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Pesquisadora da moda, Roseana Sathler estudou o corset ao longo dos séculos
Por: Sophia Miranda Angelo Barbosa
Professora e coordenadora do curso de moda da Puc-Campinas, Roseana Sathler, em palestra no Ateliê Multifuncional de Moda (Ammo), na segunda-feira (30), disse que o corset – ou espartilho, em português – foi um demarcador de papeis e de classes sociais ao longo dos tempos. A vestimenta, cuja função é oferecer suporte abdominal e definir o contorno da cintura feminina, já chegou a ser usada até em crianças e ganhou, no extremo oposto, o imaginário no universo erótico dos adultos.

A palestra da docente foi inspirada em sua dissertação de mestrado desenvolvida na Escola de Artes, Ciências e Humanidades, da Universidade de São Paulo, com o título Corset: a Continuum e a impermanência simbólica na modelação da corporeidade feminina. Através de um resgate do mundo artístico ao longo dos séculos, a professora apontou como a vestimenta passou da condição de objeto rígido, exclusivo de uma elite aristocrática, para uma função e textura maleável, tornando-se acessível nos tempos atuais.
Para explicar como as transformações sociais afetaram a confecção do corset – que também já foi chamado de corpete – Roseana lembrou que, do século 16 ao século 19, a peça possuía diversas camadas. “Era estruturado por com tecidos e hastes ajustadas ao corpo por meio de amarrações”, afirmou a professora, mestre pelo programa de pós-graduação em Têxtil e Moda, da USP.
De acordo com a professora, no século 16 um dos materiais utilizados nos stays – nome pelo qual a peça foi chamada até o século 19 – eram barbatanas de baleias, produto que na época era considerado extremamente nobre, vinculado à aristocracia. A vestimenta funcionava para manter o corpo em posição vertical, acentuando o ar da superioridade aristocrática em relação ao povo.

“O vestuário era então usado como uma ferramenta de restrição social. Ou seja, tudo o que era colocado sobre o corpo estava ali por um determinado motivo”, apontou.
As peças que faziam parte da composição do espartilho na Idade Média possuíam seu próprio significado, como o busk, por exemplo, que eram anáguas consideradas parte da roupa externa, instaladas em meio aos seios, com a simbologia do amor erótico. A evolução tecnológica das peças possibilitou que os materiais usados também mudassem, sendo as barbatanas de baleia substituídas por equivalentes metálicas.
De acordo com Roseana, as regras de etiqueta também introduziram legislações acerca da postura corporal. O pertencimento a uma determinada classe social chegou a fazer com que até mesmo crianças e bebês usassem espartilhos no século 18, quando havia a ideologia da imperfeição vinculada ao corpo feminino. Como o conceito de infância ainda não tinha sido desenvolvido, a criança era vista como um adulto em tamanho pequeno, fraco e deficiente, devendo crescer de forma a cumprir funções sociais, entre as quais os papeis de esposa e mãe.
Neste sentido, o espartilho – disse Roseana – era utilizado até mesmo no período gestacional. “Quando olhamos para o passado, é muito importante lembrarmos em como as pessoas pensavam na época. É o caso da ideia de o espartilho gestacional ser algo benéfico, o que se obtinha através do suporte de uma peça”, disse Roseana.
Com a Revolução Francesa, quando houve a decadência dos valores aristocráticos, o corset passou a ser maleável e a possuir um formato menor, explicitando que a peça teve sua simbologia vinculada às normas sociais dos períodos em que foi usada. Posteriormente, quando a burguesia retomou valores da aristocracia, a peça voltou a ser extremamente rígida, moldando uma cintura constrita, demarcada como uma ampulheta, mas com o lazy lacing, que é a amarração no meio da cintura, possibilitando a colocação da peça sem a ajuda de terceiros.
Dentro desse contexto de simbologia, Roseana Sathler explicou que, no século 19, houve a massificação dos espartilhos, que tiveram seus preços reduzidos graças à produção em escala industrial. Nesse mesmo período, a relação do corpo e da vestimenta foi repensada, surgindo assim defensores de que o corset era determinante e essencial para uma mulher ser considerada saudável.
Além de teorizar a evolução da vestimenta, a professora apontou a impermanência de seus significados ao longo dos períodos históricos, quando a mulher esteve sendo vista como um modelo para as normas sociais criadas no universo masculino, no qual havia estado moldada a formas mais arredondas. No século 20, com o surgimento do culto à magreza, o corset deixou de ser indispensável à anatomia feminina. “A figura alongada, jovem e esguia era para ser desejada sem uma vestimenta que moldou o corpo da mulher por muito tempo”, ponderou a professora.
Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti
Edição: Isabela Meletti
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