Destaque

A educação infantil está preparada para atender estudantes no espectro autista?

A inclusão tem que existir a partir de um diálogo entre família, escola e equipe multidisciplinar

Por Marina Bigelli

Uma pesquisa de 2023 feita pelo Center for Disease Control and Prevention (CDC), aponta que o número de crianças diagnosticadas com TEA, Transtorno do Espectro Autista, cresceu de 1 para cem em 2020, para 1 em 36, em 2023. Segundo o Governo Federal, os dados do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA) mostram que em 2021 o Brasil realizou 9,6 milhões de atendimentos ambulatoriais em pessoas com autismo, sendo 4,1 milhões do público infantil com idade até 9 anos.

Áilen Dadalt é dentista especializada em Harmonização Orofacial e também é mãe de trigêmeos, dois deles no espectro autista

Ela conta que percebeu uma mudança de comportamento logo nos primeiros meses de vida, principalmente na interação entre os três na hora do brincar. “A pediatra deles, nos exames clínicos, notou diferenças físicas e reflexuais, então com esse alerta nós conseguimos, com menos de um ano, fechar o diagnóstico deles”, explica.

O diagnóstico precoce é importante para melhorar o desenvolvimento da pessoa com transtorno do espectro autista. No caso dos filhos de Álien, eles passaram por fisioterapia, hidroterapia, terapia ocupacional, psicologia e fonoaudiologia. “Isso foi fundamental pra gente conseguir que eles, hoje com oito anos, tenham um resultado positivo. Todos esses anos de terapia, ajudaram os meninos nessa interação com as crianças neurotípicas”, afirma.

Para ela, a escola teria que ter um papel na formação social dos filhos, mas Áilen não percebe uma preparação em termos de conhecimento da neurodiversidade. “Se a escola estivesse melhor preparada na questão de conhecimento e abordagem do tema teria sido mais tranquilo todos esses anos escolares”, mas completa “a escola que os meninos estão faz o que consegue dentro das limitações, a escola pediu professor auxiliar, professor de educação auxiliar e uma cuidadora”, destaca.

Na visão dela, faltam também práticas para discutir o tema com os colegas de sala, “O conhecimento e o diálogo com as crianças seriam essenciais para eles entenderem minimamente. Contribuiria para um resultado ótimo para as crianças com algum tipo de deficiência, mas também contribuiria para as crianças se posicionarem no mundo, aprenderem a respeitar a diferença e formar uma sociedade mais justa, menos preconceituosa e menos cruel”, desabafa.

Legislação

Crianças autistas têm seu direito educacional garantido pela Lei Brasileira de Inclusão (LBI) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que garantem uma educação inclusiva e com recursos necessários para atender as necessidades específicas desses alunos, como adaptação curricular e apoio especializado.

O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil garante o desenvolvimento a todas as crianças, incluindo aquelas que evidenciam essas necessidades educacionais especiais. A legislação também prevê a presença de profissionais de apoio, como cuidadores para auxiliar no desenvolvimento acadêmico e social dessas crianças. Professores especializados em educação inclusiva devem estar disponíveis para fornecer um suporte adicional.

A inclusão é fundamental para o desenvolvimento de crianças autistas, assim como a promoção de uma sociedade mais justa e acolhedora. A garantia do direito educacional de crianças autistas é um esforço que envolve autoridades, pais e educadores, para isso é necessário conhecer a legislação e manter uma comunicação com a escola.

Este é o ponto abordado pela mestre em Linguagens pela PUC Campinas e professora do Ensino Fundamental, Ana Flávia Martins, no áudio a seguir

TEA, o Transtorno do Espectro Autista, de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais é caracterizado como um transtorno de neurodesenvolvimento. A criança com TEA apresenta alterações do desenvolvimento neurológico com três características principais: dificuldade de comunicação, dificuldade de socialização e comportamento restritivo e repetitivo. Porém, é um transtorno complexo e suas manifestações variam de caso para caso.

Em geral, o transtorno se instala nos três primeiros anos de vida, quando a criança ainda está desenvolvendo uma interação com o mundo social. O diagnóstico é basicamente clínico e leva em conta os critérios estabelecidos pelo DSM-IV (Manual de Diagnóstico e Estatística da Sociedade Norte-Americana de Psiquiatria) e pelo CID-19 (Classificação Internacional de Doenças da OMS).

