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ONG que atua na Região do Taquaral, em Campinas, atende mais de 50 instituições beneficentes
Por: Mariana Neves e Melyssa Kell
Campinas registrou um aumento de 17% entre os anos de 2020 e 2021 de famílias vivendo na extrema pobreza. Os dados são da Secretaria Municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos. Esse agravamento da situação social impulsionou a sociedade civil a criar a Bancada Solidária do Taquaral com o objetivo de concentrar esforços para ajudar quem está em situação de vulnerabilidade na cidade, por meio de parcerias com instituições que fazem o remanejamento das cestas recebidas à população que por elas é atendida. Hoje, o projeto que conta com 32 integrantes, necessita de voluntários e mais doações, além do apoio de empresas de Campinas.
“A gente não chegou e falou: e aí, vamos formar uma ONG?. Ela nasceu, ela nos abraçou, e hoje nós somos responsáveis por ela”, comenta Ana Carolina Güth, mais conhecida como Nina Güth, participante do projeto desde 2020 e, atualmente, presidenta. O projeto começou no início da pandemia com um formato diferente do atual, anteriormente, pessoas em estado de necessidade ficavam no kartódromo da Lagoa do Taquaral. “A primeira coisa que surgiu ali no kartódromo foi o Varal Solidário […] literalmente um varal, de ponta a ponta no portão onde colocavam os lanches. Pão com presunto e queijo, suco de uva, com tangerina e fez um kitzinho. As pessoas começaram a passar e pegar… e isso espalha. Tudo que a gente faz de coração espalha de uma maneira que vai contagiando. Tanto quem vem buscar, quanto de quem doa”, explicou André Roberto, mais conhecido como André Índio, atualmente vice-presidente da Bancada.
A iniciativa do Varal Solidário teve grande repercussão na região, os pequenos kit’s viraram cestas básicas e voluntários passaram a ajudar na organização. “A gente se organizava na garagem de um voluntário, e dividia o saco de arroz em três. E começamos, fazíamos as entregas nas terças e no sábado. Em uma terça, cem pessoas, no sábado, trezentas, depois quinhentas, depois oitocentas até o ponto em que nós tínhamos 4 mil pessoas na fila”, relata Nina sobre a fila para distribuição das cestas no Kartódromo.
Nina e André relatam que, quando a distribuição de cestas era feita na Lagoa do Taquaral para a população, em junho de 2020, a aglomeração se tornou ponto preocupante que dividia opiniões. Nesse período, a Bancada que possuía 30 integrantes se organizou para fazer uma última distribuição porque, a pedido do então prefeito Jonas Donizette, era necessário parar com o projeto que estava “saindo do nosso controle”, em palavras da Nina, que completou: “a gente tinha consciência de que o prefeito não estava errado”, por conta do risco de saúde que os integrantes corriam em contato com tantas pessoas no auge da Covid-19. Na noite anterior, a prefeitura prestou suporte para a última entrega prevista do projeto que distribuiu, segundo os organizadores, quatro mil cestas em três dias. “Tudo aquilo nos motivava de maneira até agressiva. A gente não dormia, a gente não comia”, acrescenta a presidenta sobre esse período.
Sobre as pessoas que recebiam as cestas básicas, a dupla comentou que a pandemia não afetou apenas a população pobre de Campinas. A Bancada Solidária do Taquaral ajudou até mesmo pessoas de classe média, cuja pandemia havia tirado a fonte de renda da família, criando um sentimento de desespero e necessidade. “Nós vimos cenas de desespero, não só de pessoas pobres, mas de classe média que estavam sem dinheiro para pôr comida na mesa”, conta Nina. “O perfil não era só vulnerável. O perfil também eram pessoas que tinham um emprego [antes da pandemia]”, acrescenta André.
Mesmo não estando mais na Lagoa, com o suposto fim do projeto, as filas continuavam se formando. Sem local para se organizar e com uma sobra de duas mil cestas e toneladas de alimentos, o projeto teve apoio da Casa de Jesus que cedeu um salão para a continuação da Bancada. “Foi a fase fisicamente mais dolorida mas espiritualmente a melhor”, relata com humor a dupla sobre a dificuldade física ao carregar as toneladas de alimentos. “Talvez essa missão já estivesse mesmo no nosso caminho, e a gente tinha que levar até o fim, e levar até o fim significava organizar e fazer com que essa sementinha que foi plantada no começo da pandemia se tornasse algo no futuro”, relata Nina sobre a organização e estruturação do projeto e a nova forma de distribuição que, ao invés de ir diretamente para a população, passaria para as entidades. Depois da Casa de Jesus, o projeto ficou em outro imóvel durante 8 meses. Posteriormente, foi transferido para um outro imóvel na região do Taquaral apenas para distribuição de cestas básicas às entidades.
Segundo levantamento realizado pelo projeto, foram doadas mais de 15 mil cestas básicas no ano de 2021 e, até o mês de março de 2022, foram registradas 3 mil cestas doadas às entidades. Hoje, a Bancada possui um subgrupo, a “Bancada Solidária Jovem”, que conta com estudantes que colaboram com o projeto. Henrique Güth, de 17 anos, filho de Nina, foi o primeiro a participar depois de conhecer o projeto em março de 2020. Posteriormente, ele convidou os amigos Bruno Checchia e João Rocha, ambos de 16 anos, e Guilherme Honorato, de 17, a ajudarem. Ele explica que a atuação dos quatro está diminuindo por conta dos vestibulares, e por isso, a Bancada Jovem precisa ainda mais de voluntários para ajudarem tanto na organização para distribuição de cestas quanto para arrecadação de alimentos e produtos de higiene.
