Cultura & Espetáculos

Apesar de alta nos preços, consumo de livros cresce

Consumidores passaram a buscar outras alternativas de compra a fim de não abandonarem a leitura

Por: Ana Beatriz Barbosa e Júlia Rodrigues

Segundo o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, o ano de 2022 já registra mais de 10 milhões de livros vendidos, índice superior ao registrado no primeiro semestre de 2021. Apesar da alta de consumo, os valores exibidos nas prateleiras têm mostrado uma realidade que não está agradando o leitor. Para entender esse aumento, basta analisar a atual situação da economia brasileira. Uma das grandes heranças que o ano de 2022 trouxe consigo dos anos anteriores é a inflação, e, dentre as áreas afetadas, a indústria do papel não ficou de fora. Seja pela cotação do dólar, impactos da pandemia na economia ou falta de matéria prima, as editoras literárias sofreram um grande impacto com o aumento drástico do preço desse material. 

Camila Crispim é leitora, com hábito de comprar em livrarias, e relata que os preços estão realmente cada vez mais altos. “Teve um aumento muito grande, e isso influencia demais nas compras. Agora tenho que procurar bem mais e esperar promoções. Além disso, passei a comprar mais em lojas virtuais porque as lojas físicas estão com preços absurdos, bem mais caro que as virtuais, as vezes até o dobro.”

Camila Crispim se conecta com os livros (Foto: Ana Beatriz Barbosa)

Só no ano de 2022, o valor do papel destinado a esse setor teve aumento em mais de 65%. O que, contraditoriamente, trouxe também o aumento do consumo. Um dos principais motivos para o crescente número de leitores no país é o isolamento causado pela pandemia: com mais tempo livre, o brasileiro passou a ter mais tempo para a leitura. É o que aponta Daniele Helena, vendedora da Livraria Leitura do Shopping Dom Pedro: “A busca por livros aumentou muito. Eu creio que a maior parte desse aumento se deve à pandemia. Muitos dos consumidores que frequentam a livraria me contam que o isolamento despertou o interesse pelos livros.”

Mesmo pesando mais no bolso, os brasileiros não abriram mão desse hábito adquirido durante os últimos dois anos, principalmente pela importância que a leitura pode desempenhar na vida das pessoas. Segundo Daniele, “a leitura muda tudo. Uma pessoa que lê é mais comunicativa, mais criativa, sem contar que ajuda na memória. Para onde eu vou carrego um livro na bolsa, acho que são companheiros para todas as horas.”

Pensando nisso, consumidores e ávidos leitores passaram a buscar vias alternativas com valores mais acessíveis, e é aí que os Sebos viraram uma das opções mais rentáveis. Apesar do nome não tão atrativo, os Sebos oferecem a seus clientes livros que já foram lidos por preços bem menores do que os ofertado por grandes livrarias.

Edison Dias é dono de um Sebo no centro da cidade de Campinas e disse que, apesar da situação econômica que o país está passando atualmente, suas vendas se mantêm em alta. “Está a mesma coisa, ou seja, um movimento muito bom. As pessoas compram bastante em Sebos, apesar de as vendas na internet muitas vezes tomarem o nosso lugar, ainda assim as pessoas compram com frequência aqui. Tenho clientes de muitos anos, que sempre vem até mim buscando algum título. E eu quase sempre tenho”.

O empresário reconhece que o sucesso de vendas se dá pelos valores baixos. “Os livros, nas grandes livrarias, sejam físicos ou virtuais, estão muito caros. As pessoas gostam do Sebo justamente por ser uma opção mais em conta, por ser mais barato. Qualquer livro hoje está 70, 80 reais, mas, se você vai no Sebo, você paga 10, 15 reais.”

Sebo Empório da Cultura, em Campinas. (Foto: Ana Beatriz)  

Além dos valores atrativos, é possível também reconhecer que a experiência em adquirir livros que já foram de uma outra pessoa possibilitam a compra de exemplares únicos, que muitas vezes já nem são comercializadas pelas grandes editoras. “Aqui tem livro didático, tem bíblias, tem gibis, tem ficção, romance, livros de autoajuda. Encontro de tudo aqui. E o que você provavelmente pagaria caríssimo para obter em uma grande livraria, aqui você encontra até por dez reais”, relata Lucas Alexandre, professor e consumidor de sebos.

Ele ainda complementa, que apesar das inúmeras vantagens que a compra de livros usados é capaz de proporcionar, ainda não é uma realidade adepta por muitos. “Eu acho que aqui no Brasil as pessoas não têm o costume de frequentar esses lugares. Acho que tudo deve e pode ser reutilizado, principalmente os livros, que são feitos para durar muito. Ao invés de jogar no lixo, faz muito mais sentido dar uma chance para outra pessoa adquirir ele.”

Orientação e edição: Prof. Adauto Molck

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