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Pesquisa busca aprimorar a acessibilidade para surdos

Conduzido pela Unicamp, estudo com Prefeitura de Campinas visa mapear dificuldades de deficientes auditivos graves

Por Lara Santana e Laura Nardi

A rotina do campineiro é corrida, e, em locais como bancos, lojas e hospitais, o atendimento, muitas vezes, deixa a desejar. Agora, imagine alguém tentando se comunicar em uma bancada e, do outro lado, a outra pessoa não entender nada. Segundo a fonoaudióloga e pesquisadora da Unicamp Nubia Vianna, essa é a realidade das pessoas surdas que frequentam serviços de saúde públicos de Campinas e região.

A presença de alguém que soubesse Libras nos hospitais facilitaria muito a minha vida”, diz João Pedro (Foto: Acervo Pessoal)

João Pedro Acciari, 25 anos, é surdo e concedeu entrevista ao Digitais por meio de mensagens escritas, já que domina o português, além das Libras (Língua Brasileira de Sinais). De acordo com ele, a falta de acessibilidade comunicacional para os surdos nos espaços de saúde da cidade e região dificulta a realização de consultas e exames.

“Sou usuário do implante coclear, então até consigo me virar quando vou ao hospital. Mas muitas vezes já saí do atendimento insatisfeito, por não conseguir compreender tudo sempre. Quando tenho sintomas mais fortes ou é um problema mais sério, peço que os profissionais de saúde liguem para a minha mãe para poder receitar medicamento”, disse ele, alegando que nunca foi atendido por alguém falante de Libras nas unidades de saúde que já frequentou.

João Pedro faz parte das 124 mil pessoas com deficiência auditiva que vivem na Região Metropolitana de Campinas. Esta parcelacorresponde a 4,43% da população da região, segundo o último censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,), em 2010 (os dados do último censo ainda não foram disponibilizados).

Ainda de acordo com o órgão, no Brasil a grande maioria deste grupo é formada por surdos oralizados (pessoas que utilizam aparelhos auditivos ou que conseguem fazer leitura labial). Contudo, essas capacidades não são suficientes para que eles não passem por dificuldades de comunicação.

Se há barreiras para os surdos oralizados, como fica a situação daqueles que não escutam completamente e necessitam utilizar Libras para se expressar? Esse questionamento motivou a fonoaudióloga e pesquisadora da Unicamp, Núbia Vianna, 39 anos, a realizar um estudo que busca averiguar a acessibilidade em Libras nos serviços de saúde na região.

Núbia Vianna, pesquisadora e docente da Unicamp (Foto: Acervo Pessoal)

“Estou imersa na comunidade surda há bastante tempo. Temas relacionados a essa parcela da população sempre me acompanharam em outras pesquisas, e um questionamento que eu faço sempre nos meus estudos é como as pessoas surdas podem se comunicar na nossa sociedade. Identifiquei, na prática, que essa preocupação é ainda maior em relação à acessibilidade na área da saúde”, afirmou Núbia, explicando que há uma carência de criação de políticas públicas de acessibilidade na saúde pública de Campinas e região.

Desenvolvimento da pesquisa

A primeira fase do estudo foi realizada em 2021 e tinha o objetivo de traçar a quantidade e as principais características das pessoas surdas da RMC. Com a participação de 188 pessoas, a etapa consistiu no preenchimento de formulário online acessível em Libras, que investigou informações como idade, grau de escolaridade, condições de saúde e uso dos serviços públicos.

Nesta primeira etapa, a pesquisadora revelou que sua maior dificuldade foi convencer a comunidade surda a participar do levantamento. “A comunidade surda é bastante desconfiada, então quando a gente pede dados e informações de cunho pessoal, eles ficam com receio. Por mais que a gente tenha um rigor ético na pesquisa, como um termo de consciência e vídeos explicativos e tudo mais, muitas pessoas não respondiam ao formulário por causa disso”.

Criação de políticas públicas

Professora Nubia e Laura Sabrinny de Sá Pereira, estudante de Medicina da Unicamp, na Feira do Empreendedor Eficiente em Campinas divulgando a pesquisa. (Foto: Acervo Pessoal)

Já a segunda fase da pesquisa conta com o apoio da Secretaria de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos da Prefeitura de Campinas. O objetivo é ampliar o alcance, por meio de contato telefônico, mensagem escrita, videochamada e de forma presencial a aproximadamente 450 surdos assistidos pela CIL (Central de Interpretação de Libras), serviço municipal que oferece profissionais de tradução e interpretação de Libras para acompanhar a pessoa surda em instituições públicas.

Vandecleya Moro, secretária de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos de Campinas, destaca que o apoio ao planejamento de ações e políticas mais inclusivas é fundamental para assegurar que todos os cidadãos tenham acesso equitativo aos serviços de saúde, independente de suas condições pessoais.

Nubia também diz que, com o encerramento da coleta de dados e o início da análise estatística, começará uma nova fase da pesquisa: a interpretação desses resultados. “Acreditamos que até o fim do ano essas etapas estejam concluídas e vamos divulgá-las para comunidade científica, comunidade surda, poder público e também imprensa”.

A pesquisadora tem a expectativa de que a pesquisa a auxiliará a elaborar um relatório, que futuramente será encaminhado às secretarias de saúde e assistência social da Região Metropolitana de Campinas. O objetivo é tornar visível as dificuldades do acesso à comunicação, para que dessa forma os órgãos tomem consciência e criem medidas.

Orientação: Prof. Artur Araújo 

Edição: Suelen Biason


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