Das pessoas e entidade atendida
Denise Mateus, responsável pelo “Resgate Emanuel”, uma das mais de 50 entidades ajudadas pela Bancada, conta que o projeto surgiu em 2004, quando ainda trabalhava na Emdec. Juntamente com seus colegas de trabalho começou a ajudar as pessoas que estavam em situação de rua no centro de Campinas. A partir desse momento, começou a distribuir sopa aos finais de semana. “A gente fazia um giro ali né… dentro do centro de Campinas, começando na Aquidabã, indo pro Terminal Central, do Terminal Central indo para o Terminal Mercado e do Mercado para a Rodoviária […] e de lá nós íamos embora. E nesse rodízio a gente entregava roupa, alimentos, a sopa… enfim”. Denise acrescenta que devido a fatores pessoais, hoje, o “Resgate Emanuel” trabalha apenas na distribuição de cestas para famílias carentes, as parcerias que possuem vieram do trabalho anterior que fazia nos rodízios pelo centro de Campinas, e as novas parcerias surgiram na pandemia, como é o caso da Bancada Solidária.
Edileuza de Lima Santos, de 44 anos, é moradora do Jardim Rosalina em Campinas e atendida pela entidade “Resgate Emanuel”. Ela é uma das pessoas que recebe há mais de um ano a cesta básica arrecadada pela Bancada. Antes da pandemia, ela conta que fazia faxina em duas casas, depois, com o isolamento social, o trabalho foi interrompido. “Não tinha como pegar ônibus, ninguém nos queria nas suas casas, uma das pessoas que eu fazia faxina na casa foi viajar para Campo Grande, porque lá tava mais tranquilo”, comenta sobre a situação naquele período, em que nem a sobrinha, Dayar, de 20 anos, e o marido, Valdemir, de 44 anos, trabalhavam. Por conta das sequelas após contaminação com a Covid-19, Edileuza relata a dificuldade para trabalhar graças ao cansaço e esquecimento. “Infelizmente, eu não sei até quando eu vou conseguir trabalhar”, lamenta.
Franyelis José Velásquez, de 27 anos, é venezuelana, também atendida pelo Resgate e conta que o acolhimento que recebeu foi fundamental para sua permanência no Brasil. “O trabalho da Denise é lindo e ajudou muito eu e minha família a permanecer aqui no Brasil. Sem eles, a gente não teria conseguido se manter”, conta.
Moradora do Jardim Aeronaves, Tereza Pereira de Lima, de 65 anos, mãe de Edileuza, é aposentada e trabalha como faxineira em uma escola. Ela saiu da Bahia nos anos 90, procurando mais oportunidade de trabalho na cidade de Campinas. “Lá a situação era meio difícil… as pessoas queriam pagar 15, 20 reais para trabalhar”, conta Tereza sobre a terra natal. Com a pandemia, a situação financeira ficou mais difícil, antes da cesta distribuída pelo Resgate, ela e as netas já eram ajudadas por outras pessoas. Tereza conta que há quase três meses não recebem ajuda da entidade “Resgate Emanuel” por conta da queda de arrecadação e, consequentemente, da distribuição das cestas e produtos.
As doações e os voluntários são essenciais para a continuidade e expansão da Bancada Solidária, intensificando o projeto e integrando a comunidade. “É uma direção que a gente deve chegar com o tempo, de se estruturar a ponto de que ela não precise de pessoa X ou de pessoa Y, ela vai precisar de pessoas sempre, porque como eu disse, a força motriz da Bancada são os voluntários”, relata Nina sobre o objetivo do projeto que, além de precisar de voluntários e doações, também precisam de ajuda de empresas da cidade. “Seria importante que as empresas de Campinas entendessem o quanto é importante pra todos nós fazermos com que a fome seja um projeto sob controle”, completa a presidenta.
Como contribuir
Um dos pontos de arrecadação fica localizado no Kartódromo da Lagoa do Taquaral de segunda a sexta-feira das 9h às 17h, aos sábados das 9h às 13h. É possível contribuir também através da campanha “Eu Me Comprometo”, que auxilia a Bancada a pagar o aluguel do QG, local onde as doações ficam armazenadas, as cestas são preparadas e entregues. Para participar, é necessário mandar uma mensagem no Whatsapp (19) 99129-1457. Também é possível visitar o QG e observar o processo de montagem das cestas e entrega às entidades, . Já para ser voluntário, há duas opções para contribuir: arrecadando alimentos no Kartódromo, por meio período, de segunda à sexta das 9:00h às 13:00h ou das 13:00 às 17:00h, e no sábado das 9:00h às 13:00h, ou auxiliando no QG.
Para mais informações sobre a Bancada Solidária e a Bancada Jovem, entre em contato pelo Instagram: @bancadasolidariataquaral e @bancada_jovem.
Orientação: Prof. Gilberto Roldão
Edição: André Romero
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