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A produtora cultural e guia turística Julia Madeira detalha como o Rotas Afro resgata histórias
Por: Rafael Lazzari Smaira
O Rotas Afro busca enaltecer a História e memória da comunidade negra das cidades de Campinas, Piracicaba, Vinhedo e Rio Claro, no interior de São Paulo, através de caminhadas que percorrem pontos turísticos e históricos das cidades. Conforme conta a criadora do projeto e guia turística Júlia Madeira, de 24 anos, “o projeto busca uma nova narrativa negra, baseada em pertencimento e em admiração das contribuições negras para a História brasileira”.
A partir dessa perspectiva de valorização, a anfitriã do Rotas Afro aponta que um dos objetivos do projeto é superar as narrativas que se restringem apenas às mazelas da escravização e discriminação racial, evidenciando episódios de resistência e figuras de destaque na luta por igualdade racial.

Júlia explica que os roteiros iniciam com panoramas da História do Brasil de forma ampla e vão ganhando recortes de acordo com a especificidade da região em que o evento está sendo realizado. “Tratamos do Jongo, da Capoeira, da Umbigada e outros movimentos culturais característicos do oeste paulista que devem ser valorizados”, narra a produtora.
De acordo com a guia turística, além dos assuntos propostos, cada rota é permeada pelas contribuições dos participantes. “Atualmente atendemos grupos bastante diversos, com estudantes, professores, pesquisadores, além do público amplo. E a partir dos saberes e vivências das pessoas, a rota vai sendo moldada”, afirma.

Na esfera da Educação, Júlia diz que “o Rotas Afro pode ser lido como uma ferramenta da lei nº 10.639”, que prevê a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afrobrasileira nas escolas. Para a anfitriã do projeto, “é possível inserir nosso roteiro em qualquer grade curricular. Abordamos colonização, período de escravidão e abolição, que são conteúdos de Ensino Fundamental. Já para o Médio, propomos reflexões sobre memória e análises de contexto, exercícios necessários para vestibulares”, define.
A anfitriã do Rotas também aponta que, além dos conteúdos programáticos, as interações espontâneas proporcionadas pelo caminhar na cidade são ricas para o aprendizado dos estudantes. “É essencial sair da sala de aula, ver a vida como ela é. A rua tem a sua pedagogia e isso fornece um repertório muito grande”, defende.

Início do caminho
A execução do projeto teve início em 2019, em Piracicaba. Júlia conta que o roteiro na cidade é baseado nos trabalhos do geógrafo, historiador e arquivista Noedi Monteiro e do filósofo e professor Antonio Filogenio de Paula Junior, que dedicaram suas trajetórias acadêmicas a pesquisar a História negra na região. Segundo a produtora, o Rotas Afro começou com o objetivo de dar continuidade aos trabalhos dos dois pesquisadores.

Já em 2020, durante a pandemia, Julia se uniu ao pesquisador de História da África e professor Guilherme Oliveira, de 24 anos. Atualmente, Julia e Guilherme dividem os trabalhos no Rotas Afro entre investigação, planejamento e execução de novas rotas, “Além de um pesquisador competente, o Guilherme é professor na rede pública. Esse olhar para a educação traz uma contribuição gigante para nossa parceria”, pondera Júlia.

Trilha para o futuro
Ao tratar dos planos de expansão, a produtora cultural revela que, a partir do segundo semestre de 2023, o projeto contará com roteiros históricos com realidade virtual no metaverso, tornando a experiência acessível a partir do meio digital.
Além disso, Julia e Guilherme planejam expandir as rotas para o litoral de São Paulo. “Nossa ideia é conectar as cidades. Durante as primeiras décadas de colonização, o Brasil teve ocupação litorânea e só posteriormente no interior. Então essa conexão é essencial para refletir sobre os processos históricos ocorridos aqui”, justifica.

Como caminhar junto
De acordo com Julia, os ingressos para participação do Rotas Afro estão disponíveis na plataforma Diáspora Black, que reúne experiências de afroturismo em todo o Brasil. Além da plataforma, outras informações sobre o projeto podem ser obtidas no instagram oficial, @rotasafro.
A produtora também conta que a próxima atividade será uma edição especial no dia 08 de abril, às 9h. O trajeto será finalizado na Catedral Metropolitana de Campinas para integração à tradicional lavagem das escadarias da catedral, cerimônia que marca a luta antirracista e se tornou Patrimônio Imaterial de Campinas em 2022.
Orientação: Prof. Artur Araújo
Edição: Suelen Biason
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