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Também chamada de “síndrome de esgotamento no trabalho”, ela atinge 30% dos trabalhadores
Por Fernanda Afonso Alves, Marcela Amorim Almeida e Pamela Vitoria Santos Barbosa
A síndrome de burnout, também conhecida como esgotamento profissional, agora é reconhecida como uma doença ocupacional, conforme sua inclusão na Classificação Internacional de Doenças (CID) pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no ano de 2022. Isso implica que agora os mesmos direitos trabalhistas e previdenciários são garantidos, como para outras doenças relacionadas ao trabalho. Um estudo da International Stress Management Association (Isma) colocou o Brasil em segundo lugar em número de casos diagnosticados de Síndrome de Burnout. A pesquisa indica que apenas o Japão está à frente do Brasil. No país asiático, 70% da população é afetada pela doença.
O burnout, desencadeado pelo estresse crônico no ambiente profissional, é caracterizado pela tensão resultante do excesso de atividade laboral. Seus sintomas incluem esgotamento físico e mental, perda de interesse no trabalho, ansiedade e depressão. Na definição da OMS, o burnout é descrito como “uma síndrome decorrente do estresse crônico no trabalho que não foi gerenciado com sucesso”. Essa condição é caracterizada por três elementos principais: sensação de esgotamento, cinismo ou sentimentos negativos em relação ao trabalho e redução da eficácia profissional.
De acordo com Carla Béck, psicóloga e consultora em Desenvolvimento Humano e Organizacional, com a incidência do burnout em seu ápice durante a pandemia de Covid-19 que causou afastamento e isolamento dos funcionários até o presente momento, as empresas começaram a fazer ações olhando um pouco mais para o bem-estar dos colaboradores. “As empresas vêm com essa compreensão de trazer esse conhecimento para dentro delas, possibilitando que a área de recursos humanos se capacite mais, trazendo profissionais que têm uma abordagem com esse olhar centrado nas pessoas, entendendo que as pessoas têm as suas vulnerabilidades também, que ela está lá com a sua força de trabalho mas tem aspectos que ela precisa de suporte, de espaço de voz para que ela possa falar das dificuldades também”, explica a psicóloga.
A expressão “burnout” tem origem no inglês e pode ser interpretada como “apagar”, indicando a incapacidade de continuar realizando as funções atribuídas. A Síndrome de Burnout não é estritamente uma condição patológica, mas sim uma perturbação de natureza psicológica associada à exaustão física e mental. Segundo dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com a síndrome.
A estudante Carol Martins, 20 anos, teve um episódio de burnout no segundo semestre de 2023, porém só soube do diagnóstico após meses, pois não sabia da existência da síndrome. “Eu não sabia que eu tive um episódio de burnout até ser informada. O burnout não é muito falado no ambiente de trabalho e até mesmo fora, o que dificulta o diagnóstico. Eu soube que eu tive após conversar com a psicóloga do meu trabalho. Contei o que eu estava sentindo e ela me falou a causa”, explica a jovem.
Sintomas
Os sinais característicos da síndrome de burnout manifestam-se através de uma sensação de esgotamento físico e emocional, que se traduz em comportamentos negativos, tais como:
- Faltas frequentes no trabalho;
- Demonstração de agressividade;
- Tendência ao isolamento;
- Variações abruptas de humor;
- Irritabilidade;
- Dificuldade de concentração;
- Perda de memória;
- Manifestações de ansiedade e depressão;
- Pessimismo;
- Baixa autoestima.
Além disso, sintomas físicos como dores de cabeça, enxaquecas, fadiga, transpiração excessiva, palpitações, pressão arterial elevada, dores musculares, insônia, crises de asma e distúrbios gastrointestinais podem estar associados à síndrome.
Prevenção
Carla Béck explica que os gestores das empresas, por preocupação com a saúde mental dos colaboradores, estão instalando algumas variedades de serviços no ambiente corporativo para identificação da síndrome, como apoio psicológico. “Muitas estão trazendo psicólogos para fazer algumas ações voltadas para bem-estar, saúde mental e palestras. Eu tenho entrado em algumas empresas dando suporte para a liderança, para que os líderes falem mais sobre esse tema consigo, que possam identificar algumas questões que estão acontecendo com o seu colaborador e que ele traga essa questão para o dia a dia”, compartilha.
“Outras ações que as empresas têm feito é oferecer algumas plataformas com algumas ferramentas que ajudam na questão da saúde mental, também planos de saúde oferecendo algumas questões de atendimento a partir de psicoterapia e atendimento com médicos especializados”, acrescenta a psicóloga e consultora em Desenvolvimento Humano e Organizacional.
Além de afetar seriamente a saúde mental dos trabalhadores, o burnout também pode levar à diminuição da produtividade e ao aumento de faltas frequentes, desse modo, afetando em conjunto a performance da empresa como um todo. Por isso, o departamento de Recursos Humanos das empresas desempenha um grande papel no apoio aos colaboradores e na prevenção dessa síndrome ao fornecerem orientações, treinamentos e recursos de suporte para os líderes e colaboradores.
“Eu procurei a psicóloga do meu trabalho porque estava com muito cansaço, eu tinha várias crises de dores de cabeça, não conseguia me concentrar em momento algum e não dormia direito”, comenta Carol Martins.
