Janelas quebradas, espaços ociosos, vandalismo e estrutura comprometida. Essa é situação em que se encontra a Escola Magia do Cinema em Paulínia, um projeto ambicioso que completa dez anos em 2017. O objetivo era transformar a cidade em referência na produção audiovisual e na formação de diretores, técnicos de cinema e atores, mas agora parece reduzido a um grande elefante branco. “O espaço foi importante para fomentar e estimular o cinema da região. Conheço pessoas que passaram pela escola e hoje estão colocadas no mercado audiovisual, algo que é complicado dado a restrição que este mercado possuí”, afirma o cineasta e professor da PUC-Campinas, Cauê Nunes, que participou por três anos do Festival de Cinema de Paulínia, um dos projetos desenvolvidos no período em que o Polo estava ativo, de 2007 a 2013.
O complexo cinematográfico conta, além dos estúdios de gravação, com a rodoviária que recebe ônibus municipais e intermunicipais, um shopping e um hotel, localizado há poucos metros do local. Tudo pensado para atender às necessidades dos produtores que utilizassem o espaço. “Leva tempo para que um projeto como o de Paulínia seja consolidado. Isso poderia ter acontecido e o festival era um claro exemplo disso. Produções locais começariam a ser apoiadas, inclusive financeiramente”, conta Nunes. “Além disso, outro ponto importante eram as sessões de cinema gratuitas que aconteciam, formando assim um novo público consumidor das produções”, completa.
Além dos vidros quebrados nas janelas, encontrou ainda diversas vigas da estrutura dos prédios com ferrugens. Próximo à Escola Magia, estavam apenas dois meninos que usavam o estacionamento em frente à um dos estúdios para andar de skate e um vigilante.
[caption id="attachment_11193" align="alignnone" width="860"]O projeto do polo custou mais de 470 milhões de reais aos cofres públicos. Dinheiro investido em uma estrutura que poderia produzir mais de cinquenta filmes por ano e que tinha como expectativa atrair trabalhadores e produtores audiovisuais. A partir de 2010, o Festival de Cinema de Paulínia também foi realizado e durou quatro anos. O objetivo era se transformar em uma vitrine na exibição das produções nacionais, algo parecido com o que acontece em Gramado, no Rio Grande do Sul.
Desde 2015, quando a novela da Record TV Escrava Mãe foi filmada pelo local, nenhuma outra produção foi realizada. Vale lembrar que importantes sucessos de bilheteria como O Palhaço (2011) protagonizado por Selton Mello e De Pernas Pro Ar (2009) foram filmados nas instalações da Escola Magia.
O prefeito de Paulínia Dixon Carvalho (PP), que recorre da decisão da Justiça Eleitoral que cassou seu mandato no dia 27 de setembro por divergências nas contas da campanha, afirma que existem conversas avançadas para que através de uma parceria com a iniciativa privada, as atividades sejam retomadas. “Nós esperamos que, até o final do ano, ou seja, em cerca de dois meses, as aulas no complexo sejam retomadas. Estamos fechando acordos para investimentos e também com algumas produtoras. Pretendemos também que os realizadores da região tenham espaço”, afirma. A Prefeitura argumenta que o local está fechado há tanto tempo pelas sucessivas trocas na administração municipal, graças a várias cassações desde 2009.
[caption id="attachment_11194" align="alignnone" width="860"] Estrutura que custou milhões ao cofre público é esquecida pelo poder público – Foto – Mario Gregório