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Congestionamentos diários preocupam especialistas que criticam o sistema viário do município
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Por Dan Whitaker
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Campinas atingiu neste primeiro semestre de 2025, a marca de 1 milhão de veículos registrados, segundo dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran). Com uma população estimada em 1,1 milhão de habitantes, o número indica praticamente um veículo por morador e reforça a crescente dependência do automóvel particular na cidade. Para especialistas em mobilidade urbana, o avanço da frota sem um plano integrado de transporte coletivo e alternativo pode levar ao colapso do sistema viário.
Os sinais de esgotamento já são claros. O tempo médio de deslocamento cresce ano a ano, e a cidade continua apostando “em soluções viárias do século passado, como alargamento de vias e novos viadutos”, avalia Cláudia Rezende, urbanista com foco em mobilidade sustentável. “Estamos diante de um modelo que incentiva o uso do carro e ignora o transporte coletivo, a bicicleta e o pedestre”, afirma.
Segundo dados da Emdec, a média de tempo gasto nos deslocamentos em Campinas é de 49 minutos por trajeto, chegando a mais de uma hora nos horários de pico. A cidade aplicou quase dois milhões de multas em 2024, com destaque para excesso de velocidade, avanço de sinal e uso do celular ao volante. Os acidentes também cresceram: foram mais de 7.300 registros com vítimas no ano passado.
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A comerciária Renata Souza trabalha em um shopping da região central e conta que precisa sair de casa às 6h30 para tentar evitar o trânsito da Avenida John Boyd Dunlop. “O trajeto que antes levava 20 minutos, hoje dura quase o triplo de tempo e muitas vezes fico até 40 minutos parada. Tem dia que chego atrasada”, explica.
Enquanto a frota cresce, o transporte coletivo segue em queda. Atualmente, cerca de 400 mil pessoas utilizam os ônibus por dia, número muito abaixo do registrado há uma década, quando a média era superior a 700 mil passageiros por dia. O estudante universitário, Gabriel Martins, avalia que a qualidade do transporte caiu. “Você espera até 40 minutos por um ônibus que chega lotado. E o preço da passagem só aumenta”, reclama. Ele afirma ter pensando em comprar uma moto, “mesmo com medo de acidente”. O número de motocicletas em Campinas já passa de 140 mil unidades, o que representa mais de 14% da frota total.
Segundo a Secretaria de Transportes, a cidade tem registro de mais de 20 mil motoristas de aplicativo, opção de renda e de deslocamento, como conta o motorista Samuel Cardoso. “Você passa metade do dia preso no trânsito e o cliente reclama do atraso. O aplicativo só compensa se você rodar muito, mas com gasolina cara e congestionamento, fica difícil”, relata.
Campinas possui hoje cerca de 65 km de ciclovias e ciclofaixas, segundo a Emdec. No entanto, os trechos têm baixa integração entre bairros e terminais de ônibus. Muitas das ciclovias estão em áreas de lazer e não atendem ao deslocamento diário de trabalhadores e estudantes. O engenheiro de tráfego e consultor em mobilidade urbana, Jorge Almeida, critica a falta planejamento integrado. Para ele, “as ciclovias deveriam ser pensadas como infraestrutura de transporte, não apenas para o lazer. Uma rede segura e contínua pode aliviar o sistema viário e incentivar modais sustentáveis”, defende.
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Edição: Murilo Sacardi
Orientação: Profa. Rose Bars
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