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Natália Zeferino transformou sua paixão em um perfil informativo na rede social; novo rei será coroado neste sábado
Por: Oscar Nucci
Com um passo largo, vi uma mesa repleta de revistas, livros, bonecos, selos e medalhas. Vi faces, muitas faces conhecidas: Diana, Elizabeth II, William, Harry. No curto intervalo de tempo que meu cérebro fazia sinapses que me revelariam qual seria minha reação àquela recepção, minha entrevistada já disparou: “Esse gim, acho que eu devo ser uma das únicas pessoas no Brasil que tem”.
Natália prosseguiu a contar sobre o gim que foi feito com ervas plantadas e colhidas no Palácio de Buckingham, uma edição limitada lançada em 2020. A bebida de fabricação própria do Palácio, teve seu primeiro lote todo vendido em oito horas. “Eu estava vendo de trazer de barco”, me contou. Porém, Natália encontrou um amigo que estava no Reino Unido que conseguiu trazer a encomenda especial para o Brasil. Demorou um pouco por conta da pandemia da Covid-19, mas o gim chegou e segue na coleção dela, intacto.
Após essa breve introdução ao hobby, que não é tão hobby assim, era hora de começar a conversa. Era uma manhã limpa, com céu azul e sol evidente, porém com um frio que já mostrava que o outono estava virando a esquina. Posicionei meu gravador cuidadosamente em uma edição da revista People, mais precisamente em cima do rosto de Kate Middleton.
Ao começar minha entrevista com a consultora de cultura de 31 anos, a primeira pergunta não poderia ser outra. E, com certeza, é a que deve estar passando pela sua cabeça com a descrição dos objetos e produtos colecionados por Natália. É difícil saber quando a paixão dela começou, e principalmente o porquê. Realeza e Natália Zeferino já são sinônimos, andam juntos. “São tantos anos estudando sobre isso, que eu nem lembro mais da minha versão sem estudar isso”.
Mas, se tivesse que dar um palpite sobre como tudo isso começou, seria da mesma forma em que se consegue um título na realeza, por sangue. Ao tentar se lembrar, Natália voltou à sua infância, quando seu pai a contava sobre História mundial. Quando o assunto era monarquias, impérios, Reis, Rainhas, os olhos da pequena Natália brilhavam ao ouvir todos os relatos, dramas e embates históricos.
Com o passar dos anos, as histórias sobre Reis e Rainhas começaram a se tornar palpáveis. Natália passou a ver o mundo, conhecer culturas, ir atrás das histórias. Com isso, a paixão pela realeza foi se materializando. Ela foi adquirindo conhecimento em forma de livros e viagens.
Um pouco depois da meia-noite do dia 31 de agosto de 1997, uma luxuosa Mercedes colidia com um túnel em Paris. O veículo levava a Princesa de Gales, Diana, seu então namorado Dodi Al-Fayed e o motorista Henri Paul. O acidente matou os dois passageiros e o motorista.
Natália era ainda muito nova para compreender o que este acidente significou à época. Ainda não compreendia as imagens do funeral em Londres, que fora assistido por cerca de 2,5 bilhões de pessoas. Porém, formada em Comunicação Social e Midialogia pela Unicamp, ela entende o impacto da tragédia na forma em que a imprensa cobria a Família Real Britânica.
“A morte da Diana mudou muita coisa em relação a Jornalismo. Então algo que era 100% tabloides britânicos podiam sair publicando qualquer coisa sem respeito à pessoa. Mas começou a existir algumas vozes na imprensa do Reino Unido: ‘Não, isso a gente não vai mais tolerar’. Então, muita regulamentação acabou surgindo por conta da morte dela”.
Porém, a discussão sobre a privacidade dada à Família Real diante da morte de Diana não impediu que na época surgissem boatos sobre o acidente ocorrido em Paris. Natália lembra que rumores começaram a surgir, acusando a realeza de estar envolvida na morte da Princesa de Gales. Isso fez com que a então monarca, Rainha Elizabeth II, tomasse uma decisão inabitual. Pela primeira vez, a Rainha se posicionou e pediu respeito, para que pudesse cuidar de seus netos, que tinham perdido a mãe.
Ela ainda explica que o não posicionamento faz parte do que ela chamou de um dos pilares do funcionamento da Família Real. “Existem os deveres, os protocolos e os mistérios. Não se posicionar ajuda a criar este mistério. Como eles estão muito em pauta e tem cada vez mais pessoas que não apoiam, eles precisam tomar muito cuidado com a imagem deles”.
