Ciência

Mercado de trabalho ainda exclui pessoa com deficiência

Iniciativas locais melhoram o acesso à empregabilidade, mas a permanência de trabalhadores depende de mudanças culturais

Segunda edição da Parada PCD, realizada na Praça Roosevelt no Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência (21/09/2024), reuniu participantes e organizações comprometidas com a promoção de direitos e oportunidades no mercado de trabalho.
(Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

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Por Raphael Guerra, Mário Casemiro e Leonardo Crivelaro

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A inserção de pessoas com deficiência (PcDs) no mercado formal de trabalho em Campinas tem avançado, acompanhando uma tendência nacional de aumento nas contratações. No entanto, a permanência desses profissionais ainda enfrenta barreiras estruturais, como baixa escolaridade, estigma social e inadequações no ambiente de trabalho.

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Segundo dados do Painel de Informações da Pessoa com Deficiência, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o Brasil registrou 485.756 vínculos empregatícios ativos com PcDs em 2022, o que representa um crescimento de 5,8% em relação ao ano anterior. Ainda assim, esse número equivale a apenas 1% do total de vínculos formais, percentual muito inferior ao potencial estimado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que aponta mais de 17 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência em idade produtiva.

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Em Campinas, que possui uma população de 1.118.304 habitantes (Censo 2022), não há dados locais específicos sobre o número de PcDs empregados. No entanto, iniciativas como o Centro de Apoio ao Trabalhador (CEPAT) e o Polo de Empregabilidade Inclusiva (PEI) têm contribuído para reverter o cenário de exclusão. Segundo Danielli Guimarães, coordenadora municipal de políticas públicas para PcDs, a principal dificuldade está nas funções que exigem maior escolaridade, além da preferência das empresas por pessoas com deficiência leve.

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De fato, o nível de escolaridade representa um entrave importante: apenas 7,3% das pessoas com deficiência concluíram o ensino superior, enquanto entre a população sem deficiência o índice é de 17,9%, conforme dados do IBGE.

Equipe do PEI na secretaria estadual dos direitos da pessoa com deficiência. (Foto: Divulgação)

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Modelo de inclusão

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O PEI, vinculado à Associação de Educação do Homem de Amanhã (AEDHA), a Guardinha, inseriu aproximadamente 50 PcDs no mercado em um período de seis meses, abrangendo os setores de comércio, serviços e indústria. O modelo adotado, chamado de “emprego apoiado”, oferece acompanhamento contínuo ao trabalhador e à empresa, o que tem se mostrado eficaz na redução da rotatividade e no aumento da produtividade.

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Daniel Wesley da Silva, de 30 anos, é um dos beneficiados pelo programa. Ele relata: “Eu pensava que não seria aceito, mas a inclusão me ajudou muito. Hoje tenho responsabilidade com os aprendizes PcD e quero crescer na carreira. Ainda falta mais apoio, mas já avançamos bastante.”

“Guardinha” como local de inclusão de pessoas com
deficiência (Foto: Divulgação)

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Para mais informações sobre a “Guardinha” (Associação de Educação do Homem de Amanhã – AEDHA), que abriga o Polo de Empregabilidade Inclusiva (PEI), o endereço é Avenida Benjamim Constant, 1297, Centro – Campinas/SP. O telefone de contato é (19) 99674-0511.

Ouça aqui o depoimento de Daniel Wesley

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Comparativo regional

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Campinas se destaca em relação a outras cidades do interior paulista, como Sorocaba e São José dos Campos, pelas parcerias intersetoriais e pelas políticas públicas específicas. A taxa de desemprego local foi de 8,2% no primeiro trimestre de 2025, abaixo da média nacional (9,5%) e da média do estado de São Paulo (8,9%). Esses números indicam que há espaço para políticas de inclusão mais abrangentes.
Perspectivas

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Danielli Guimarães, atuando na coordenação de políticas públicas
municipais PcD. (Foto: Divulgação)

Especialistas apontam que, para garantir uma inclusão efetiva e duradoura, é necessário:

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• Ampliar os programas de capacitação técnica;

• Incorporar o emprego apoiado como política pública padrão;

• Promover incentivos fiscais às empresas que adotam práticas inclusivas;

• Fortalecer campanhas educativas voltadas à eliminação do capacitismo (preconceito contra pessoas com deficiência).

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“Não basta cumprir a Lei de Cotas. É preciso transformar a cultura corporativa”, afirma Danielli Guimarães.

Ouça aqui um trecho da entrevista com Danielli Guimarães para o Digitais.

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Edição: Nicole Heinrich

Orientação: Artur Araujo



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