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Trabalho voluntariado junto à Pastoral Carcerária, em Uberlândia, auxilia na evangelização dos presos
Por: Rafael Smaira
Aos 72 anos e mais de duas décadas trabalhando na Pastoral Carcerária de Uberlândia, em Minas Gerais, a professora Maria José Faria Almeida, mais conhecida entre os detentos por Dona Maria, faz um balanço positivo de seu trabalho. Mineira de Divinópolis, ela começou sua caminhada no voluntariado aos 16 anos e nunca mais parou. Faz mais de 20 anos que ela é voluntária na Colônia Penal Professor Jacy de Assis, em Uberlândia. “Vou continuar dando atenção a esse povo desprovido e tão discriminado da sociedade enquanto eu tiver forças para colocar o uniforme e ir para o presídio”, diz ela.
Como a senhora iniciou os trabalhos na Pastoral Carcerária de Uberlândia?
Recebi um convite do bispo em 1997 para montar um grupo da Pastoral e dois anos mais tarde fundamos o grupo. Como não tinha liderança, eu assumi e até hoje fiquei. Eu já tinha um pouco de caminhada, do meu tempo de juventude. Começamos em 80 pessoas, depois ficaram 25 e no final sobraram cinco. Sempre foi difícil ter pessoas nessa jornada, porque o povo tem medo.
Qual foi a sensação quando entrou pela primeira vez em um presídio?
Eu já tinha um pouco de conhecimento de cadeia e de preso. Não foi muita surpresa para mim, mas das primeiras vezes foi doído, porque naquela portaria eu recebia cada nome feio, que nem tenho coragem de contar. Eu tinha a impressão que os guardas achavam que a gente era espiã e não tinha ido ao presídio para evangelizar e levar amor aos presos. Às vezes não entrava, tinha que voltar para casa. Mas toda semana estávamos lá de novo.
E hoje, com mais de 20 anos de trabalho, qual é o seu sentimento?
Me sinto impotente, porque a gente pensa muito neles. Mas nossa sensibilidade e nosso amor pelo trabalho falam mais alto. Não posso fazer denúncias de qualquer jeito, porque senão os detentos sofrem represálias. Mas de forma geral eu me sinto mais humana. Não tem como não saber das coisas que acontecem ali (presídio) e não ficar mexida por dentro. Então esse o apelo que faço a Deus, porque nosso trabalho é religioso, é de misericórdia. Aos que estão presos e aos que estão judiando de quem está preso.
Como é a sua relação com os detentos e as detentas?
Com a gente ali, eles têm segurança de estar confidenciando. Eles sentem muita falta da família, do pai e da mãe. Muitos são jovens demais e a maioria é negra e pobre. Isso é muito profundo pra mim e mexe comigo por dentro. Eles são desvalidos, estão à mercê (da vida) e suas mães também sofrem com o processo de prisão.
A senhora também se relaciona com as famílias dos presidiários?
Faço parte de um grupo de apoio às famílias. Nas manifestações das famílias eu estou lá. Este ano, de pandemia, a situação está feia. Tenho ido às manifestações como Pastoral, mas eu não falo e nem manifesto. Só fico ali como apoio a elas, àquelas mulheres. Sou uma força da igreja. Não vai pastor, não vai ninguém, mas a Pastoral está lá representada na minha pessoa.
Como é o reconhecimento de seu trabalho na sociedade? E na sua família e com amigos? A senhora já ganhou o prêmio de Cidadã Honorária de Uberlândia e uma menção na OAB.
É tudo muito político. Serve (o prêmio) para elevar o nome deles na Câmara ou mesmo na OAB. É muita aparência. Mas ali dentro tem muita gente boa também, que soma na nossa caminhada. A gente passa a ser discriminado também por estar ajudando aquelas pessoas, discriminado por amigos, pela família, pela sociedade. É tudo muito oculto, mas a gente sente. Isso aí dói muito, mas não me deixo abater.
E hoje, com 72 anos e mais de duas décadas trabalhando no sistema prisional, a senhora pretende continuar?
Vou continuar enquanto tiver vida. Passa a fazer parte inerente da gente. A gente que tem filho e família, sabe que a Pastoral é isso, de acolher e servir. Você prepara seu interior para isso. Não dá desejo de abandonar. Eu fico cada vez mais tocada e imbuída em dar atenção à causa. Vou continuar dando atenção a esse povo desprovido e tão discriminado da sociedade enquanto eu tiver forças para colocar o uniforme e ir para o presídio.
Orientação: Profa. Cecília Toledo
Edição: Danielle Xavier
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