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A pandemia obrigou estudantes, como Beatriz Palucci, a adaptar suas investigações científicas
Por: Sofia Pontes
Com o isolamento provocado pela pandemia do novo coronavírus, estudantes de graduação e pós que estavam trabalhando em seus projetos de pesquisa se depararam com uma série de imprevistos. A falta de acesso a laboratórios e biblioteca, a incerteza do retorno às aulas e a organização de congressos de maneira on-line foram alguns dos obstáculos enfrentados pelos estudantes.
A aluna do 4º semestre de biologia da PUC de Campinas Beatriz Palucci Ferreira, 22, já está no final de sua pesquisa de iniciação científica, que é voltada para a análise de ácaros como predadores. A maior dificuldade imposta pela pandemia foi lidar com seres vivos em laboratório, pois eles precisam de cuidado constante: “Não dava para todo mundo decidir ficar de quarentena, porque o esforço de meses e anos de pesquisa de alguns seria perdido”, diz Beatriz.
Segundo ela, a ajuda entre pesquisadores foi essencial para que nenhum estudo fosse perdido: “Eu parei de ir ao laboratório, pois meus familiares fazem parte do grupo de risco, mas algumas pesquisadoras do mesmo laboratório que eu que já estavam com a pesquisa avançada iam cuidando da minha”. E explica o que isso significa: “Elas não fizeram os experimentos por mim, só cuidavam para que eles sobrevivessem”, diz Beatriz.
De acordo com seu orientador, o professor Mario Sato, do Instituto Biológico, houve redução significativa nas atividades de pesquisa no laboratório, pois os alunos passaram a realizar os trabalhos de forma escalonada: “Os alunos estão indo ao laboratório em dias alternados, para evitar a presença de muitas pessoas em um mesmo ambiente”, explica Sato.
A estudante vai apresentar seu trabalho no Congresso de Iniciação Científica em Ciências Agrárias (Cicam), no início do mês de novembro. Por mais que esteja empolgada para a divulgação dos resultados, ressalta que sentirá falta da experiência presencial, já que esse será seu primeiro evento científico: “A parte negativa é que você tem a experiência, mas não a tem completa”, diz Beatriz. Bolsista do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), a estudante diz que a agência prolongou as mensalidades por mais três meses, por conta da pandemia.
A pesquisa de iniciação científica de Thainá Salgado Chagas, 26, aluna de relações internacionais da Facamp, deveria ter sido concluída em maio deste ano. Mas a faculdade acabou prolongando o prazo para julho. O estudo, que busca analisar os efeitos do racismo estrutural na sociedade, é realizado pela aluna do 6º semestre sem financiamento: “É tudo de caráter voluntário. Então, não tive a preocupação de muitos em perder a bolsa”.
Por mais que o financiamento não tenha sido um problema, Thainá ressalta que sentiu a incerteza da pandemia: “Assim que veio o decreto de isolamento, em março, não sabíamos se o programa de pesquisa encerraria em junho deste ano ou se ficaria para o segundo semestre”.
A pesquisa da estudante não precisa do uso de laboratório, por ser uma revisão de literatura. Porém, a pandemia impossibilitou a ida até a biblioteca da faculdade e foi aí que a internet mostrou seu lado positivo. “Meu orientador disponibilizou, já no início da pesquisa, os livros que não conseguia encontrar na biblioteca e continuamos dessa forma.”
A estudante se prepara para divulgar o trabalho no congresso de iniciação científica da Facamp que ocorrerá no final deste mês, mas conta que sua experiência nos primeiros congressos on-line de que participou não foi tão positiva: “Os comentários foram muito breves, por ter muitas mesas, e não há a possibilidade de ter uma aproximação com os debatedores”. Thainá diz ter se sentido mais focada e menos nervosa na apresentação, mas que prefere o contato do olho no olho: “Senti falta dessa troca de contato, de networking entre colegas”.
Pós-graduação
Na área de pesquisas pós-graduação, o estudante de física da Unicamp João Vitor Chiaramonte Rocha diz que o maior problema foi o uso de laboratórios, já que seu projeto é em grande parte composto por experimentos. “Com os laboratórios fechados, o prejuízo para a pesquisa está sendo bastante elevado.” A pesquisa do mestrando tem como objetivo o estudo realizado em um dispositivo de ondas acústicas, que será fabricado ao longo do projeto.
Para contornar a situação, João conta com as recomendações de seu orientador: “Ele instruiu que eu focasse na parte teórica e de apresentações da pesquisa”. E explica: “Estou optando por fazer simulações computacionais e lidando com as atividades que não exigem o uso de laboratório”.
Para João, a ausência de proximidade física nos eventos científicos incomoda, mas acredita que haja um ponto positivo nos congressos on-line. “Sinto falta do contato humano e, embora eu acredite que as pessoas de modo geral também sintam, as ferramentas para transmissão on-line abrirão portas para que as apresentações estejam abertas a todos que desejarem acompanhá-las remotamente”.
Apesar das dificuldades, o mestrando de física, que tem bolsa para realizar o trabalho, também acredita que vale a pena continuar a investigação, pela relevância da área científica: “As pesquisas são importantes para que se crie um modelo capaz de fomentar o pensamento crítico nos jovens”. E não vê como positiva a forma que o governo atual olha para essa área: “Aqui, isso é tratado apenas como gasto público”, diz João.
O professor Mario Sato também ressalta a importância da pesquisa para os estudantes de graduação, mesmo em meio à pandemia: “Na área de ciências biológicas, por exemplo, ao conduzir os trabalhos de pesquisa, os alunos têm a oportunidade de conhecer melhor diversos grupos de organismos ou técnicas de análise, que podem ser muito úteis ao longo da carreira profissional”. E ainda afirma: “Normalmente, pessoas com mestrado ou doutorado acabam conseguindo empregos ou posições melhores que pessoas de menor nível de instrução, independentemente da área de atuação”.
Orientação: Profa. Juliana Doretto
Edição: Fernanda Almeida
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