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Com a pandemia, a espera de Flávia e Fabio Teles por uma criança aumentou
Por: Sofia Pontes
Com a pandemia do coronavírus, fóruns de diversos estados brasileiros tiveram que suspender suas atividades, e os processos de adoção passaram por adaptações: a candidatura da pessoa interessada e o registro de documentos são on-line agora. Mesmo assim, segundo o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento do Sistema Nacional de Justiça, a quarentena fez cair pela metade o número de adoções no primeiro semestre de 2020 e quem já estava na fila teve que prorrogar a espera ainda mais, pois as entrevistas continuam presenciais. Um grande aliado dessas pessoas são os grupos de apoio, em que os que já passaram pelo processo de adoção ajudam a preparar os novos pais e mães para uma rotina com a criança.
O casal Flávia e Fabio Teles são um dos que estão nessa fila, há 3 anos e meio. Casados há 13, o casal pensa em adotar desde sempre: “Na primeira conversa sobre filhos, nós dois falamos sobre o mesmo desejo: ter um filho biológico e outro por adoção. Como o biológico acabou não vindo, não tivemos dúvida sobre como nossos filhos chegariam”, diz Flávia, que trabalha atualmente como analista de sistema.
Na demora para a adoção, ambos concordam que a maior dificuldade não é a burocracia, mas sim a ansiedade da espera, prolongada agora pela quarentena. “Aquela coisa de ‘esperar o telefone tocar’ e parecer que ele não toca nunca, muitas vezes, traz uma angústia que é difícil explicar.”
Apesar da ansiedade, Flávia diz entender esse período como uma preparação e vê um lado positivo na espera estendida por conta da pandemia: eles, que são de Sorocaba, passaram a acompanhar as reuniões do grupo de apoio Diálogos sobre a Adoção, de Campinas, que agora ocorrem on-line.
De acordo com Diego Gallet, 32, coordenador do grupo, explica: “A gente se reúne, pensa em um tema para discussão e coloca na roda de conversa”. Entre os temas abordados, estão o preconceito da sociedade com a adoção e a idade da criança a ser acolhida. O coordenador, que também é professor da educação infantil, se juntou ao grupo logo no início, enquanto ainda estava na fila de espera para a adoção de seu filho. Hoje, pai solteiro, ajuda novos casais a se prepararem para a nova vida em família.
Outra pessoa que também aguarda pela adoção é a revisora de textos Fabrina Gaspar, 36. Há 3 anos na fila de espera, ela resolveu adotar seu segundo filho e realça a importância dos grupos de apoio aos pais: “É um ambiente seguro para compartilhar o que pensamos, com pessoas que realmente entendem nossos sentimentos”. A revisora ainda acrescenta que o ambiente serve para que os pais tirem dúvidas e tenham informações quanto à adoção.
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Quem concorda com essa afirmação é a publicitária Ana Paula Franke, 50, que mora em Campinas. Ela já está em uma fase mais avançada do processo de adoção, mas também sofreu as consequências da pandemia. “Tenho a guarda da minha filha, mas ela ainda não tem meu sobrenome registrado em seus documentos”, diz.
Mãe solteira, Ana conta que sempre quis uma criança que tivesse o mínimo de autonomia, pois não consegue ficar sempre em casa, e por isso adotou uma menina de 10 anos. Mas ressalta que, mesmo assim, sentiu os desafios de criar uma criança adotada, já que muitas vezes elas são carentes de algo bem menos prático: afeto. “Eles pedem para dar banho, para colocar para dormir, assistem a desenhos para uma faixa etária mais nova”, completa a publicitária.
Nesse contexto, o grupo de apoio tem sido de grande ajuda para Ana, que vê mais conforto em conversar com outros pais que adotaram do que com os que têm filhos biológicos. “São coisas muito específicas que temos em comum, e para isso é muito importante se ter esse grupo de acolhimento.” Ana ainda conta que as histórias e relatos que ouve a ajudam a se preparar para as situações difíceis: “A gente tem um espaço para se expressar e falar realmente das dificuldades, além de se informar melhor”. Ana e sua filha já moram juntas há 15 meses.
Aceitação pela família
Para o coordenador do grupo de Campinas, um obstáculo que os novos pais acabam encontrando é o preconceito da sociedade com a adoção, refletido muitas vezes dentro da própria família. “Tios e avós que ainda têm preconceito em relação à adoção dizem coisas como ‘A criança carrega a carga genética’ ou ‘Por que você não adota um bebêzinho?’”. Frases assim são comumente ouvidas nas rodas de conversa, segundo Gallet.
No caso de Flávia e Fábio, nenhum parente se mostrou contra a adoção, porém a reação de uns acabou sendo mais positiva do que outros. “Um lado da família fez aquela festa, com direito a emoção e muitas lágrimas, e do outro, era um ‘Ah, legal’”, diz Flávia.
Já Fabrina diz não ter sofrido nenhum preconceito no círculo familiar e que seu filho mais velho deu total apoio à ideia: “Ele fez questão de deixar metade do guarda-roupa vazia para o irmão (ou irmã). Já temos muita coisa guardada e seguimos na expectativa”, diz a revisora de textos.
Mas ressalta que outros parentes chegaram a fazer duras críticas à escolha e que a resiliência foi sua maior aliada nessas situações: “Fui dividindo com o tempo tudo o que eu aprendo sobre o mundo da adoção. Assim, todos podem perceber que não é esse susto todo. É só outro modo de se formar uma família”, conclui Fabrina.
Orientação: Profa. Juliana Doretto
Edição: Beatriz Borghini
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