Entrevista

‘Piercer’ de Limeira é procurada para ‘consertar’ erros

Carla Louro é farmacêutica e trabalha com biossegurança – um atrativo e indicador de qualidade no trabalho de perfurações

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Texto e fotos: Gabriely Ártico

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Carla Louro tem 22 anos, é técnica em farmácia e também perfuradora de piercings na cidade de Limeira. Ela é conhecida entre seus clientes por ‘consertar’ alguns erros cometidos por outros perfuradores. A piercer, como são chamados esses profissionais, começou sua carreira com 16 anos, praticando seus ‘furos’ em amigos e conhecidos. Além de se profissionalizar com curso para perfuradores, utilizou durante sua trajetória os conhecimentos obtidos no curso de farmácia para realizar as aplicações com mais segurança e de qualidade em seus clientes: “sempre respeitando as normas de biossegurança e principalmente o corpo dos clientes”.

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Com a necessidade de sair cedo da casa dos pais, Carla percebeu no mundo dos piercings a possibilidade de uma renda extra, que auxiliaria na manutenção de sua casa e faculdade. Quando se estabeleceu e se estabilizou como profissional, notou que muitos casos que atendia eram emergências de furos feitos de maneira errada. De acordo com ela, muitos dos piercings que corrigiu foram realizados sem a técnica correta e segura.

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Biossegurança é o termo definido pela Fiocruz como “condição de segurança alcançada por um conjunto de ações destinadas a prevenir, controlar, reduzir ou eliminar riscos inerentes às atividades que possam comprometer a saúde humana, animal e o meio ambiente”. O termo é utilizado no mercado dos perfuradores como um atrativo e indicador de qualidade, já que um número razoável de casos ficaram conhecidos por gerarem infecções e até mesmo se tornarem fatais. Acompanhe a conversa com a farmacêutica e piercer.

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Para Carla Louro, ‘um bom profissional é aquele que escuta o cliente’ (Foto: Gabriely Ártico)

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Digitais – Por todos os anos que atende, qual o caso mais curioso que você já recebeu?

Carla – Teve uma vez que um rapaz veio me dizer que queria muito fazer um surface (um piercing na lateral do rosto). Quando perguntei para ele a razão, ele me disse que queria cobrir uma cicatriz, porque ele havia feito uma tatuagem na região e depois tentou remover ela em casa! Fiquei surpresa quando ele me contou isso. Um piercing para disfarçar uma cicatriz de tatuagem?

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Você se surpreendeu quando percebeu erros de perfuradores famosos?

Sim! Por questões éticas, não posso revelar os nomes, mas já recebi muita coisa. Houve o caso de uma moça que queria fazer um piercing na orelha que havia sido reconstruída, quando perguntei por que ela reconstruiu a orelha, ela me disse que foi por culpa de uma perfuração feita errada que infeccionou e inflamou.

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O que é de fato a biossegurança em se tratando de piercings?

A biossegurança se encontra desde a preparação correta do local até aos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). É toda uma questão de assepsia do local, da joia, utilização de materiais descartáveis. A biossegurança vai além do atendimento, pois o cliente tem um papel muito importante, realizando os cuidados com a higiene e alimentação adequada por pelo menos os cinco primeiros dias depois da perfuração.

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O que não deve ser feito em hipótese nenhuma depois de se colocar um piercing?

É preciso evitar roupas apertadas, capacetes ou qualquer coisa que aperte a joia e também não se deve comer nada gorduroso, pois a gordura retarda a cicatrização e pode produzir inflamação na perfuração.

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Os piercings eram um hobbie seu ou desde sempre você quis ser profissional da área?

No início era mais um hobbie mesmo, fazia porque gostava, mas como eu sempre fui amante de tatuagem, piercings e outros tipos de modificações corporais, eu quis começar a me profissionalizar. Tive muito apoio de meus amigos, que me chamavam para fazer as perfurações, aí eu comecei a atender o público em geral e divulgar meu trabalho.

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Como identificar um mau profissional?

Um bom profissional realmente escuta seu cliente. Pensa além do dinheiro e indica a melhor joia, avisa quando pode acontecer algum problema se fizer o procedimento, como o corpo rejeitar ou se há algum problema no local que impeça a aplicação. Tudo que não for isso já é a base para considerar mau profissional.

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Piercings são adereços que sofrem muito preconceito ainda. Como você lida com isso em se tratando da sua profissão?

Antigamente era mais difícil de lidar, ainda é complicado, para falar a verdade. Algumas famílias dos próprios clientes têm preconceito e às vezes nos tratam mal durante os atendimentos quando é feito a domicílio. Muitas pessoas religiosas ou mais velhas não entendem que a modificação corporal não muda o caráter. No geral, eu tento desconversar e não discutir. É uma escolha pessoal e não muda o caráter de ninguém, mas acredito que estamos no caminho certo para um dia as modificações corporais serem mais aceitas e menos marginalizadas.

“Ter um piercing é uma escolha pessoal e não muda o caráter de ninguém”

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Viveu histórias engraçadas em seus atendimentos?

Já atendi uma “aposta perdida”. O rapaz me chamou para furar seu mamilo porque era o perdedor dessa aposta, isso foi bem quando eu estava começando, há uns quatro anos. Chegando lá, ele ficou com tanto medo que desmaiou. Eu fiquei desesperada porque não tinha muita experiência para lidar com o que estava acontecendo, porém consegui me controlar e resolver bem a questão. Quando aconteceu foi assustador, mas hoje em dia eu dou muita risada lembrando da situação do rapaz e da minha também.

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Houve algum atendimento que te emocionou?

Sim! Esse mesmo atendimento que contei, da aposta, ele tem seu lado emocionante também. Em março desse ano, fui convidada a fazer um piercing em um rapaz e chegando lá, adivinha?  Era o marido daquele moço que desmaiou lá no início da minha carreira. Quando terminei a aplicação do marido dele, ele até pediu para fazer um piercing na orelha quando lembrou de mim e eu pude ver quanto meu trabalho evoluiu!

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Qual sua dica para aqueles que estão iniciando a carreira no mundo dos piercings?

Aos que estão começando, não desistam! É difícil, você será marginalizado, alvo de risada e chacota. Pode desanimar com a falta de clientes, de material, pois é tudo muito caro, mas não desistam. É importante treinar, se aperfeiçoar e fazer o que ama. A felicidade das pessoas quando cobrem uma cicatriz, colocam uma joia em um lugar que incomoda, é incrível. Toda jornada vale a pena.

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SERVIÇO__________________________________________________________________

Carla faz o atendimento inicial através de mensagens no Instagram, onde há a divulgação do trabalho (@cahbodypiercing) e também faz o atendimento via WhatsApp para agendamentos (19) 99354-1797. Atualmente está fazendo somente atendimentos a domicílio pois está de mudança para preparar o estúdio. 

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Orientação e edição: Adauto Molck


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