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Eduardo Assad adverte que a segurança alimentar requer arroz e feijão, não soja e cana
Por: Maria Beatriz Kobata
O engenheiro agrícola Eduardo Assad, professor de pós-graduação em agronegócio, da Fundação Getúlio Vargas, disse em seminário provido pelo jornal Folha de S. Paulo que o agronegócio brasileiro não é sustentável, contrariando o que afirmam os grandes empresários do setor.
O debate do qual participou o pesquisador ocorreu por teleconferência, nesta segunda-feira (20), no painel sobre agronegócio sustentável e os incentivos à preservação do meio ambiente, estabelecidos no Plano Safra 2023/2024. Participaram também os governadores Eduardo Riedel e Mauro Mendes, a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) e Giovana Araújo, especialista em investimentos na área rural.
De acordo com Assad, o tema da sustentabilidade no campo precisaria incorporar ao menos quatro visões: econômica, social, ambiental e tecnológica. Ao que apontou, observa-se apenas o foco nos aspectos econômico e tecnológico. Nas questões ambiental e social, o agronegócio brasileiro não evolui como seria esperado.
Em sentido contrário, o governador do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, do PSDB-MS, afirmou que o país conseguiu construir, nos últimos 30 anos, um modelo de produção agrícola que caminha com a sustentabilidade, em especial no que diz respeito à emissão de carbono.
Mauro Mendes (União Brasil), governador de Mato Grosso, disse que o agronegócio é hoje o mais importante setor da economia brasileira, sendo o único que consegue vender para quase 200 países ao redor do planeta.
Giovana Araújo, sócia-líder de mercados para agronegócio Peat Marwick International e a Klynveld Main Goerdeler, citou a Agenda 2030, da ONU, que é um projeto global com objetivos de desenvolvimento sustentável.
“Nós temos as engrenagens para que esse futuro sustentável se materialize. É possível fazer a agenda de sustentabilidade engrenar, gerando valor para toda a cadeia produtiva, para o país, para o setor, para os estados que têm uma relevância no agronegócio, para a sociedade, e global”, afirmou Giovana.
“A agricultura brasileira não ocupa 7% do território nacional, mas sim 30% se considerarmos as pastagens”, ponderou Assad ao contrariar os critérios adotados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). “Os cinco vetores do agronegócio são soja, milho, algodão e carne”, disse Assad.
Assad disse que há cerca de 30 milhões de pastos degradados no território nacional e que, por isso, Mato Grosso estabeleceu um programa de descarbonização, com 12 ações efetivas, sendo a primeira acabar com o desmatamento.
“O Mato Grosso é um dos estados mais avançados em ações que estão sendo feitas para buscar esse equilíbrio”, disse Assad.
Outro problema relatado por ele é a insegurança jurídica dos pequenos produtores, que desconhecem o funcionamento da Declaração de Aptidão do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Segundo ele, os pequenos produtores não compreendem e nem fazem uso do programa. Com isso, respondem por apenas 1% de 56% do valor bruto da produção, e o restante, que atinge 4 milhões de produtores, não respondem nem por 6%.
O professor da FGV encerrou o seminário dizendo que, no que diz respeito ao pequeno agricultor e à oferta de alimentos no Brasil, o país não pode ser considerado sustentável no campo. A produtividade do arroz no Brasil vem oscilando muito e a produtividade do feijão, no ano de 2023, está caindo. Ele advertiu que não se faz segurança alimentar com soja, milho, algodão e cana de açúcar. “Eu faço com arroz, feijão, mandioca”, apontou.
Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti
Edição: Melyssa Kell
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