Ciência
Pesquisadora aponta o tratamento como uma forma de restaurar essa função sensorial em quem teve sequelas da Covid-19
Por: Guilherme Frezzarin, Natalia Antonini e Pedro Capoulade
Desde o início da pandemia de Covid-19, a perda de paladar tornou-se um problema crescente, com um estudo de 2020 da Universidade King’s College de Londres indicando que 59% dos pacientes positivos para a doença viveram essa situação. Em alguns casos, esse efeito colateral persistiu mesmo após a recuperação da infecção, como indicado em um artigo científico de 2021 do British Medical Journal (BMJ), que estimou que 5% das pessoas que contraíram a Covid-19 continuam sem olfato ou paladar.
Esse desafio motivou a pesquisadora Leticia Fernandes Sobreira Parreira, mestre em Ciências da Saúde, a explorar novas abordagens para restaurar essa função sensorial. Durante seus estudos na PUC-Campinas, Leticia questionou se a terapia a laser, um tratamento eficaz para a mucosite oral – inflamação da mucosa bucal comum em pacientes submetidos a tratamentos de câncer – poderia também ser usada em pacientes que tiveram a Covid-19. Ela se perguntou: “já existem artigos que mostram os benefícios para a mucosite oral, por que não podemos usar para perda de paladar na Covid-19? Não tínhamos como montar, ou nos basear, em um protocolo, pois não tem nada na literatura. Por isso, buscamos adaptar o tratamento da mucosite oral para a Covid-19”, afirmou a cientista.
O tratamento contra a mucosite oral utiliza o laser de baixa potência, que usa níveis baixos de luz. A cientista se aprofundou em artigos relacionados a essa patologia. A intenção era encontrar algo que o paciente não precisasse tomar em casa, e que não fosse nem um pouco invasivo.
A pesquisadora comentou que a ideia do projeto surgiu em 2020, enquanto estava na equipe de pesquisa da PUC-Campinas, quando foi afetada pela doença em novembro daquele ano, e recebeu sugestões de professores para que ela testasse o laser em pacientes.
Durante o estudo, foi descoberto que o grupo que fez a aplicação com o laser de baixa potência em 18 pontos da borda lateral da língua e das glândulas salivares, apresentou resultados promissores e melhora dos sintomas mais rapidamente do que os que utilizaram outra terapia, a luz FMB (fotobiomodulação) associada à terapia olfativa. A fotobiomodulação (FMB) é uma forma de terapia a laser ou de LED que utiliza comprimentos de onda de luz específicos para estimular, curar, regenerar e proteger o tecido que foi danificado.
Esses procedimentos com laser de baixa potência foram realizados semanalmente, com testes de sabor e questionários qualitativos, até que os sintomas diminuíssem ou por um período de até dois meses. Adicionalmente, os pacientes participaram de sessões de terapia olfativa, inalando os aromas de limão, cravo, rosa e eucalipto por vinte segundos, duas vezes ao dia, durante dois meses.
Leticia acredita que a terapia a laser tem um potencial significativo para tratar a perda de paladar, e expressa a esperança de que essa pesquisa possa ser expandida e otimizada: “O protocolo que desenvolvemos pode ser ajustado, potencialmente diminuindo a quantidade de energia utilizada e o tempo de tratamento desses pacientes, permitindo uma reabilitação mais rápida”.
Orientação: Prof. Artur Araujo
Edição: Suelen Biason
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