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Ex-aluno da PUC-Campinas recebe Prêmio da CNBB por documentário sobre racismo no futebol

Em seu discurso de agradecimento, Álvaro da Silva Júnior fala que o objetivo do documentário era dar voz às pessoas que são caladas pelo racismo estrutural

Álvaro da Silva Júnior recebe o Prêmio Margarida de Prata das mãos do Arcebispo Dom João Inácio Müller. Para o jornalista, o prêmio ajuda a dar visibilidade ao trabalho e ao tema do racismo estrutural (Imagem: Reprodução/Arquidiocese de Campinas)

Por Letícia Almeida

Foram entregues na noite desta sexta-feira (12) os Prêmios de Comunicação da CNBB para os ganhadores da Arquidiocese de Campinas. O jornalista Álvaro da Silva Júnior, ex-aluno da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas, recebeu das mãos de Dom João Inácio Müller, Arcebispo de Campinas, o Prêmio Margarida de Prata na categoria curta metragem, pelo documentário “Ser negro — além das quatro linhas”. O trabalho foi desenvolvido por Álvaro e pelos alunos Guilherme Ferraz e Daniel Salcedo como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em 2020 e teve a orientação do professor Carlos Gilberto Roldão. A entrega do prêmio foi realizada durante a Santa Missa presidida pelo Arcebispo.

Após receber o prêmio, Álvaro agradeceu a CNBB pelo reconhecimento e falou sobre o trabalho. Segundo ele, o tema foi escolhido porque o racismo estrutural está muito entranhado na sociedade, e por desejarem fazer algo na área do esporte, decidiram por esse recorte dentro do futebol. “A gente queria dar luz a isso, dar voz a essas pessoas que muitas vezes não tem voz, que são caladas porque é estrutural na nossa sociedade e acabam sofrendo muitos preconceitos”, diz Álvaro. Ele ainda traz a questão do negro não ocupar cargos de liderança dentro do esporte. “Muitas vezes o jogador de futebol é reconhecido como um bom jogador, mas ele nunca é reconhecido pra ser um dirigente, pra ser um treinador, pra exercer uma outra função, porque daí julgam que ele não tem capacidade. Então a gente quis mostrar isso”, ele completou. Álvaro ainda agradeceu os professores da PUC-Campinas e a universidade, além de sua esposa, seus familiares e os colegas, e finalizou dizendo que o prêmio é importante para dar luz a essas pessoas que muitas vezes são marginalizadas.

O documentário foi produzido por Álvaro da Silva Junior, Daniel Salcedo e Guilherme Ferraz, que dividiram as funções. Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo trio, foi a busca por fontes (Imagem: Reprodução/Arquidiocese de Campinas)

Em entrevista para o Digitais, Álvaro contou que na época em que começaram a desenvolver o projeto para o TCC, Sebastião Arcanjo, o Tiãozinho, havia acabado assumir o cargo de presidente da Associação Atlética Ponte Preta, sendo o único presidente negro entre os sessenta clubes presentes nas séries A, B e C do campeonato brasileiro. Esse fato serviu como gancho para o trabalho, e assim, decidiram fazer um recorte usando a Ponte Preta como exemplo. Álvaro relata que uma das maiores dificuldades que ele e os colegas tiveram durante o trabalho foi conseguir fontes, e que isso fez com que pensassem, em alguns momentos, que não seria possível realizar o documentário. “Dentro do grupo começou a surgir uma dúvida: ‘será que vamos conseguir? Será que não é muita coisa para a gente abarcar?’”, comentou o jornalista. Mas segundo ele, as dificuldades não o impediram de acreditar e continuar tentando.

Para conseguir as entrevistas e gravar, o trio dividiu as funções. Álvaro e Guilherme foram para Minas Gerais para entrevistar o ex-goleiro Aranha, o que foi muito importante para o andamento do trabalho. “A gente conseguiu falar pessoalmente com o Aranha. Foi fundamental porque através dele a gente conseguiu outras pessoas, como o Marcelo, que é do Observatório da Discriminação Racial”, ele diz. Apesar das dificuldades, no fim da produção eles tinham um material vasto, e então a dificuldade era editar e escolher o que iria pro documentário e o que ficaria de fora. Álvaro também foi o responsável pela captação das imagens.

O documentário traz relatos de pessoas negras ligadas ao futebol e aborda o racismo estrutural a partir de situações de discriminação vividas pelos entrevistados (Imagem: Reprodução/YouTube)

Sobre a vitória, o jornalista diz ter ficado surpreso. “Eu não imaginava que a gente ia ganhar. Eu fiquei cético. Na hora que ganhou, foi uma surpresa agradável, eu fiquei até sem palavras na hora de falar, de agradecer”, ele comenta. Álvaro acredita que o prêmio é muito importante para dar visibilidade ao documentário e à necessidade de um jornalismo mais humano e social. “O prêmio ajuda a dar visibilidade, ajuda a que outras pessoas, principalmente o pessoal de jornalismo, os estudantes, consigam visualizar essa necessidade de fazer uma coisa mais humana.”, finaliza.

Sobre o prêmio

Os Prêmios de Comunicação foram criados pela CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) com o intuito de oferecer um reconhecimento público da Igreja Católica Apostólica Romana ao trabalho de profissionais da comunicação que se distinguem pelo serviço à dignidade humana e ao Evangelho. Os Prêmios CNBB também visam estimular e reconhecer as boas iniciativas de trabalho jornalístico e cultural oriunda de todo o país nas áreas de Cinema, Rádio, Televisão, Imprensa e internet.

Em 1967, a CNBB instituiu o primeiro Prêmio de Comunicação Margarida de Prata para o Cinema. O prêmio é entregue em duas modalidades: longa-metragem, para filmes ficcionais ou documentários com duração mínima de setenta minutos; e curta-metragem, para filmes ficcionais ou documentários com menos de setenta minutos.

O documentário

“Ser negro — além das quatro linhas”, tem cerca de trinta minutos de duração e traz entrevistas de pessoas negras ligadas ao futebol, como os ex-jogadores Dadá Maravilha e Grafite, o ex-goleiro Aranha e o presidente da Ponte Preta, Sebastião Arcanjo. Os entrevistados abordam o racismo estrutural a partir de suas próprias vivências, trazendo relatos de situações de racismo sofridas dentro do futebol. O documentário está disponível para ser visto no YouTube.

Orientação: Profª. Amanda Artioli

Edição: Letícia Almeida


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