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Mulheres enfrentam desafios no jornalismo e no esporte

Preconceito e desrespeito às profissionais crescem na cobertura dos jogos e pelas de redes sociais, segundo palestrantes que encerraram evento organizado pela PUC-Campinas

Por Amanda Atalaia e Luísa Viana

Alunos e professores reunidos no último dia da Jornada de Jornalismo Esportivo (Foto: Junior Gomes)

Na última noite da Jornada de Jornalismo Esportivo da PUC-Campinas, realizada na quinta-feira (20), as jornalistas Gláucia Santiago e Mariana Pereira, ambas da ESPN e Milly Lacombe, colunista do portal UOL, debateram as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no meio esportivo. O evento promovido pela Faculdade de Jornalismo reuniu 11 profissionais durante os dois dias de debates (19 e 20), que analisaram e discutiram com alunos e docentes a cobertura jornalística na Copa do Mundo 2022, a atuação da imprensa e dos profissionais do meio esportivo.

Formada pela PUC-Campinas há 15 anos, Gláucia percorreu um longo caminho até chegar à bancada da ESPN. Além de apresentar o programa Sportscenter, ela também faz parte da bancada do Mina do Passe e comanda o PodCopa, um podcast semanal sobre a Seleção Brasileira e a Copa do Mundo. Preparando-se para embarcar para Catar ao lado de uma equipe de profissionais da ESPN, ela sabe que enfrentará dificuldades para trabalhar como jornalista no continente asiático. Uma de suas preocupações – que são comuns aos demais jornalistas – é a cultura restritiva do país. A adaptação aos costumes e vestimentas – no Catar as mulheres são proibidas de mostrar pernas e ombros – será um desafio a ser vencido, assim como a própria cobertura jornalísticas nas ruas das cidades.

Gláucia Santiago: “Não é fácil para nós, mulheres, ocuparmos espaços no jornalismo esportivo” (Foto: Junior Gomes)

Mas realizar um sonho de vida, que é cobrir uma Copa do Mundo do começo ao fim, compensa qualquer temor, segundo ela. “Estou empolgada e me organizando para passar 40 dias no Catar. É a realização de um sonho cobrir presencialmente uma Copa do Mundo”, disse. Gláucia já participou da cobertura dos jogos na Copa do Mundo de 2014, realizados no Brasil. “Mas não foi uma participação tão intensa como a que terei em Catar”, completou.

Já a jornalista Mariana Pereira, comentarista da ESPN e repórter do site Dibradoras, especializado na presença das mulheres no esporte, fará a cobertura da Copa do Mundo 2022 no Brasil. Ela sabe que o trabalho será intenso antes, durante e depois dos jogos. “A vida de jornalista esportiva é uma loucura e a gente trabalha muito”, afirmou. Mas o amor pela profissão e ao esporte ajudam a jornalista a não desistir do trabalho, mesmo com as dificuldades do dia a dia. “A cobrança no jornalismo esportivo não é fácil, porque ela é desleal, diferente e ingrata para as mulheres”, disse.

Uma das pioneiras do jornalismo esportivo televisivo no Brasil, a jornalista Milly Lacombe é atualmente colunista do portal UOL. Em sua longa carreira no jornalismo, ela se orgulha de ter sido comentarista esportiva na Globo e Record, colaboradora da Folha de S.Paulo em Los Angeles (EUA), diretora de redação da revistas Tpm e roteirista do programa Amor&Sexo, da Rede Globo. Milly também é autora de cinco romances. Assim como suas colegas Gláucia e Mariana, Milly sempre foi apaixonada por futebol.

Segundo ela, há profissionais na imprensa que não possuem nenhum compromisso com a verdade e que, como mulher, esse espaço nunca foi cedido. “A mulher não pode errar no jornalismo. Já o homem, quando erra, ele erra pelo seu CPF. Uma mulher, quando erra, ela erra por todas”, declarou a colunista.

Há muitos anos cobrindo e comentando futebol, Milly não poupa críticas ao jornalismo esportivo e nem à organização da própria Copa do Mundo. “Já faz um tempo que sou muito crítica com relação à Copa do Mundo. Acho que a Seleção Brasileira representa muito mais a CBF do que o Brasil”, afirmou.

Outra crítica feita pela jornalista é a escolha do país para sediar a Copa do Mundo. “O Catar é um país regido por uma ditadura sanguinária”, afirmou. Apesar dos descontentamentos, ela disse que está se preparando para cobrir os jogos, que serão realizados de 21 de novembro a 18 de dezembro.

Na opinião de Milly, será visível a diferença da cobertura na Copa do Mundo feita por um homem e uma mulher. “Os homens não serão silenciados pela sua maneira de vestir, mas sim as mulheres. Eles [os jornalistas] vão se vestir da mesma maneira que sempre se vestiram”, afirmou.

A discriminação, o preconceito e os maus tratos não atingem apenas as jornalistas no esporte, mas também as atletas do futebol e as torcedoras, segundo a repórter do site Dibradoras, Mariana Pereira. “Não é fácil para nenhuma delas. Tem que ter muita vontade para que o futebol feminino dê certo em um clube no Brasil”, avaliou Mariana. Para Milly, o futebol feminino luta contra muitas coisas e ainda assim está se transformando em “algo grandioso”.

Assédio

As jornalistas Gláucia Santiago, Mariana Pereira e Milly Lacombe, discutem assédio (Foto: Junior Gomes)

A relação com os agentes do futebol, sejam eles torcedores, jogadores, técnicos e dirigentes, incomoda muito as jornalistas. Em sua experiência profissional, Gláucia comenta que já ouviu diversos insultos dentro e fora do campo e que, com as redes sociais, as agressões se fortaleceram. Segundo ela, seu direct já recebeu conteúdos obscenos e mensagens invasivas, até mesmo durante uma transmissão de uma partida de futebol. “Há violências que são diretas e, outras, veladas”, afirmou. “Não é fácil para nós, mulheres, ocuparmos espaços no jornalismo esportivo”.

Segundo Milly, as jornalistas vivem uma relação abusiva com o futebol. “A gente ama um esporte que detesta a gente”, lamentou. Para ela, as pessoas possuem um machismo velado ao utilizar adjetivos femininos para ridicularizar alguém, além de causar interrupções e não dar voz àquilo que merece ser destacado. Já Mariana relata que, apesar de ainda ter receio, ela começou a se impor no ambiente de trabalho quando se depara com um comentário machista.

“Essa luta [contra o machismo e a misoginia] não é só da mulher, mas também dos homens. É preciso que seja uma luta social, de todo mundo, para combater justamente esse tipo de pessoas e condutas”, concluiu Milly.

Orientação: Profa. Cecília Toledo
Edição: Junior Gomes


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