Destaque

Tecnologia detecta burnout pela voz

Nova tecnologia dos EUA usa tom de voz para identificar burnout, com alerta de especialistas

Por Pedro Rabetti e Isabelle Layara

Considerada um fenômeno ocupacional pela Organização Mundial da saúde (OMS), a síndrome de Burnout tem ganhado espaço entre as maiores patologias mentais do século. Assim como grande parte dos transtornos psicológicos, apresenta uma tendência a demora do diagnóstico, não pela falta de profissionalismo, mas devido a sua similaridade com sintomas recorrentes no dia a dia, o estresse sendo o principal deles. Essa síndrome foi descoberta em 1974 por Freudenberger, um médico americano. Durante e depois do período de isolamento social devido a pandemia de Covid-19, o Burnout atingiu um maior número de pessoas, devido a situações de trabalho cansativas. 

Recentemente, a empresa americana Sonde Health lançou uma nova tecnologia que promete identificar sinais do burnout através da captação da voz. O Sonde Cognitive Fitness é capaz de monitorar as mudanças na carga cognitiva e estresse em tempo real por meio da voz. Ajudando os usuários a detectarem precocemente a síndrome. 

Daniel Campos, desenvolvedor. Foto: Arquivo Pessoal

Para Daniel Campos, desenvolvedor, os modelos de inteligências artificiais atuais não são suficientemente confiáveis para detectar o burnout somente com base na voz do paciente. Porém, diz acreditar que certos algoritmos como os baseados em deep learning são capazes de captar certas entonações. “Acredito que algoritmos consigam captar certas entonações relacionadas a doenças e condições mentais, porém, creio que eles terão dificuldades em diferenciar de qual condição de saúde se trata se baseando apenas na voz”, diz. 

Daniel também conta quais processos são necessários para garantir que a tecnologia forneça diagnósticos confiáveis “Primeiramente é necessário possuir uma base grande de dados com as condições que queremos identificar (burnout, depressão, ansiedade, etc). Depois disso, a base de dados precisa ser balanceada, ou seja, deve conter dados diversificados de diferentes grupos (idade, gênero, sotaques, etc.), para evitar que o modelo aprenda a favorecer determinados perfis e desenvolva vieses. Após isso, o algoritmo é treinado utilizando essa base de dados, e passa por uma avaliação (basicamente pegamos uma parte da base de dados que ele nunca viu, e usamos para testá-lo). Caso o algoritmo apresente baixa precisão, é preciso fazer ajustes na base de dados ou no treinamento. E finalmente, supondo que tudo deu certo, podemos começar a usar em casos reais”, explica.

O desenvolvedor acrescenta dizendo que criar algoritmos para identificar padrões é uma tarefa relativamente simples. Mas o desafio está mesmo na complexidade de diagnosticar uma condição mental, como o burnout somente por meio da voz. “Embora a tecnologia possa ajudar a identificar sinais de exaustão ou estresse, o diagnóstico do burnout exige uma avaliação clínica que envolva mais do que apenas a análise vocal, como entrevistas e testes psicológicos”, encerra.

Para ajudar a entender melhor como a síndrome funciona e quais os sintomas que pedem um acompanhamento profissional, a psicanalista Valmira Forgati explica como o burnout afeta a vida profissional e pessoal de uma pessoa. “O profissional realmente vai impactar na questão produtiva, então vai ser uma pessoa muito menos produtiva, uma pessoa nervosa, irritada que não vai estar em plena funcionalidade. E na vida pessoal as relações ficam mais fragilizadas, a disposição da pessoa para tarefas diárias vai ficar muito prejudicada, a pessoa perde a vontade de socializar, de sair, de se descontrair”, diz.