“Comecei quando eles tinham três anos, agora estão com oito. A evolução foi grande, tanto em fala, seletividade alimentar e interação com outras crianças, algo que antes eles não tinham nem vontade. Dentro das limitações deles, óbvio, eles conseguem brincar, entender ordem, entender principalmente o ambiente que eles estão inseridos”, conta.

Ela explica que por ser uma condição neurológica permanente, não há cura, mas há mecanismos para melhorar a vida da pessoa que está no espectro. “Existem níveis de suporte dentro do espectro, crianças normalmente têm um nível de suporte mais alto, até mesmo pela idade, conforme o crescimento e a estimulação – com terapia e medicação, essa pessoa pode evoluir de nível de suporte”, explica Thais. 

Ouça a entrevista completa com a psicóloga Thais. 

Thais Cruz é psicóloga formada pela PUC Campinas e trabalha como acompanhante terapêutica dos filhos da Áilen

Neste ano, no dia em que se comemora a Conscientização Mundial sobre o Autismo, 2 de abril, o Ministério da Educação lançou a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (PNEEPEI).

Na cartilha o MEC afirma que “está empenhado em identificar e eliminar desafios enfrentados por esse público, no sentido de melhorar a disponibilidade de recursos e tecnologias assistivas no Atendimento Educacional Especializado, assegurar a oferta de formação continuada para o corpo docente e empreender ações para promoção de uma cultura inclusiva e do combate ao capacitismo no contexto escolar.”

A PNEEPEI tem um investimento estimado em mais de R$ 3 bilhões em quatro anos e tem como meta chegar em 2026 com mais de 2 milhões de estudantes de educação especial matriculados em classes comuns. 

O objetivo também é ampliar o investimento para mais Salas de Recursos Multifuncionais (SRM), espaços destinados aos alunos com deficiência, TEA e altas habilidades matriculados em classes comuns de ensino regular das escolas públicas. Hoje, apenas 36% das escolas têm SRM.

Orientação: Profa. Karla Caldas

Edição: Gabriela Lamas


Veja mais matéria sobre Destaque

Pessoas com deficiências têm seus direitos garantidos no ensino superior


Ambiente inclusivo e acessível é essencial para garantir uma vida universitária digna e justa para todos


Inteligência Artificial Movimenta a Agricultura no Brasil


Tecnologia é usada para tornar a produção mais eficiente e sustentável, impulsionando o agronegócio brasileiro no cenário global


Censo mostra aumento de centenários na RMC


Segundo a última pesquisa, a região possui 343 pessoas com mais de 100 anos; índice de envelhecimento é acima da média do estado


Procura por esportes de praia aumenta em cidades do interior


Práticas esportivas na areia auxiliam na saúde física e mental


Os benefícios da musicalização na educação infantil e infantojuvenil


Entenda a relação existente entre aulas de música, foco e o desenvolvimento humano, e como isso pode beneficiar a saúde de uma criança ou adolescente


Skatistas X Rollers: uma rivalidade antiga que ainda marca os esportes


Skatistas e patinadores podem se dar bem nas pistas, mas às vezes um momento de lazer acaba em um desentendimento histórico



Pesquise no digitais

Siga – nos

Leia nossas últimas notícias em qualquer uma dessas redes sociais!

Campinas e Região


Facebook

Expediente

Digitais é um produto laboratorial da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas, com publicações desenvolvidas pelos alunos nas disciplinas práticas e nos projetos experimentais para a conclusão do curso. Alunos monitores/editores de agosto a setembro de 2023: Bianca Campos Bernardes / Daniel Ribeiro dos Santos / Gabriela Fernandes Cardoso Lamas / Gabriela Moda Battaglini / Giovana Sottero / Isabela Ribeiro de Meletti / Marina de Andrade Favaro / Melyssa Kell Sousa Barbosa / Murilo Araujo Sacardi / Théo Miranda de Lima Professores responsáveis: Carlos Gilberto Roldão, Carlos A. Zanotti e Rosemary Bars.