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Turismo vislumbra recuperação com viagens de fim de ano

Com avanço da vacinação, agências de viagens esperam aumentar seus lucros após longo período de prejuízos

Por Letícia Almeida e Monike Vitorio

Entre todos os setores afetados pela pandemia de COVID-19, o turismo foi o que mais sofreu impactos. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) calcula que entre março de 2020 e agosto de 2021 houve um prejuízo de R$428,4 bilhões no setor. De acordo com dados divulgados pelo Ministério do Turismo, a pandemia causou uma queda de 59% no faturamento. Entretanto, com o avanço da vacinação no segundo semestre de 2021, o setor passou a vislumbrar uma recuperação. Segundo um levantamento feito pelo Sebrae em parceria com a Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), 46% das agências de viagens brasileiras esperam aumentar seus lucros em até 50%, enquanto 14% esperam aumentar mais que 50%. 

A Azul Linhas Aéreas Brasileiras vê as vendas aumentarem para o réveillon e verão 2022. Para a empresa, a retomada já vem acontecendo desde o segundo semestre de 2020, que fechou com 55% a mais de vendas em relação ao mesmo período do ano de 2019. As vacinas trouxeram um ânimo a mais para a companhia. “Essa demanda crescente demonstra uma confiança muito grande dos nossos clientes que voltaram a planejar suas viagens depois do avanço da vacinação em todo o país”, afirma Daniel Bicudo, diretor da Azul.

Jéssica Miller, dona da agência de turismo Travel Miller, diz que suas expectativas para os próximos meses são boas caso a pandemia fique controlada (Créditos: Arquivo pessoal).

Para Jéssica Miller, proprietária da agência de viagens Travel Miller, está havendo uma melhora, ainda que tímida, na procura por viagens. Segundo ela, no primeiro semestre de 2021 as pessoas buscavam lugares que tivessem uma estrutura, que não precisassem sair para passear, como os hotéis e resorts. “Já no segundo semestre, percebemos que destinos turísticos do nordeste e sul do país voltaram a ser mais procurados. Com a abertura de fronteira de alguns países, pacotes internacionais já começam a ser cogitados pelos clientes”, ela afirma. Ainda de acordo com Jéssica, o público que tem procurado por pacotes de viagens é bem diversificado, mas o perfil que mais se destaca nessa busca são as pessoas na faixa dos 25 aos 45 anos. Suas expectativas para os próximos meses são boas. “Minha percepção é de que, se Deus quiser, acontecerá um aumento significativo pela procura por viagens em 2022, caso a pandemia permaneça controlada. Mas já estamos felizes de começar a ter alguma receita depois de tanto tempo de prejuízos”, completa.

A professora e diretora da Faculdade de Turismo da PUC-Campinas, Juleusa Maria Theodoro Turra, aponta as dificuldades que o setor sofreu durante a pandemia. Segundo ela, algumas pousadas fecharam na região de Campinas, já outras pediram pagamentos antecipados de diárias para os clientes mais costumeiros, que poderiam desfrutar delas futuramente, para conseguir manter seus funcionários. Algumas também diminuíram as horas de trabalho ou colocaram todos de férias. Além disso, houve demissões em todos os setores do turismo. “No geral, companhias aéreas demitiram, companhias aéreas fecharam, foram incorporadas por outras, algumas não demitiram, mas usaram o que mundialmente foi possível”, afirma Juleusa. A professora ainda diz que a rede hoteleira da região ficou com um staff minúsculo e muitos hotéis ficaram com zero ocupação. No entanto, alguns conseguiram atrair pessoas que não tinham condições de fazer home office em casa e passaram a alugar quartos para trabalhar durante o dia. “Houve hotéis aqui, mais ligados a negócios, que construíram estruturas com computadores, ampliaram acesso à internet”, ela diz.

A professora e diretora da Faculdade de Turismo da PUC-Campinas, Juleusa Maria Theodoro Turra, teme que as viagens possam se tornar ainda mais caras e exclusivas (Créditos: Arquivo pessoal).

Outro ponto destacado por Juleusa, é que alguns hotéis informaram que mudariam o tipo de contrato trabalhista para o contrato intermitente neste período, já que a legislação permite. Esses hotéis contrataram pessoas para trabalhar em determinados dias e em outros não, um tipo de prestação de serviço não contínua, o que deixou muitos funcionários em condição de insegurança. “Fizeram esses contratos, que são contratos frágeis, que não dão segurança. Mas esse processo talvez permaneça quando a pandemia acabar”, comenta a professora.

Com essa retomada, muitas pessoas já estão se organizando com as viagens de fim de ano, como é o caso da estudante de medicina Daniele Pimentel. Ela diz que antes da pandemia sua família costumava fazer duas grandes viagens por ano e que eram momentos ímpares. Nesse momento, a viagem será feita com os devidos cuidados. “Não faremos passeios coletivos nem com guia, faremos todos os passeios e trajetos sozinhos, com carro particular. Além disso, quanto à hospedagem, ficaremos em hotéis que possuam medidas sanitárias como: limitação de pessoas, café da manhã à la carte, sem ser self-service”, ela afirma. Ademais, Daniele e sua família adotaram medidas como a troca da máscara cirúrgica de três em três horas em ambientes abertos e o uso de máscara PFF2 em ambientes fechados. Ainda segundo Daniele, todos estão vacinados com as duas doses da vacina. “Confiamos passar livres de infecções, e, caso aconteça, confiamos na vacinação para que nenhum quadro se agrave”, completa a estudante.

Para Caíque Rodrigues, viajar no fim de ano ainda é arriscado devido a aglomeração (Créditos: Arquivo pessoal).

Por outro lado, há pessoas que ainda não se sentem seguras para viajar na época de Natal e Ano Novo, como é o caso do assistente de Quality& System Caique Rodrigues, que preferiu adiar a viagem para janeiro de 2022 por medo da aglomeração no fim de ano. “Sabemos que o vírus está aí e muita gente ainda não tomou a vacina, por conta disso, tenho medo de transmitir para outras pessoas ou outras pessoas passarem pra mim” ele disse. Caíque ressalta que tomará todos os cuidados possíveis e que está pensando inclusive em levar todos os utensílios de casa, como toalhas e roupa de cama. Ainda assim, há inseguranças. “Como não sabemos o dia de amanhã, tenho medo do número de casos de Covid começar a subir, mesmo sabendo que minha viagem será bem no final do mês, tenho medo de algo acontecer”, ele diz.

Encarecimento 

Embora exista esse otimismo no setor com a retomada das atividades turísticas, há uma preocupação em relação às consequências a longo prazo causadas por todo o prejuízo gerado. A professora Juleusa alerta que, por conta da necessidade de gerar confiança novamente nas pessoas para viajarem, existe a possibilidade de encarecimento das viagens. “O que é uma preocupação nossa ética, é que talvez todo o processo de turismo fique mais caro do que ele era, por conta da necessidade de gerar essa confiança, e mais exclusivo do que era, e que nós tenhamos então pessoas que conseguiam fazer viagens, daquelas que contratam uma van, e podem estar expostas, que vão estar fora do sistema oficial, digamos assim. Então, isso está nos preocupando!”, ela comenta. Para ela, essa possibilidade seria um retrocesso, mesmo com as atividades voltando ao normal. “Tudo está difícil, mas tudo está voltando. Vai ter um novo normal? Talvez a gente acabe voltando ao normal de sempre, mas no turismo há essa preocupação. A gente pode ter dado um passo atrás, do ponto de vista da inclusão de mais gente”, finaliza a professora. 

Orientação: Prof. Gilberto Roldão

Edição: Alanis Mancini


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