Confira o aúdio em que Valmira explica as consequências físicas e emocionais do burnout a longo prazo

Valmira Forgati, psicanalista. Foto: Acervo Pessoal

A profissional ressalta a importância do tratamento com o auxílio de um psiquiatra, que será o responsável por receitar medicamentos que farão a pessoa recuperar energia e disposição. “É em uma psicoterapia que ela vai conseguir lidar com a causa, por isso é tão importante esse autoconhecimento em uma terapia e também onde ela vai encontrar nessa terapia alternativas de relaxamento que melhor encaixe na vida dela. E aí cada pessoa vai descobrindo um hobby, descobrindo uma técnica integrativa pro dia a dia, ressignificar o modo de ver a vida, ressignificar o meio ambiente do trabalho, ressignificar as relações, então isso é de grande importância”, completa.

A profissional, Alice*, que sofreu com a síndrome, expõe o quão desafiador foi esse período. “Eu passava sempre do meu horário de trabalho, a gente não era reconhecido por isso, a gente não ganhava nada a mais por isso. A gente sabia disso porque a gente não tinha como comprovar que tava trabalhando a mais. E aí acabava assim, o que você fazer de hora a mais você tá fazendo de bom coração”, conta.

Alice relata só ter percebido que precisava de ajuda especializada quando um dia, depois de tomar banho, ficou mais de uma hora deitada na cama enrolada na toalha sem ter forças para se levantar e se vestir, e também começou a rejeitar o jantar pois precisava descansar, ela estava entrando duas horas antes do seu horário normal de trabalho pois tinha muitas tarefas para realizar. Ela acabou ficando com todas as responsabilidades do seu time, que antes eram três pessoas, e depois ela ficou sozinha.

A jovem afirma que a ajuda de terapia e acompanhamento com psiquiatra foi fundamental para que ela conseguisse superar a síndrome e, aos poucos, retomar o ritmo de sua vida.

*O nome da fonte foi alterado para preservar a sua identidade.

O desenvolvedor, Daniel Campos, comenta sobre como a tecnologia e a IA podem ajudar para diagnósticos de doenças no vídeo a seguir:

Orientação: Profa Karla Ehrenberg

Edição: Melyssa Kell


Veja mais matéria sobre Destaque

Pessoas com deficiências têm seus direitos garantidos no ensino superior


Ambiente inclusivo e acessível é essencial para garantir uma vida universitária digna e justa para todos


Inteligência Artificial Movimenta a Agricultura no Brasil


Tecnologia é usada para tornar a produção mais eficiente e sustentável, impulsionando o agronegócio brasileiro no cenário global


Censo mostra aumento de centenários na RMC


Segundo a última pesquisa, a região possui 343 pessoas com mais de 100 anos; índice de envelhecimento é acima da média do estado


Procura por esportes de praia aumenta em cidades do interior


Práticas esportivas na areia auxiliam na saúde física e mental


Os benefícios da musicalização na educação infantil e infantojuvenil


Entenda a relação existente entre aulas de música, foco e o desenvolvimento humano, e como isso pode beneficiar a saúde de uma criança ou adolescente


Skatistas X Rollers: uma rivalidade antiga que ainda marca os esportes


Skatistas e patinadores podem se dar bem nas pistas, mas às vezes um momento de lazer acaba em um desentendimento histórico



Pesquise no digitais

Siga – nos

Leia nossas últimas notícias em qualquer uma dessas redes sociais!

Campinas e Região


Facebook

Expediente

Digitais é um produto laboratorial da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas, com publicações desenvolvidas pelos alunos nas disciplinas práticas e nos projetos experimentais para a conclusão do curso. Alunos monitores/editores de agosto a setembro de 2023: Bianca Campos Bernardes / Daniel Ribeiro dos Santos / Gabriela Fernandes Cardoso Lamas / Gabriela Moda Battaglini / Giovana Sottero / Isabela Ribeiro de Meletti / Marina de Andrade Favaro / Melyssa Kell Sousa Barbosa / Murilo Araujo Sacardi / Théo Miranda de Lima Professores responsáveis: Carlos Gilberto Roldão, Carlos A. Zanotti e Rosemary Bars.