Mercado de trabalho
Para a especialista em liderança e analista comportamental, Renata Lasso, as empresas precisam implementar um processo de melhoria contínua para promover saúde, segurança e bem-estar dos seus trabalhadores no local de trabalho. Ela afirma que a OMS já trabalha o termo de ambiente saudável, reforçando a importância desse assunto.
“Então, quando a gente olha para esses pilares, a gente precisa como empresa olhar para os colaboradores para promover justamente esse equilíbrio. Em um ambiente que deseja promover a saúde, eu não posso ter jornadas de trabalho que a pessoa não tenha a oportunidade de descansar, porque isso vai impactar na saúde. Ou se você tem ali matérias primas que são prejudiciais, eu tenho que ter todo o aparato ali para trazer segurança para esse colaborador”, afirmou a especialista.
Segundo Renata, as políticas internas e processos estruturados também são formas de promover o bem-estar dos colaboradores. “Um exemplo disso, seria a empresa, por exemplo, colocar uma ginástica laboral no ambiente de trabalho. Pessoas que trabalham muito na parte de tecnologia da informação, escritórios de contabilidade, empresas que têm às vezes um excesso de trabalho, quem acaba pegando muita carga, então, acaba tendo um desgaste maior em relação a outras funções”, disse.
De acordo com ela, os gestores precisam ter empatia e desenvolver os pilares da necessidade humana no trabalho
“Se você olhar a pirâmide de Maslow, você tem a necessidade de sobrevivência, que são as necessidades fisiológicas que precisam ser cumpridas. Você tem necessidades de segurança, necessidade de estima, aí sim você começa a subir nessa pirâmide para ter a autorrealização”, contou.
Outro ponto que chama atenção é a preocupação do gestor com a equipe, o responsável precisa ter a capacidade de analisar e perceber quando há algo diferente com o trabalhador. “Toda empresa, se você tem cobrança de resultado, você tem que entregar sempre mais. Tem que promover esse desenvolvimento contínuo, né? Só que eu tenho que, como gestor, saber dosar essas demandas. Então eu tenho que sim, dar um desafio conforme aquela pessoa tem capacidade de realizar e eu preciso acompanhar. E se essa pessoa não estiver apta, eu preciso promover uma forma de desenvolvê-la para que ela consiga ter uma entrega superior. E isso acaba refletindo em maior realização, satisfação, em maior engajamento no trabalho”, pontuou.
Programas de apoio e treinamento
Quando o assunto é cuidado e apoio ao funcionário, a analista explica que o trabalhador também deve ter um olhar apurado e saber identificar os sinais, podendo notar através do autoconhecimento.
“Quando as pessoas não se autopercebem em relação a como eles estão se sentindo, como eles estão olhando para um determinado desafio e não se preparam para superar aquele desafio, ou em casos que não buscam ajuda quando não estão se sentindo bem. Isso no decorrer do tempo acaba se tornando um estresse crônico, e o risco não de você entrar numa depressão profunda, em um burnout, é muito grande”, ressaltou Renata.
Renata reforça que as empresas e os líderes têm o dever de promover um ambiente de trabalho saudável, mas também, é preciso em alguns momentos o próprio trabalhador desenvolver essa consciência sobre o que está errado no ambiente corporativo. “Se ela estiver se sentindo mal por um período grande de tempo, ela precisa buscar ajuda, seja ajuda de um psicólogo, de um terapeuta, de grupos de apoio. Investigar o que que pode estar gerando efetivamente aquilo”, afirmou.
Ao falar sobre o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, a especialista explica que é preciso ter os objetivos profissionais predefinidos, como é o caso do plano de carreira, para que o trabalhador desenvolva uma autonomia em relação ao que ele verdadeiramente quer.
“Isso auxilia muito, porque traz um direcionamento principalmente para as pessoas mais novas. É muito importante que as pessoas coloquem os seus objetivos de carreira alinhados com os seus objetivos de vida, isso faz muita diferença nessa questão da síndrome do burnout”,
Para ela, quando o profissional tem os seus objetivos predefinidos, ele tem noção dos limites do equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional. “A gente vai se desenvolvendo gradativamente e quando você tem essas metas e objetivos muito bem definidos, você consegue estabelecer um plano de ação”, concluiu a especialista.
E o futuro?
Seja qual for o quadro, problemas e síndromes de saúde mental são cada vez mais preocupantes no ambiente profissional e espelham a importância do cuidado com esse tema por parte dos líderes. Segundo pesquisa global da consultoria Mercer, mais de 80% dos profissionais correm o risco de ter um burnout este ano.
A longo prazo, Carla Béck enxerga um crescimento constante da doença, devido ao Brasil ser campeão em uma sociedade ansiosa, por isso, é necessário uma série de esforços. “O burnout continuará crescendo, principalmente se a empresa não está fazendo ações, tem ambientes tóxicos, cobrança, problemas de comunicação, diferenças, acolhimento e rejeições. Ter essa participação de trazer discussões e espaços para que essa sensibilização aconteça, é importante, quanto mais você faz isso, mais fácil a empresa consegue implementar uma cultura de acolhimento e bem-estar”, aponta Carla Béck.
Orientação: Prof. Artur Araújo
Edição: Mariana Neves
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