Passando para momentos da realeza que ela de fato presenciou, Natália se lembra de um bem específico, que talvez apenas quem realmente se interessa pela realeza lembre-se. Em 2012, o Príncipe Harry fez uma passagem pelo Brasil. Universitária na época, ela não se recorda o que exatamente o filho mais novo de Charles III veio fazer em nosso país, mas se lembra que ele jogou polo aqui na região.
Ela recordou também que o novo Rei da Inglaterra, que será coroado neste sábado, dia 6, pisou em terras brasileiras cerca de três vezes. Uma com Diana, uma sozinho e uma com sua atual esposa e Rainha Consorte, Camilla Parker. Natália ainda prevê que o Rei retorne ao nosso país, já uma de suas pautas reais mais caras é o meio ambiente.
Quando minha entrevistada começou a falar sobre as vezes que a finada Rainha Elizabeth II veio ao Brasil, e chegou a conhecer Pelé, quis adicionar à conversa, interrompi-a e lembrei: “Ela veio para Campinas”. E de fato, em 1968, a então Rainha da Inglaterra esteve em Campinas acompanhada de seu marido, Príncipe Phillip, e visitou o Instituto Agronômico.
Nasce o “Chá com Realeza”
Em uma manhã de setembro de 2022, Natália se preparava para trabalhar. Como parte de sua rotina, olhou as notícias da realeza para começar seu dia. Porém, neste dia, algo foi diferente. Ela conversou com sua gestora que confirmou: “Natália, não precisa trabalhar hoje”. O motivo? A Rainha Elizabeth II havia falecido.
A primeira notícia em relação à Rainha Elizabeth II divulgada naquele dia 8 já causou preocupação. Inicialmente, foi revelado que o estado de saúde da monarca era grave. Assim, Natália passou a acompanhar os próximos passos da realeza naquela situação delicada.
Então, às 14 horas pelo horário de Brasília, foi confirmado pelos veículos de imprensa globais que a Rainha Elizabeth II havia falecido aos 96 anos. Porém, para amigos, família, e conhecidos de Natália faltava um protocolo para confirmar a morte da Rainha. Agora era Natália quem precisava se pronunciar.
A comunicadora começou a cobrir toda a comoção em volta da morte da monarca, os passos da família e comentar sobre os protocolos que deveriam ser seguidos. Porém, fazia isso em seu perfil pessoal. Então, assim como no Reino Unido naquela manhã de setembro, as coisas começaram a tomar um outro rumo na vida de Natália.
“Meus amigos falavam assim: ‘Olha, eu estou mandando seu perfil para fulano, ciclano, beltrano, que quer ouvir, quer entender’. Mas aquele era meu perfil pessoal, em que posto sobre meu marido, sobre a minha família, sobre a minha vida. Eu não ia abrir”. E assim surgiu o “Chá com Realeza”, um perfil de Natália no Instagram apenas dedicado a falar sobre a Família Real britânica.
A cobertura da realeza no Brasil ainda é escassa. Nos grandes veículos, apenas eventos oficiais como o velório da Rainha ou a coroação que acontece essa semana, de fato são noticiados. E, as fofocas publicadas nos tabloides britânicos, de acordo com Natália, estão muito presentes nas redes sociais.
Por isso, o “Chá com Realeza” pretende aproximar seus seguidores das informações e da história da Família Real, além de analisar as informações divulgadas sobre a realeza do Reino Unido. E isso começa com as fontes de informações selecionadas por Natália.
“De tabloides eu só pego a fumaça. Nos tabloides começou a gerar uma fumaça que pode ser um incêndio. Eu não vou chegar afirmando que aquilo está acontecendo, eu vou pegar essa fumaça e ver se existe o fogo realmente”. Onde Natália acha os incêndios reais? Os exemplares de livros como “Diana: Sua verdadeira história”, de Andrew Morton, e “Our Rainbow Queen” (‘Nossa Rainha Arco-Íris’, em tradução livre), de Sali Hughes, à frente de Natália no local da entrevista concedida ao Digitais, dão um bom indício. Além disso, a aficionada pela realeza ainda pesquisa em sites oficiais, pronunciamentos de fontes do Palácio e documentários.
E nisso, sua formação em Comunicação Social a ajudou a não confiar em certas informações que podem ser infundadas, ou apenas mera fofoca. “Como eu sempre tive muito interesse, eu nunca cheguei com uma informação de Família Real, li o que estava escrito na imprensa e falei: ‘Ah, é isso’. Vamos analisar o contexto?”.
