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Isolamento modificou as relações familiares; especialista orienta que pais mantenham tratamento dos filhos
A fonoaudióloga Sandra Lazzari faz um atendimento remoto (Fotografia: Rafael Smaira)
Por: Andrey Gustavo e Rafael Lazzari Smaira
A pandemia do novo coronavírus e o consequente isolamento social vivido nos últimos meses como o novo normal mudaram o modo de vida de muitas famílias. Com as rotinas alteradas, os pais tiveram que conciliar o trabalho remoto com os cuidados dos filhos. A situação se agrava ainda mais para famílias que têm crianças com necessidades especiais, como é o caso da dentista Adriana Pieri, de 40 anos, mãe de dois meninos gêmeos de seis anos. Um deles tem Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Moradora de Campinas, Adriana conta que o desafio inicial foi explicar às crianças a situação da pandemia. Ela relata que os filhos não compreendiam o motivo de terem suas rotinas alteradas, como deixar de ir à escola e passear com a família. “A dificuldade foi maior foi com meu filho que tem TEA. Precisei explicar tudo o que estava acontecendo para que ele entendesse a situação”, conta. Mas não foi tão fácil assim. “No começo, quando ele olhava (pela janela) e via a piscina do prédio, já colocava a sunga. Demorou alguns dias até ele compreender que não poderia descer à piscina porque ela estava interditada”, completa. Para entreter as crianças dentro de casa, Adriana comprou uma piscina de plástico e instalou na sala do apartamento. O plano aliviou temporariamente o desejo dos filhos de saírem de casa.
Segundo ela, nenhuma das crianças apresentou alterações de comportamento, como a ansiedade, desde o início do isolamento social. No entanto, ela conta que o filho que tem necessidades especiais é quem mais demonstra vontade de sair de casa. Mesmo sem conseguir falar, ele se comunica com a mãe. “Ele pega uma roupa e o sapatinho com a intenção de falar ‘vamos passear’. Eu explico que não vai dar, que não podemos, mas ele não desiste. Vai até o meu quarto e traz um vestido para mim”, diz.
As crianças deixaram de frequentar a escola uma semana antes do início da pandemia, porque a antiga escola solicitou que Adriana retirasse seu filho com TEA. No período em que o menino esteve matriculado, a escola não preparou nenhuma atividade para as demandas especiais e nem as professoras deram atenção ao seu filho com TEA, segundo Adriana. “Meu filho passou um mês andando pela escola, sem nenhuma atenção especial”, lamenta.
Quando a escola fechou, Adriana percorreu oito colégios, pois não queria que as crianças ficassem sem aula. Como não encontrou nenhuma que aceitasse matricular seus filhos em um curto período de tempo – já que todas teriam que interromper suas atividades por determinação legal, frente à pandemia – ela foi buscar ajuda na Delegacia de Ensino.
A busca deu certo, mas ela só conseguiu matricular as crianças em uma escola que oferecia aulas remotas. “A professora mantém contato semanal com as crianças e procura adaptar lições para a condição de meu filho com TEA na tentativa de despertar nele maior interesse pela aula”, afirma. “Isso tem ajudado no aprendizado da criança e na minha segurança. Agora eu me sinto amparada”.
Dificuldades
Adriana destaca que a maior dificuldade na nova rotina é conciliar os cuidados da casa e dos filhos com a vida profissional. Ela reveza com o marido a atenção das crianças e, enquanto ele trabalha durante o dia, ela fica com os pequenos. À noite, ele cuida dos filhos para ela atender seus pacientes. Nos fins de semana, Adriana também atende em seu consultório.
“Não tem ninguém me ajudando durante o dia. Tenho que acompanhar as aulas online das crianças, cozinhar e limpar a casa, porque elas sujam o tempo todo. Além disso, também me preocupo com o meu trabalho”, afirma. Apesar da rotina atribulada, ela prefere manter os filhos em casa mesmo que a escola volte às atividades normais. “Não me sinto segura de colocá-los em um ambiente externo e sujeito à contaminação”, diz. “Prefiro tê-los em casa”.
Para a fonoaudióloga especialista em Transtorno do Espectro Autista (TEA), Sandra Lazzari, as aulas remotas são um verdadeiro desafio para qualquer criança, principalmente as que têm TEA. “Apesar de gostarem de tecnologia, como a televisão e o tablet, essas crianças têm dificuldades de manter um foco atencional para atividades pedagógicas”, explica.
Longe da escola e do tratamento adequado, crianças com necessidades especiais podem apresentar um regresso no seu quadro clínico, segundo a especialista. Por isso, ela orienta que os pais não interrompam o tratamento da criança, seja de forma remota ou presencial, na clínica. “O importante é não interromper o tratamento. As famílias devem manter contato constante com as equipes clínicas, o corpo docente das escolas onde estudam seus filhos e todos os profissionais envolvidos na vida das crianças. A ação deve ser conjunta para que as orientações sejam devidamente passadas à família. Todos devem minimizar os efeitos do longo período de quarentena para os pequenos”, finaliza.
Orientação: Profa. Cecília Toledo
Edição: Thiago Vieira
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