta passar através de suas fotos?

Tugnoli: Eu nunca pensei em passar uma mensagem, mas sim um questionamento. A fotografia nunca vai te dar uma resposta, porque ela sozinha, sem um texto, não te dá o contexto da história toda. Isso pode ser um problema, mas também pode ser uma vantagem. Porque, com a fotografia, você pode convidar as pessoas a imaginar o que está acontecendo no cenário. Eu sempre penso que, se eu faço meu trabalho direito, eu convido as pessoas a se questionarem mais sobre aquele lugar.

 

“Gosto desta foto, pois ela mostra a beleza das pessoas mesmo em uma situação difícil”, diz Tugnoli (Foto: Lorenzo Tugnoli)

Digitais: Das fotos que você já tirou, qual te marcou mais?

Tugnoli: Há fotos que são importantes, porque elas me mostram momentos diferentes da minha carreira. Por exemplo, tem uma foto que eu tirei no Iêmen. Eu gosto dela porque não é uma imagem que está tentando te dar um soco no rosto e mostrar como a vida daquelas pessoas são ruins. É uma imagem que vem mais gentilmente. Esse é o motivo para eu gostar dessa foto.

 

Digitais: Que conselho você daria para os alunos que pretendem ser fotojornalistas?

Tugnoli: Olhando para a minha carreira e para o jeito que eu estive aprendendo, meu conselho é: tente tirar muitas fotos. É um trabalho difícil de se aprender na escola. A minha sugestão é que você tente passar bastante tempo atrás da câmera e bastante tempo olhando as suas fotos e as fotos dos profissionais, em um momento de reflexão. É assim que as pessoas podem aperfeiçoar seus trabalhos.

 

Acesse AQUI para assistir a entrevista na íntegra

 

Entrevista para a disciplina de Fotojornalismo

Orientação: Prof° Dr° Celso Bodstein

Edição: Luiz Oliveira 

 


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