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O escritor Maurício Simionato observou muros e postes, dos quais extraiu as marcas da hipermodernidade
Por: Sophia Miranda

O pesquisador e escritor Maurício Simionato e “cacos poéticos” que encontrou percorrendo as ruas centrais de Campinas (Imagens: dissertação e entrevista remota)
O jornalista e poeta Mauricio Simionato, 50 anos, publicou seu quarto livro, “Identificação de ‘Cacos poéticos urbanos’ e sua caracterização como hiperconcretismo”, que investiga potências poéticas em colagens desfiguradas e sobrepostas em postes, placas, muros, lixeiras e outras instalações encontradas e perdidas no centro de Campinas. Na obra, fruto de sua dissertação de mestrado no Labjor/IEL (Laboratório de Estudos Avançados de Jornalismo), da Unicamp, o autor analisa mais de 100 imagens utilizadas como material de pesquisa.
Pautado na ideia de olhar poético autodeclarado de imagens rasuradas e rasgadas nas vias urbanas, denominadas pelo jornalista de “cacos poéticos”, Simionato observa como esses elementos destruídos pela ação do homem ou interferência do tempo são vinculados ao hipermodernismo – uma corrente do modernismo vinculada à ideia de extremos. Na pesquisa, o autor investiga os novos significados criados a partir da invisibilidade devida ao acúmulo de informações sobrepostas e à sobrevivência ao cotidiano do ser humano.
“Eu visualizei como o caco poético muda constantemente, como uma metáfora do nosso tempo, que gera um acúmulo constante de signos aleatórios”, avalia o escritor.
Na obra, lançada pela Editora Dialética, Simionato apoia-se, principalmente, no conceito de hiperconcretismo movimento baseado no concretismo brasileiro dos anos 50 e 60, voltado para o ideário de que signos e significados de poesias visuais, que se misturam, carregam o peso de marcas individuais no espaço-tempo urbano de circulação. O efeito faz com que essas imagens fragmentadas, “que ardem e gritam” na interpretação do pesquisador, clamem pelo olhar humano, a fim de que sejam interpretadas, mesmo que o tempo interfira constantemente.
“Comecei a imaginar essas imagens nas vias urbanas, sobrepostas e rasuradas, como uma espécie de ready-mades, mas a céu aberto, como imagens que vão se destruindo e se desfazendo”, pondera o poeta, que classificou os “cacos” como objetos do mundo cotidiano dotados do sentido subjetivo de uma obra de arte. Descobri-los equivale, portanto, ao ato de desvendar poesias perdidas nas ruas, que possuem formatos de anúncios, propagandas, colagens aleatórias e sinalizações de trânsito expostos e destruídos pelo cerne do homem e do tempo.
Dentro desse contexto de efemeridade e degradação, o pesquisador abre um leque de questões acerca de como esse tipo de informação despejada ao extremo que formata os “cacos” possui o elo da comunicação e sociabilidade do humano como um indivíduo. É, assim, o desejo de se comunicar em um ambiente urbano e individualista que gera esses poemas visuais, “como os homens das cavernas, que deixavam marcas rupestres”, compara.
Em paralelo a esse pensamento, Simionato – também autor de “Auroras e Crepúsculos” (Multifoco, 2017) – classifica esses supostos objetos poéticos como significado a uma crítica ao tempo, como o narcisismo humano de querer se sobrepor ao outro, mesmo que cause rasuras e se desmanche ao longo do seu caminho, deixando explicito a relação do homem com um anúncio destruído em um poste. Ou até mesmo como a destruição dessas imagens acabam por expor a verdadeira opinião de alguém.
“A interferência de raiva pode até mesmo ter potencializado a mensagem, como se alguém não concordasse”, cita o escritor ao analisar o cartaz que questiona quem matou a vereadora carioca e ativista Marielle Franco.
Para a construção de sua dissertação de mestrado, orientada pelo professor Celso Bodstein, doutor em multimeios, Simionato guiou o olhar poético em passeios pelas ruas da metrópole, a fim de buscar a identificação dessas células poéticas urbanas. “Fui andando pelas ruas do centro de Campinas, durante dois anos mais ou menos, e formei roteiros aleatórios, com o olhar focado nos cacos poéticos urbanos”.
Em seu livro, o jornalista visualiza muito além do ideário básico na aleatoriedade inscrita nas mensagens do ambiente urbano. O poeta enxerga, através de teorias de estudos de imagens e poesia visual, pautado por diversos estudiosos, as poesias e os poemas inscritos em superfícies perdidas e invisíveis ao olhar do homem. São poesias – ou cacos – que gritam em silêncio por não serem vistas, por estarem perdidas nos trajetos percorridos no espaço público, onde todo o tecido social circula e sobrevive ao apelo do desespero de um cotidiano desconexo e confuso, como poesia urbana.
Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti
Edição: Daniel Ribeiro
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