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ONGs e protetores têm dificuldades para conseguir encontrar um lar definitivo para animais abandonados ou atropelados pelas ruas da cidade
Por Letícia Almeida
Porte, cor, sexo e idade. Essas são algumas das características que dificultam a adoção de inúmeros animais abandonados e acolhidos em abrigos e lares temporários. A pandemia fez com que muitas famílias adotassem pets, no entanto, segundo pesquisa realizada pela Ampara Animal, o abandono cresceu 61% entre junho de 2020 e março de 2021. Com isso, a demanda de trabalho de ONGs e protetores independentes também aumentou, sobrecarregando abrigos e deixando muitas instituições com dificuldades para se manter.
Em meio a esse cenário, a situação é agravada pela predileção de algumas pessoas por perfis específicos de animais, como os filhotes, por exemplo. Assim, muitos cães e gatos adultos acabam sendo excluídos no momento da adoção.
Tania Reis é protetora independente e faz parte do grupo Quem Ama, Protege, que atua resgatando e abrigando animais desamparados. Segundo Tania, a maioria das pessoas busca animais de porte pequeno e de raça. “Os animais menos procurados são os SRD (sem raça definida), vulgarmente chamados por vira-latas, que aumentam diariamente, em grande escala, na ONG. Com isso, nosso sofrimento aumenta demasiadamente, visto que pouquíssimas pessoas têm interesse por eles, que são amorosos, carentes e sofridos pelo descaso”, disse ela.
Segundo a protetora, mesmo na adoção de animais adultos, só há sucesso quando eles são de raça e que os SRD praticamente não têm chances de serem adotados. “Fazemos constantes campanhas de incentivo para adoção de animais adultos e idosos nas redes sociais, em locais que visitamos, eventos que organizamos, mas quase ninguém se interessa, tanto pelo pouco tempo que terão ao seu lado, quanto pelos gastos que os animais ainda podem proporcionar pela idade. Ou seja, não existe amor por esses pobrezinhos”, afirma.
Flávio Lamas, presidente da Associação Amigos dos Animais de Campinas (A.A.A.C), diz que os perfis mais procurados no momento da adoção são os filhotes e, preferencialmente, as fêmeas. Quando os filhotes chegam à entidade, logo são cuidados e vermifugados, com o intuito de conseguir rapidamente adoção, já que o passar do tempo faz as chances diminuírem. “A partir dos quatro meses já começa a ficar mais difícil. O animal fica maiorzinho e é mais complicado de doar”, disse Flávio. Ele relata que o porte do cão também influencia no momento da adoção. “Uma boa parte das pessoas hoje quer um cão para apartamento. As casas estão cada vez menores, então isso já dificulta um pouco. Mas mesmo assim, a gente ainda vê adoções para casas”, afirma.
Segundo Flávio, animais adultos e idosos são os que mais enfrentam dificuldades para conseguir um novo lar e, geralmente, já tiveram uma família e foram abandonados. Ele diz que o abandono do idoso é o mais triste que existe, uma vez que o animal perde toda a referência humana que teve ao longo de sua vida. Quando a adoção ocorre, torna-se um momento muito especial. “Poucas pessoas preferem um idoso e essa é a adoção prêmio da gente, do ano. Quando doamos um desses, a gente não aguenta a emoção de ver o bichinho encontrando um lar para ter um final de vida com dignidade”, disse.
Rejeitados
A ONG Cãoração Valente surgiu na pandemia justamente por conta do aumento do abandono nesse período. Michelli Tripoli, uma das fundadoras da ONG, já atuava há mais de 20 anos como protetora independente e relata que o porte, a cor e o sexo do animal fazem diferença na hora da adoção. Segundo ela, a idade pode não ser um empecilho para a adoção se o animal for de porte pequeno. “Cachorro é filhote até um ano. Se ele é pequeno, consegue ser adotado até os dois anos. Se é de porte grande, até os cinco meses. Se for grande, macho e preto, a chance é quase zero. Eles são quase inadotáveis”, lamenta.
Michelli conta que a ONG não possui um abrigo e que os animais ficam nas casas dos protetores temporários. Atualmente, há mais de 100 animais com esse perfil na ONG, que são excluídos na adoção. Para tentar reverter o quadro, a ONG faz campanhas nas redes sociais, compartilhando fotos e contando as histórias desses animais.
Além disso, há algumas estratégias utilizadas para alavancar a adoção desses cães e gatos. Quando os filhotes são resgatados, os de cor preta são os primeiros a serem levados às feirinhas de adoção. Os animais adultos também recebem atenção especial. “Pegamos dois ou três adultos e trabalhamos com eles até conseguirmos uma família. Nas feiras, eles não ficam no gradil, mas na guia, com um protetor. Não adianta colocar estes cães no gradil, porque as pessoas não se aproximam”, disse ela.