Neste quesito, Natália se lembra de toda a comoção dos tabloides britânicos com o anúncio de que o Príncipe Harry iria para a coroação de seu pai sem sua esposa, Meghan Markle. Caso a Duquesa de Sussex fosse ao evento, seria criticada por tentar ‘roubar os holofotes’ da família. Porém, a decisão da ex-atriz de não comparecer também gerou críticas por parte dos tabloides, que a acusaram de ingratidão, uma vez que Charles III entrou de braços dados com ela em seu casamento com Harry. “Eu como pessoa, tenho meu posicionamento em relação a eles [Harry e Meghan], mas eu tenho que ter muita responsabilidade do que vou publicar”.
A manhã de Natália já começa com as notícias da realeza acompanhando seu café da manhã, principalmente através das redes sociais oficiais da Família Real. Na hora do almoço, mais um aperitivo de realeza com novas atualizações, caso surja algo importante. E às 18h, uma hora depois que os ingleses sentam-se para o chá, Natália veste seu chapéu de Rainha e começa a produzir seus conteúdos para o “Chá com Realeza”.
Além de gravar stories comentando os últimos acontecimentos e polêmicas envolvendo a Família, os posts com curiosidades sobre protocolos e acontecimentos históricos são os mais queridos pelo público. Ela se lembra de uma série de posts sobre tradições de casamentos, e de uma outra postagem que gerou uma série de comentários, que foi sobre a maior casa de bonecas do mundo, construída para a Rainha Mary, esposa do Rei George V entre 1921 e 1924.
Quando conversei com Natália, o “Chá com realeza” possuía 137 seguidores. Hoje, quando escrevo este texto algumas semanas depois de nossa conversa, o perfil já chega a ter cerca de 420 pessoas a acompanhando. “Estou muito feliz que o interesse está sendo muito genuíno. As pessoas falam: ‘Nossa eu nunca tinha tido tanto contato com esse tipo de conteúdo’. O que chega aqui pra gente é fofoquinha”.
Enquanto escrevo este texto, Natália está em um avião. Obviamente, rumo a Londres. Sim, ela estará presente em um momento histórico: a coroação do Rei Charles III. Sobre a cobertura do evento para o perfil, ela afirma que tentará postar em tempo real, mas que a multidão nas ruas do Reino Unido podem ser um empecilho na conexão de internet. Mesmo com a possibilidade de fazer um resumo ao final do dia, ri com Natália após termos concordado que com certeza será puxado acompanhar o evento e produzir conteúdo.
Esta será a segunda visita de Natália a Londres. Quando perguntei sobre sua primeira visita à capital da Inglaterra, ela suspirou em tom de delírio, como se mal pudesse esperar para retornar. Afinal, já que Natália e realeza já são sinônimos, não existe lugar melhor para estar. “Londres respira isso. É incrível. Já conversei com várias pessoas lá. Existem aquelas pessoas que reclamam: ‘a gente tem que pagar para eles existirem, e isso é muito caro’. Mas o retorno financeiro que esta Família dá em relação à Economia é muito grande”.
Após nossa entrevista, quando eu rumava para a saída do prédio, Natália me contou que estava em um sorteio para estar no Palácio de Buckingham durante a coroação do novo monarca. Após a cerimônia acontecer na Abadia de Westminister, a Família irá para o Palácio em carruagens. Caso fosse sorteada, ela poderia adquirir os ingressos para participar deste momento histórico.
Dias após nossa entrevista, estou passando por meu Instagram e vejo um story de Natália. Ela havia sido sorteada. Minha animação e imagino que de todos seus seguidores, durou pouco. Natália estava na academia e só viu o e-mail uma hora depois, os ingressos já haviam se esgotado.
Mesmo assim, Natália já anunciou em suas redes pessoais: “Toda a cobertura de Londres e da coroação será feita no Chá com Realeza”. E ela é presença confirmada nos shows que acontecerão no domingo, dia 7, celebrando a coroação.
Natália Zeferino não está apenas a caminho de uma cobertura para as redes sociais ou para um evento como qualquer outro, mas sim para o que fazia seu olho brilhar quando seu pai lhe contava as histórias de castelos, Reis e Rainhas. A coroação deste final de semana marcará a história mundial e a da consultora de cultura de 31 anos.
Orientação: Prof. Artur Araujo
Edição: Suelen Biason
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