Ciência
Durante seminário, especialistas apresentaram dados que comprovam os benefícios da ampla utilização da planta
Por: Daniel Ribeiro, Isabela Meletti e Thais Ramalho

Pelo menos 200 pessoas, reunidas em evento internacional na Unicamp, mandaram um recado para as autoridades sanitárias: é preciso pesquisar e ampliar o uso da maconha medicinal no país. Foi esta a síntese do 1º Seminário Internacional Cannabis no Brasil, promovido pelo Conselho Nacional de Política sobre Drogas (Conad/MJ) e pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). De acordo com os conferencistas, a pesquisa científica já demonstrou a alta eficácia da planta em patologias nas quais a utilização medicinal não é regulamentada no país, como doenças oncológicas, transtornos de ansiedade e dores crônicas.
A neurocirurgiã Patrícia Montagner é fundadora da WeCann Academy, comunidade internacional de médicos com formação em medicina endocanabinóide, e participou do encontro. Através dos resultados dos estudos mostrados pela ferramenta AMSTAR 2, de revisão de literatura, foi possível determinar a validade científica de artigos científicos sobre o tema, revisá-los sistematicamente e qualificá-los em uma escala que vai de “validade criticamente baixa” até “alta”. Com a ajuda do instrumento, foi desenvolvido um mapa de evidências qualificadas sobre os estudos da cannabis, no qual as pesquisas mais bem classificadas demonstraram que a maconha medicinal possui potenciais de uso maiores do que as utilizações já regulamentadas no país atualmente.

No Brasil, a maioria dos casos em que o uso da maconha medicinal é aprovada está relacionada a doenças epiléticas e ao controle de efeitos colaterais do autismo. Porém, com a ferramenta, a equipe do WeCann encontrou 71 desfechos médicos durante as revisões sistemáticas e constatou que o uso médico e a eficácia da cannabis demonstrou-se muito mais ampla do que atualmente a legislação brasileira permite. O Mapa indica que patologias como dores crônicas, transtornos psicológicos, doenças oncológicas, entre outras podem ser tão beneficiadas, ou mais, pelo tratamento à base da planta, como explica a pesquisadora no áudio a seguir:
Patrícia também acredita que os resultados dos estudos científicos apresentados podem auxiliar na “desmistificação da maconha medicinal”. Para ela, as duas maiores razões para a resistência ao uso da cannabis estão ligadas ao equívoco com a planta e à crença de que não existem estudos sérios sobre o assunto.

Paulo Pereira, sociólogo do Departamento de Relações Internacionais da PUC-SP, também participou do seminário, que aconteceu no dia 9 de maio, e categorizou alguns dos aspectos centrais a serem considerados numa regulação brasileira.
O pesquisador apresentou uma análise internacional da regulamentação da cannabis em 34 países. Segundo ele, apesar de haver muita discrepância na forma como a legislação é feita internacionalmente, basear-se em países que já possuem normas abrangentes e estruturadas é essencial. “É possível fazer análises comparativas realizando adaptações dessas experiências para incorporar em locais onde não há esse processo regulatório, como é o caso do Brasil”, afirmou.
Pereira chama a atenção para a importância da participação dos diversos atores sociais no processo de regulamentação, uma vez que todos possuem interesses pessoais ou comerciais na planta. Para o sociólogo, a inclusão de indivíduos, desde representantes da indústria farmacêutica até os pacientes que cultivam localmente “é um processo fundamental para a ampliação de uso, acesso, representatividade, desenvolvimento e outros temas relacionados à justiça social”.
Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti
Edição: Isabela Meletti
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