Castração
A castração é o melhor método para evitar a reprodução em longa escala de cães e gatos e, consequentemente, o número de animais em situação de vulnerabilidade e o abandono. Além disso, castrar prolonga a expectativa de vida dos pets, já que reduz as fugas para a rua, que podem resultar em brigas e atropelamentos. A castração também evita doenças nas glândulas mamárias e úteros das fêmeas, além de tumores testiculares nos machos. Comportamentos indesejados, como agitação excessiva, demarcação de território e agressividade também são evitados ao castrar.
A prefeitura de Campinas promove campanhas de castração gratuita de cães e gatos por meio do Castramóvel, ônibus adaptado que percorre os bairros da cidade. A iniciativa é do Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal (DPBEA), órgão da Secretaria do Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da prefeitura municipal.
Além da iniciativa do município, as ONGs e os protetores independentes se empenham para castrar todos os animais que são resgatados diariamente. Michelli Tripoli conta que os animais doados pela Cãoração Valente são castrados, com exceção dos filhotes. Quem se responsabiliza que castração destes animais quando puderem fazer o procedimento são os tutores, segundo Michelli.
Em agosto passado, a ONG realizou uma ação onde conseguiu castrar 80 gatos que vivem na região do Terminal Central, em Campinas. Michelli disse que esses animais eram frequentemente maltratados no local, o que fez com que a ONG também realizasse uma campanha de conscientização na região do camelódromo do terminal. “Conseguimos conversar com o responsável do camelódromo para conscientizar os lojistas de não maltratar os gatos que vivem no Terminal”, disse ela.
Tania Reis diz que o grupo Quem Ama, Protege sempre realiza campanhas de castração e se preocupa com o destino dos animais, evitando que caiam nas mãos de pessoas mal intencionadas. “Somente doamos animais castrados, principalmente se for de raça para não caírem nas mãos erradas e virarem matriz em canis clandestinos”, explica.
Os animais doados pela A.A.A.C também são castrados. Os filhotes são doados sob a condição do tutor se comprometer em castrar. Além disso, os animais da associação estão sendo microchipados para melhor identificação. “Com isso, se o animal se perder e for levado a um pet shop, o veterinário já conseguirá identifica-lo”, explica Flávio.
Em Campinas, o Sistema de Microchipagem e Cadastramento Animal foi lançado em 2015 pela Secretaria do Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, no período do então prefeito Jonas Donizete. O microchip é implantado na pele do animal. O serviço é gratuito.
Como ajudar
Quem quiser ajudar o grupo de protetores independentes Quem Ama, Protege pode fazer doações de ração, medicamentos e em dinheiro. Também é possível ajudar oferecendo lar temporário, colaborando com o pagamento de consultas e exames, oferecendo carona solidária para animais que precisam ser transportados de um lugar a outro, colaborar nas feirinhas de adoção e na divulgação nas redes sociais.
Para quem deseja adotar um animal, os protetores realizam feiras aos fins de semana no Centro de Convivência de Campinas, onde os interessados passam por entrevistas antes da adoção com o objetivo de evitar o abandono, caso não queiram ficar futuramente com o animal. A adoção também pode ser on-line. Para mais informações, o Instagram do grupo é @quemamaprotege. O grupo também realiza bazares e rifas para arrecadar fundos.
A Associação Amigos dos Animais de Campinas (A.A.A.C) conta com o apoio de doações para arcar com os altos custos mensais. É possível ajudar a entidade tornando-se um associado e contribuindo com um valor fixo, mensalmente. Para isso, basta preencher o formulário disponível no site oficial da associação (inserir hiperlink). Os associados recebem todo mês uma cartinha com informações sobre a causa animal, eventos da A.A.A.C e prestação de contas.
Para quem deseja adotar um animal, é possível preencher o formulário on-line ou participar da feira de adoção que ocorre mensalmente na Cobasi da avenida Orosimbo Maia, em Campinas. Também é possível fazer doações diretamente nas contas da instituição. O Instagram da associação é @aaac_oficial. A associação também conta com um bazar.
A ONG Cãoração Valente realiza feiras de adoção semanalmente no Campinas Shopping, aos sábados e quinzenalmente no Shopping Prado, ambos em Campinas, também aos sábados. Para quem deseja ajudar, é possível tornar-se um padrinho realizando doações mensais com valores fixos. Também são aceitas doações em qualquer valor através da conta bancária e do pix, além de doações de medicamentos e acessórios como roupinhas, brinquedos e coleiras. A ONG também aceita novos voluntários. O Instagram é @caoracaovalente.
Orientação: Profa. Cecília Toledo
Edição: Ana Clara Ornelas
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