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Dragões e literatura fantasiosa inspiram dissertação

Giovanna Chinellato associa a relação humana e da natureza com o mito do lendário monstro

Por: Eduarda Abrantes

Giovanna Chinellato: “É como se estivéssemos transferindo para as próximas gerações a obrigação e a responsabilidade de salvar a natureza” (Imagem: Videoconferência)

De um monstro terrível, capaz de incendiar e destruir aldeias inteiras na antiguidade, a um animalzinho indefeso que inspira cuidados em tempos pós-modernos, a mitológica figura do dragão se transformou em objeto de estudos da dissertação de mestrado da jornalista Giovanna Chinellato, no programa de pós-graduação em Linguagens, Mídia e Arte da PUC-Campinas. Segundo a investigação da pesquisadora em seus estudos, as representações do lendário animal nas narrativas literárias ou cinematográficas têm se moldado à forma como os humanos enxergam sua própria relação com a natureza.

No começo dos tempos, a natureza era hostil, cruel, precisando ser domada a qualquer custo — explica a pesquisadora — mas hoje as coisas mudaram: ela precisa ser protegida e salva, para o bem de todos. De acordo com Giovanna, é essa consciência ecológica que forçou a mudança nas características com que os dragões aparecem atualmente nos livros infantis ou em longa metragens que arrebatam milhões de crianças às salas de cinema.

Com o título “Reflexos nos olhos do dragão”, sob orientação do professor Ricardo Gaiotto de Moraes, a autora adota a ideia de que não se pode olhar nos olhos da criatura, visto que reflete a si mesmo. “E nos tempos modernos, isso é algo muito assustador, porque não gostamos daquilo que vemos”, diz a autora do trabalho em entrevista ao Digitais.  Ainda conta a lenda — conforme descreve a pesquisadora — que esse monstro não deve ser encarado olho no olho, pois quem o faz pode acabar ficando louco ou despertando a ira do animal.

Segundo a autora, essa peculiaridade nas interações com a figura mitológica provavelmente esteja associada a olhar um predador nos olhos, a desafiá-lo para uma disputa qualquer. Na antiguidade, quem o fazia eram geralmente os deuses, como se percebe na representação de São Jorge. “Por analogia, o dragão está observando o nosso caminhar em relação à natureza, o que não poderia hoje ser considerado algo bonito de se ver”, relata a pesquisadora.  

Em sua pesquisa para recolher argumentos para a dissertação, Giovanna recuperou narrativas acerca do dragão ocidental, desde sua origem, o que teria ocorrido com o mito de “Tiamat”, na Babilônia, até às produções literárias e cinematográficas, como o bichinho Elliot, de “Meu amigo o dragão”, e o Banguela, do longa “Como treinar o seu dragão”. “Através dessas e de muitas outras narrativas, é possível compreender a forma com que a natureza era vista nos tempos imemoriais, e em como esse conceito foi mudando conforme a sociedade foi evoluindo”, avalia.

O dragão Elliot, de “Pete ‘s dragon”. Direção: David Lowery. Produção Disney Studios, 2016, cor, 103 min

Giovanna lembra que, conforme a natureza foi sendo domada, chegou o momento em que hoje, nas narrativas contemporâneas para o público infantil, são os dragões que precisam ser salvos das pessoas que querem destruí-los. Esta estaria ocorrendo na forma de desmatamento, emissão de gases de efeito estufa, atividades de mineração, caça e pesca predatórias — tudo que tem levado às ameaças provocadas pelas mudanças climáticas.

Não é à toa que a imagem do dragão como igual, amigo ou objeto a ser salvo é intensamente observada nas narrativas infantis. “É como se estivéssemos transferindo para as próximas gerações a obrigação e a responsabilidade de salvar a natureza, após anos de destruição ambiental”, avalia Giovanna. Conforme pondera em sua dissertação, “o homem já entende que é errado conter todo o encanto de um dragão, e reconhece que caso um deles não possa voar é como um pássaro preso em uma gaiola. Agora talvez seja preciso aprender a ver, também, o pássaro na gaiola como um dragão magnífico que não pode voar.”

A entrevista com Giovanna Chinellato, na íntegra, está disponível abaixo:

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti

Edição: Natália C. Antonini


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