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Instabilidade mental no mercado de trabalho é responsável por 285,2 mil solicitações de auxílio-doença no ano de 2020 de acordo com dados do TST
Por João Pedro Belvedere
No último dia 13 de novembro, a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) anunciou que conseguiu reunir 171 assinaturas necessárias para protocolar a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que propõe reduzir a jornada de trabalho legal no Brasil para 36 horas por semana, extinguindo a escala 6×1 e estabelecendo uma jornada de 4×3.
A proposta, amplamente apoiada por grande parte dos brasileiros, tem gerado intenso debate nas redes sociais devido à sua relevância, especialmente por abordar um tema cada vez mais discutido em plataformas como o X (antigo Twitter): a saúde mental dos trabalhadores.
No Brasil, dados do TST (Tribunal Superior do Trabalho) mostram que, em 2020, foram aprovadas 285,2 mil solicitações de auxílio-doença relacionadas a transtornos mentais, reforçando a urgência de se discutir a saúde mental no contexto laboral.
Entre os principais desafios enfrentados pelos trabalhadores está a falta de apoio e amparo para lidar com problemas psicológicos, muitas vezes agravados pela constante demanda e pressão no dia a dia. Essa realidade é exemplificada por Edevandro Almeida, servidor público que trabalha como merendeiro em uma escola pública.
“Acho que a correria do dia a dia não permite a gente conversar mais sobre o que estamos sentindo. Lá na escola, a correria é tanta que, quando percebo, o dia já acabou e estou voltando para casa. Não temos tempo para trocar experiências sobre esses assuntos. Acho que isso assusta os funcionários novos, porque geralmente são eles que sofrem mais com esses problemas e relatam para os superiores. Mas não tem muito o que fazer, já que falta tempo até para cumprir nossas obrigações diárias”, comenta Almeida.
Carolina Junqueira, coordenadora de Gestão de Projetos de RH do NuBank, reforça a importância de tratar a saúde mental como prioridade no ambiente corporativo. Ela destaca como o bem-estar psicológico do funcionário está diretamente ligado à produtividade da empresa:
“Obviamente, ninguém quer errar no meio corporativo, e eu, como líder de uma equipe, preciso deixar meus funcionários tranquilos caso cometam algum tipo de erro. Quando isso acontece, preciso avaliar se fui clara na comunicação e, então, acalmar a pessoa, orientando-a para que não repita o erro. Afinal, quando um funcionário se sente pressionado ou inseguro, ele não consegue dar 100% de si, o que prejudica tanto ele quanto a empresa. Isso é algo que precisamos evitar a qualquer custo, por ele e por nós”.
Lara Barel, estagiária de Growth Marketing da Oinc Filmes, comenta um pouco sobre suas experiências ruins no meio corporativo sendo pertencente a nova geração de trabalhadores que estão iniciando no mercado de trabalho agora:
“Atualmente é difícil encontrar alguém que não tenha passado por isso [pressão no trabalho], ainda mais em ambientes “dinâmicos” e estilo startup. Tudo tem que ser feito muito rápido e no marketing cada segundo conta para uma publicação, uma ação publicitária, enfim. Por mais que a gente tente, não tem muito como dividir o que é o trabalho e o que é a vida particular, então se o trabalho vai te sugando, você não tem mais tempo para nada, nem ânimo. Vai virando um ciclo, realmente. A produtividade precisa sempre ser alta em startups, ainda mais quando são diversos projetos juntos”. Conta a estagiária sobre sua rotina de trabalho.
Lara também comenta que já teve por burnout, e como a grande carga de trabalho acaba prejudicando seu mental completamente, tendo menos produtividade devido ao stress, criando um ciclo maléfico que atrapalhava sua produtividade e interferia no seu psicológico.
“Eu tive algumas semanas de burnout no ano retrasado porque era época de alta demanda no trabalho e provas na faculdade, a equipe tinha acabado de ser reduzida e 90% das atividades da área ficavam comigo. Atrasava uma coisa, atrasava todas, era esporro atrás de esporro e dava pra ver os dados de alcance [métricas de marketing] caindo. Mas no fim tinha que sentar e fazer. É bastante desgastante porque [o marketing] é uma área que depende muito do técnico e do criativo ao mesmo tempo e aí não faz nem um e nem outro quando está esgotado emocionalmente e psicologicamente, sabe?”
O debate sobre saúde mental no ambiente corporativo vai além da proposta da PEC apresentada pela deputada Erika Hilton, mas evidencia a necessidade urgente de criar condições laborais que respeitem os limites humanos e promovam a qualidade de vida física e psicológica.
Orientação: Profa. Karla Ehrenberg
Edição: Mariana Dadamo
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