Destaque

Jornalismo político contribui para a democracia do país

Palestrantes da mesa não pouparam críticas ao tratamento e ataques do governo Bolsonaro aos jornalistas

Por: Sophia de Castro

“Não pode haver neutralidade jornalística quando as instituições estão sendo constantemente atacadas”, avaliou o jornalista Maurício Simionato, que participou na manhã de terça-feira (13) da Jornada de Jornalismo da PUC-Campinas. O evento também contou com a presença dos jornalistas Dario “DJota” Carvalho, assessor de imprensa da Câmara Municipal de Campinas e diretor de Jornalismo da TV Câmara Campinas e, remotamente, a jornalista Soraya Aggege, diretora da empresa Reserva Comunicação e Estratégia Ltda. A jornalista atua há 34 anos como repórter em várias editoriais em veículos de comunicação e também em assessorias e consultorias política.

Durante os debates da Jornada de Jornalismo, que este ano teve como tema “O jornalismo em ano de eleições”, foram abordados temas como as ameaças à democracia, a importância da política e o atual papel dos veículos de imprensa durante o período de eleição

Dario Carvalho contou como seu envolvimento em assuntos políticos nos movimentos estudantis, ainda na Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas, impactou na sua formação como cidadão e jornalista. Para ele, a política é inevitável e, portanto, é fundamental discuti-la dentro do jornalismo, “que é uma ferramenta de transparência”.

Dario Carvalho: “Não é questão de gostar ou não gostar, mas todo mundo faz política” (Foto: Júlia Garcia)

Segundo o jornalista, a política está presente na vida do cidadão. “Não é questão de gostar ou não gostar, mas todo mundo faz política”, disse. Para ele, o jornalismo sério e comprometido com seu papel social deve difundir informações corretas para que a população se torne empoderada. Ele criticou o uso indevido das redes sociais no compartilhamento de fake news e a busca pela audiência, principalmente em ano eleitoral. “Há uma necessidade de informação de qualidade, e a boa matéria não deve buscar apenas os clicks nas redes sociais”, ponderou.

Para Djota, como é conhecido no meio jornalístico, a eleição do atual presidente Jair Bolsonaro foi resultado da forma como os veículos de imprensa atuaram em 2018. Na sua opinião, durante a última eleição houve um excesso de publicações envolvendo a imagem do então candidato. O jornalista comparou a cobertura das ações de 7 de setembro deste ano aos acontecimentos de 2018.

Para Soraya Aggege o atual cenário político do Brasil amedronta e coloca jornalistas em risco (Foto: Júlia Garcia)

De forma análoga, a jornalista Soraya Aggege defendeu a ideia de que o jornalismo e a política são dependentes. “Coexistência é fazer política e nunca separamos jornalismo da política”, declarou. Na sua opinião, a sociedade precisa de informações de qualidade e é fundamental a presença da imprensa para a manutenção da democracia. “O problema é que, diante das agressões contra a imprensa, há muitos repórteres amedrontados”. Além da violência contra os profissionais de imprensa, ela alertou para a ‘guerra de judicialização’ que se abate sobre a política brasileira.

Para Soraya, apesar das violências e agressões sofridas pela sociedade e políticos, o jornalista não pode deixar de usar a “roupa de repórter, ou seja, deve ser chato e crítico na sua atuação profissional”. Ela lembrou que muitos jornalistas, principalmente mulheres, têm feito cursos de defesa pessoal para se protegerem de ataques em manifestações e coberturas de rua. “Jornalista não pode ter medo, mas precisa ter segurança”, disse.

Maurício Simionato defende o fortalecimento de sindicatos e associações para preservar jornalistas (Foto: Júlia Garcia)

Maurício Simionato, que atualmente assessora o Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, ressaltou a importância da cobertura política na imprensa, já que “a classe política dá respaldo para que crimes sejam cometidos”. Além disso, ele defende uma educação básica, que desenvolva uma consciência crítica da política na população, pode ser uma solução de combate às fake news que ameaçam a democracia.

Para Simionato, que foi repórter de vários veículos de comunicação, como a Folha de S.Paulo e fez coberturas de vários crimes políticos no país, é importante que a sociedade acompanhe a política e o trabalho dos políticos. “Ninguém deve ser isento da política, já que ela está presente em tudo na nossa vida. Quem se diz neutro na política se aproxima do fascismo”, afirmou. Ele defendeu o fortalecimento de sindicatos e associações para preservar jornalistas.

Na sua opinião, quando a democracia está em risco – como nos dias atuais em função das críticas do governo Bolsonaro e parte da população às instituições do país – não pode existir neutralidade. Além disso, ele destacou que a naturalização, por parte da mídia, de personalidades políticas que possuem tendências fascistas, fez com que a democracia fosse colocada em risco.

Orientação: Profa. Cecília Toledo

Edição: Marina Fávaro


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