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Para Schwarcz, racismo deforma educação infantil 

Segundo a antropóloga, o Brasil criou o pacto do “não falar” sobre o preconceito que o atravessa 

Por: Nicole Gonçalves 

“Que imagem é essa que estamos mostrando às nossas crianças?”, questionou a antropóloga Lilia Schwarcz, referindo-se ao quadro “Independência ou Morte”, de Pedro Américo, em sua participação da cerimônia de encerramento do I Congresso Internacional de Educação SESI, na última terça-feira (19). 

Lilia: “Até quando vamos ensinar uma história tão colonial, imperial, masculina e sudestina?” (Imagem: YouTube) 

Conforme refletiu Lilia, a célebre imagem de Dom Pedro I foi engrandecida, tendo sido ele colocado no dorso de um cavalo quando na verdade montava um burro. Na parte superior do quadro – apontou ela – há uma pessoa negra, esta sim conduzindo um burro, mas andando em sentido contrário aos que proclamam a Independência. 

De acordo com Lilia, o racismo histórico – do qual a pintura de Pedro Américo é apenas um pequeno traço – é uma das dificuldades que mais atravessam a educação brasileira. Nos textos do próprio pintor, segundo afirmou, revela-se o imaginário colonial que povoa traços da identidade brasileira.  

Segundo afirmou a antropóloga, o Brasil criou uma espécie de pacto – o pacto do “não falar” – promovido pela branquitude para manter seus privilégios. O Brasil viveria hoje, segundo observou, um tempo de letramento racial: o que era para permanecer invisível, tornou-se visível, e essa visibilidade é um desafio nos dias atuais. 

“Até quando nós vamos ensinar essa história? Até quando essa versão permanecerá em nossos currículos? Uma história tão colonial, imperial, masculina e sudestina?”, questionou. 

Autora de obras premiadas, como “Enciclopédia Negra” (2022) e o “Espetáculo das Raças” (1993), Lilia afirma que a sociedade vive hoje a era da civilização da imagem, e que se deve, portanto, ler as imagens de forma crítica. 

Fazendo um paralelo com uma peça publicitária do governo Bolsonaro, ela apresentou a imagem de cinco crianças caucasianas olhando para cima, voltando os olhos para o slogan “Pátria Amada Brasil”. “O que significa, para uma criança, num país de maioria negra, ser sempre representada pela branquitude?”, questionou, para reiterar que esses são padrões a serem rompidos através do diálogo. 

“Como é que faremos para mudar isso?”, perguntou Lilia, para ela mesma responder: “Com muita autoestima. Com muito auto orgulho.” De acordo com a estudiosa, “será muito bom quando finalmente o Brasil começar a se apalpar”. 

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti 

Edição: Daniel Ribeiro


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