Ciência

Uma estratégia verde para deixar a horta mais produtiva 

Tecnologia do IAC e da APTA tem ajudado a reduzir custos de cultivo dos produtores rurais 

Por: Bianca Bernardes, Gabriela Lamas e Laura Saroa 

Técnica permite economia de até 15% nos custos com diesel para o maquinário agrícola e 20% na água e energia elétrica (Foto: Leandro Barbieri/Arquivo pessoal)

A olericultura, o cultivo de hortaliças, ganhou na região um reforço de tecnologia ambiental graças a cientistas do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e da Agência Paulista de Tecnologias do Agronegócio (APTA).  

Denominada “olericultura conservacionista”, a técnica consiste em usar plantas de cobertura, como aveia e leguminosas, para produzir uma camada de palha que cobre o solo, protegendo-o contra a erosão e ajudando a reter a umidade. Essa prática diminui a necessidade de aragem intensiva e irrigação frequente, resultando em uma economia de até 15% nos custos com diesel para o maquinário agrícola, e 20% nos custos com água e energia elétrica. Além disso, a decomposição da palha adiciona matéria orgânica ao solo, aprimorando a fertilidade e, consequentemente, elevando a qualidade das hortaliças produzidas. 

A pesquisa dos cientistas teve início em 2007 e contou com a participação de Roberto Botelho Ferraz Branco, do IAC, de Andréia Cristina Silva Hirata e de Humberto Sampaio de Araújo, da APTA. O estudo recebeu o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da Fundação Agrisus. “Essa técnica surgiu no Brasil por volta da década de 1970, no Paraná, e começou a evoluir junto com o crescimento da expansão da soja. Em 2007, nós começamos a pesquisar essa metodologia em hortaliças”, disse Ferraz Branco, do IAC. 

A tecnologia da olericultura conservacionista consiste no preparo adequado do solo por meio da semeadura de plantas de cobertura, que são espécies vegetais, como aveia, por exemplo. O objetivo é proteger e melhorar a qualidade do solo entre os períodos de plantio. São usadas na rotação de culturas, para a produção de palha. O objetivo é recuperar a fertilidade do solo e protegê-lo contra a erosão, como explica o pesquisador do IAC: “O preparo do solo convencional, com arado e grade, é intenso e gera um processo erosivo bastante agudo. Essa nova proposta é capaz de conservar o solo e, consequentemente, os recursos hídricos.” 

A palha tem o objetivo de recuperar a fertilidade do solo e protegê-lo do processo erosivo, garantindo a sua conservação (Foto: arquivo pessoal)

Como funciona 

Quem deseja adotar a prática deve estar familiarizado com espécies usadas na rotação de culturas com hortaliças, como as plantas de cobertura do solo e/ou cultivo de cereais. 

  • Produção de Biomassa: Primeiro, é necessário produzir biomassa em quantidade suficiente para cobrir a superfície do solo, utilizando uma semeadora com tecnologia de plantio direto na palha. 
  • Rolagem das Plantas de Cobertura: As plantas de cobertura são deitadas no solo através do processo de rolagem, utilizando roçadeiras, rolo faca ou até troncos de eucalipto atrelados ao trator. 
  • Plantio das Hortaliças: Após a produção de palha no solo, é o momento de plantar as mudas de hortaliças. É preciso fazer uma abertura no solo e colocar adubos, sementes ou mudas. A palha deve ser mantida na superfície do solo. Também é importante avaliar o tipo de solo, a topografia e a fertilidade química.
O Instituto Agronômico de Campinas possui 12 Centros de Pesquisas distribuídos em cinco cidades do interior paulista (Fotografia: Laura Saroa)


Leandro Barbieri, produtor de alface em Jaboticabal, adotou a técnica diante da necessidade de mudar seu modo de plantio. “Antigamente, cultivávamos em estufas, e como plantávamos no mesmo local, as doenças e pragas começaram a criar resistência. Tivemos que mudar nosso plantio para o campo aberto e adotar a olericultura conservacionista”, destacou 

Quanto ao investimento para a aplicação da técnica, Barbiere afirmou que não foram necessárias grandes mudanças. Segundo ele, o maior custo foi na implementação do sistema de irrigação. Com relação às máquinas, ele adquiriu uma plantadeira de milho e um pulverizador aplicado junto ao trator. 

O produtor destaca que a mudança trouxe apenas benefícios para seu plantio: “os impactos foram muito positivos. A técnica resolveu nosso problema de resistência de doenças e pragas, reduzindo o uso de herbicidas e diminuindo o período de irrigação, gerando economia de água. Também observamos outros aspectos positivos que o plantio direto proporciona, como a decomposição da palhada em matéria orgânica, ajudando na adubação e aumentando a qualidade geral das hortaliças”, concluiu. 

Orientação: Prof. Artur Araújo

Edição: Mariana Neves


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