Ciência
Iniciativas locais melhoram o acesso à empregabilidade, mas a permanência de trabalhadores depende de mudanças culturais

(Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)
.
Por Raphael Guerra, Mário Casemiro e Leonardo Crivelaro
.
A inserção de pessoas com deficiência (PcDs) no mercado formal de trabalho em Campinas tem avançado, acompanhando uma tendência nacional de aumento nas contratações. No entanto, a permanência desses profissionais ainda enfrenta barreiras estruturais, como baixa escolaridade, estigma social e inadequações no ambiente de trabalho.
.
Segundo dados do Painel de Informações da Pessoa com Deficiência, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o Brasil registrou 485.756 vínculos empregatícios ativos com PcDs em 2022, o que representa um crescimento de 5,8% em relação ao ano anterior. Ainda assim, esse número equivale a apenas 1% do total de vínculos formais, percentual muito inferior ao potencial estimado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que aponta mais de 17 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência em idade produtiva.
.
Em Campinas, que possui uma população de 1.118.304 habitantes (Censo 2022), não há dados locais específicos sobre o número de PcDs empregados. No entanto, iniciativas como o Centro de Apoio ao Trabalhador (CEPAT) e o Polo de Empregabilidade Inclusiva (PEI) têm contribuído para reverter o cenário de exclusão. Segundo Danielli Guimarães, coordenadora municipal de políticas públicas para PcDs, a principal dificuldade está nas funções que exigem maior escolaridade, além da preferência das empresas por pessoas com deficiência leve.
.
De fato, o nível de escolaridade representa um entrave importante: apenas 7,3% das pessoas com deficiência concluíram o ensino superior, enquanto entre a população sem deficiência o índice é de 17,9%, conforme dados do IBGE.

.
Modelo de inclusão
.
O PEI, vinculado à Associação de Educação do Homem de Amanhã (AEDHA), a Guardinha, inseriu aproximadamente 50 PcDs no mercado em um período de seis meses, abrangendo os setores de comércio, serviços e indústria. O modelo adotado, chamado de “emprego apoiado”, oferece acompanhamento contínuo ao trabalhador e à empresa, o que tem se mostrado eficaz na redução da rotatividade e no aumento da produtividade.
.
Daniel Wesley da Silva, de 30 anos, é um dos beneficiados pelo programa. Ele relata: “Eu pensava que não seria aceito, mas a inclusão me ajudou muito. Hoje tenho responsabilidade com os aprendizes PcD e quero crescer na carreira. Ainda falta mais apoio, mas já avançamos bastante.”

deficiência (Foto: Divulgação)
.
Para mais informações sobre a “Guardinha” (Associação de Educação do Homem de Amanhã – AEDHA), que abriga o Polo de Empregabilidade Inclusiva (PEI), o endereço é Avenida Benjamim Constant, 1297, Centro – Campinas/SP. O telefone de contato é (19) 99674-0511.
.
Comparativo regional
.
Campinas se destaca em relação a outras cidades do interior paulista, como Sorocaba e São José dos Campos, pelas parcerias intersetoriais e pelas políticas públicas específicas. A taxa de desemprego local foi de 8,2% no primeiro trimestre de 2025, abaixo da média nacional (9,5%) e da média do estado de São Paulo (8,9%). Esses números indicam que há espaço para políticas de inclusão mais abrangentes.
Perspectivas
.

municipais PcD. (Foto: Divulgação)
Especialistas apontam que, para garantir uma inclusão efetiva e duradoura, é necessário:
.
• Ampliar os programas de capacitação técnica;
• Incorporar o emprego apoiado como política pública padrão;
• Promover incentivos fiscais às empresas que adotam práticas inclusivas;
• Fortalecer campanhas educativas voltadas à eliminação do capacitismo (preconceito contra pessoas com deficiência).
.
“Não basta cumprir a Lei de Cotas. É preciso transformar a cultura corporativa”, afirma Danielli Guimarães.
.
Edição: Nicole Heinrich
Orientação: Artur Araujo
Veja mais matéria sobre Ciência

Nova batata-doce criada pelo IAC ajuda na saúde da visão
Com bem mais betacaroteno, a variedade desenvolvida melhora a nutrição e reforça o combate à deficiência de vitamina A

Jornalismo científico regional vive falta de estrutura
Dissertação de mestrado na Unicamp revela descompasso entre produção acadêmica e a cobertura feita por repórteres locais

Pesquisa expõe realidade do casamento infantil no Brasil
Cientistas analisam violações, desigualdade e falhas na proteção de meninas, que são forçadas a uniões precoces no país

A cientista que colocou o Piauí no mapa da arqueologia
Pesquisadora Niède Guidon revolucionou teses sobre a ocupação do continente e lutou pela proteção do semiárido brasileiro

Embrapa desenvolve gado Angus mais resistente ao calor
Técnica de edição genética cria bezerros com pelos curtos, melhorando bem-estar e adaptação da espécie ao clima tropical

Pesquisa analisa motivações dos ataques em escolas
Pesquisa destaca existir uma forte ligação entre o sofrimento emocional, o discurso de ódio online e a violência extrema