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Boquinha de anjo: a história por trás do mais novo símbolo gastronômico e cultural da cidade de Campinas

Corte de sanduíche criado em 1960 resistiu ao tempo, virou sucesso na cidade e ganhou status de símbolo gastronômico

 Por Malu Faustino

A Câmara Municipal de Campinas aprovou o projeto de lei que reconhece o corte do lanche “Boquinha de Anjo” como símbolo gastronômico e cultural da cidade. Outro projeto em andamento propõe que o dia 10 de maio se torne o “Dia do Corte Boquinha de Anjo”.

Criado na década de 1960 por um chapeiro apelidado de “Moleza”, o corte teve origem como uma maneira de se tornar um lanche aperitivo entre os funcionários no fim do dia de trabalho.

Genilson Souza Urcino, funcionário há 30 anos e gerente do restaurante onde foi originado o corte, diz que não existia uma receita específica, porém o lanche era composto pelo pão francês recheado com as pontas de frios que não eram fatiadas e, por fim, cortado em oito pedaços.

 Processo de produção do lanche com o corte “Boca de Anjo”. (Foto: Malu Faustino)

A origem do nome

O gerente explicou que o sanduíche ajudou na conquista do público feminino que, na época, não frequentava bares. O chapeiro Moleza percebeu o sucesso que o corte fez entre as mulheres e o apelidou de “Boca de Anjo”. Após isso, elas passaram a comparecer no restaurante.

Genilson é funcionário do restaurante há mais de 30 anos e conhece bem a história do famoso corte de sanduíche (Foto: Malu Faustino)

“As mulheres ficavam do lado de fora porque os maridos não as deixavam entrar, então eles compravam e levavam o sanduíche para suas esposas degustarem. Com isso, o Moleza teve a ideia de cortar em oito pedaços. O Boca de Anjo é tão bem cortado e delicado que até uma criança consegue comer”, conta Genilson.

A Maria Lucia Jacobini, Mestre em Comunicação e Semiótica e professora da PUC-Campinas, dá uma explicação do nome do corte do ponto de vista da semiótica.

Maria Lucia Jacobini professora de Jornalismo da PUC-Campinas (Foto: Malu Faustino)

“Uma palavra, como um nome, ou até a própria comida, pode representar alguma coisa, isso significa que quando você dá um nome ao Boquinha de Anjo, você está situando aquela palavra dentro de um momento histórico, que está relacionado à origem do nome”, explica.

Ela ainda acrescenta, “quando esse lanche surge nos anos 60, foi pensado para atrair as mulheres que não frequentavam o bar e oferecer para outros consumidores uma comida que tivesse uma sensação de leveza, de doçura. Ele faz por remeter a alguns aspectos que são associados historicamente dentro do campo do feminino, como por exemplo o anjo”.

Ouça a explicação de Malu sobre a associação do imaginário social sobre a mulher o nome do lanche no áudio a seguir:

A Lei do “Boca de Anjo”

A lei 16.630 foi sancionada pelo prefeito Dário Saadi e foi publicada no Diário Oficial do Município em 25 de setembro de 2024. Outra lei também está para ser promulgada, sendo essa referente a instauração da data oficial do corte, dia 10 de maio.

O presidente da Câmara, Luiz Rossini, é o criador do projeto de lei que foi aprovado pelos vereadores. A proposta para reconhecer e preservar a cultura gastronômica campineira foi apresentada no mês de março, pela diretoria da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) Regional de Campinas aos vereadores.

André Mandetta, presidente da Abrasel Regional de Campinas, comenta que “Diversas cidades e capitais brasileiras têm seu prato típico, e Campinas agora tem o ‘Boquinha de Anjo’ como símbolo cultural e gastronômico, que é conhecido nacionalmente”. Além disso, Campinas é considerada a “Capital da Gastronomia no Interior de São Paulo”, e Mandetta acrescenta que a criação dessa lei ajuda a preservar a história do sanduíche, enriquecendo a cultura local. Nesta mesma linha, Genilson compara esse marco de Campinas ao lanche bauru, que é um prato típico da cidade de Bauru (SP). 

Manuel Paiva, cliente do restaurante onde foi criado o corte, conta sobre sua experiência durante todos os anos em que frequenta o local. “O restaurante é um ícone de Campinas. Eu acho que a rede inteira tornou-se ícone nas cidades por causa da qualidade, do atendimento”. Manuel ainda cita seu lanche preferido, chamado Sharp, que leva dentro do pão francês:rosbife, queijo tipo Palmyra, cebola, tomate, azeitonas pretas e coberto com o molho do chef. Confira a entrevista com Manuel no vídeo a seguir.

Orientação: Profa. Karla Caldas

Edição: Gabriela Lamas


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