Destaque
Pedagoga Tatiana de Camargo dedicou-se a estudar comunidade de venezuelanos na cidade de São Paulo para sua investigação científica
Por: Ana Beatriz Tocoli, João Vitor Bueno e Lívia Nonata
A professora e pedagoga Tatiana de Camargo desenvolveu uma pesquisa sobre o papel da apropriação da língua para a inserção de refugiados venezuelanos na cultura brasileira. A pesquisa teve como objetivo mostrar como esses refugiados podem ser inseridos de forma gradual na cultura do país que o acolheu através de elementos como documentários, vídeos, fotografias, pinturas, músicas, poemas e literatura, fazendo isso de forma espontânea, assim como estimulando o entendimento da língua portuguesa.
“A minha motivação foi por conta da minha profissão. Na época eu dava aulas para refugiados que vinham do Haiti quando teve o terremoto, depois eu comecei a ir à casa de crianças sírias, como um apoio pedagógico. Esse trabalho como alfabetizadora me motivou”, revela Camargo. A pesquisa foi divulgada em janeiro deste ano e foi produzida como uma dissertação de mestrado, com apoio da PUC-Campinas.
Sérgio Max, responsável pelo Serviço de Referência aos Imigrantes, Refugiados e Apátridas da Prefeitura de Campinas, explica que a pesquisa feita por Camargo traz dados e diagnósticos fundamentais que são capazes de nortear a implementação de políticas públicas, “aquelas que precisamos continuar, avançar e aquelas que precisam ser revistas”, destacou.
Para causar um efeito que pode ser visto na prática, a pesquisa de Camargo passou por um extenso processo de apuração e observação, adotando uma estrutura definida para facilitar o controle dos dados levantados. Os participantes eram todos adultos venezuelanos, o recorte geográfico foi definido devido ao “boom” desses imigrantes no país. “Além disso, eles aceitaram participar, né?”, brincou Camargo. Essas pessoas foram entrevistadas em uma Organização da Sociedade Civil (OSC) de São Paulo, cujo nome não foi revelado a pedido da pesquisadora.
Segundo levantamento do informativo mensal do Subcomitê Federal para Recepção, Identificação e Triagem dos Imigrantes, de 2018 até o ano passado, o Brasil registrou a entrada de mais de 700 mil venezuelanos. Já em Campinas (SP), somente entre janeiro e fevereiro, a Prefeitura de Campinas atendeu 165 refugiados, 43% deles vindos da Venezuela. O que representa 51% do total de atendimentos feitos durante o ano de 2021.
As entrevistas foram feitas durante cinco meses. No total ocorreram 20 encontros semanais com duração de duas horas cada, no período de agosto de 2021 até dezembro do mesmo ano. Nesses encontros foram desenvolvidas atividades com o objetivo de produzir narrativas a partir das temáticas que eram levadas e levantadas em grupo. O material artístico era usado para deixar o grupo mais à vontade para falar sobre a experiência deles vivendo no Brasil. Mais confortáveis, os entrevistados falaram sobre os problemas enfrentados. Entre eles, destacaram-se as desigualdades sociais, a falta de moradia digna e o desemprego. Além disso, muitos refugiados enfrentam dificuldades para se adaptar à cultura do país que os recebe e para aprender a língua local. A pesquisa também aponta que as questões envolvidas no refúgio podem estar relacionadas a diversos motivos sociais, econômicos e políticos, este último, por vezes, envolve perseguição, conflitos e violação de direitos humanos. “Sem falar nossa língua, eles não conseguem se sair bem em entrevistas de emprego, em conseguir moradia, em dar continuidade aos estudos, nem mesmo em criar laços de amizade com brasileiros”, afirmou Camargo.
Max destacou que a principal ação da prefeitura para integrar os refugiados venezuelanos é fornecer um espaço de acolhimento, ouvir e auxiliar quanto às necessidades individuais de cada um. Ele explicou que “nessa escuta atenta, humanizada, são referenciados os diversos serviços públicos que nós temos”, nessa parte entram as pesquisas, mais especificamente da língua, já que o imigrante precisa se comunicar com a população. Além de que, “referenciar que ao chegar no Brasil, os imigrantes refugiados passam a ter os mesmos direitos básicos do cidadão brasileiro, na questão da saúde, da educação, de empregabilidade e acompanhamos esse primeiro passo”, complementa Max.
Para desenvolver o estudo, Camargo encontrou algumas dificuldades. “Foi uma pesquisa inovadora, foi difícil de encontrar referências. Sem muito embasamento teórico, a principal dificuldade foi desenvolver uma metodologia que funcionasse pensando na cultura de cada entrevistado”, finaliza Camargo.
Empoderando Refugiadas
A ACNUR promove, junto a Rede Brasil do Pacto Global e ONU Mulheres, o projeto “Empoderando Refugiadas”, uma iniciativa que auxilia mulheres refugiadas na inserção no mercado de trabalho. O projeto oferece treinamento profissional para mulheres refugiadas e promove parcerias com empresas privadas para identificar vagas de emprego que possam ser preenchidas por elas.
A rede de shoppings Iguatemi possui parceria com o projeto para a contratação de venezuelanos em Campinas. Antes de firmar parceria com o projeto da ACNUR, o Iguatemi Campinas já possuía pessoas refugiadas em seu quadro de funcionários, entre eles três nigerianos e um dominicano. Através do projeto Empoderando Refugiadas, o shopping passou a trabalhar também com pessoas da Venezuela.
Orientação: Prof. Artur Araujo
Edição: Suelen Biason
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