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Livros auxiliam crianças com TEA a desenvolver a fala

Especialistas em educação especial contribuem com dicas de como ler para crianças com Espectro Autista

Por: João Vitor Bueno e Ana Beatriz Viana Tocoli

No dia 18 de Abril é comemorado o Dia Nacional do Livro Infantil, e nesse mesmo mês ocorre o abril Azul, período voltado para a conscientização e visibilidade de crianças que dispõe do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Uma das principais características apresentadas por pessoas dentro desse espectro é ser introspectivo, comunicação e interação social deficientes, relacionamentos escassos, estereotipias, interesses e padrões de comportamento restritos, e isso afeta o desenvolvimento da fala logo quando criança, por isso o incentivo à leitura é essencial, através da contação de histórias, para que ocorra esse desenvolvimento.

Anita Zimmermann tem mais de 30 anos de experiência na área e tem um site especializado no assunto. Link: https://anitazimmermann.com.br/  (Foto: Arquivo pessoal)

Segundo a pedagoga e especialista em educação especial, Dra. Anita Zimmermann é fundamental que o responsável transforme a contação de histórias e a leitura como parte do cotidiano da criança, mas ressalta que é importante saber respeitar o tempo dela e entender que cada tipo de TEA exige uma abordagem diferente. “Estudo, avaliação, estratégia, insistência, perseverança e paciência. Considerando que o Transtorno do Espectro Autista é amplo e precisamos considerar caso a caso, criança a criança”, comenta.

Para Anita, quando a criança é estimulada à leitura, ela se sente incentivada com o aquilo que está vendo ou ouvindo, e passa a se interessar mais por histórias. Para causar esse interesse inicial, devemos explorar os temas presentes na vida pessoal de cada criança, Zimmermann expõe que, com isso, ela passa a se desenvolver. “Através da leitura a criança naturalmente se expressa com sons, falas em desenvolvimento oral e finalmente, composição de frases”, analisa a doutora.

Mileide Campanholi e seu filho Vinícius. Ela conta que iniciou a leitura com seu filho com Robinson Crusoé, em versão escrita por Monteiro Lobato (Foto: Arquivo pessoal)

Mileide Campanholi é mãe de Vinícius Oliveira Campanholi, de 15 anos, que está dentro do espectro autista. Ela conta sobre suas experiências durante a infância dele, e reforça que para estimular a leitura é necessário criar o hábito. “Eu sempre fui apresentando os livros pra ele, fora que eu deixo minha estante de livros na sala pra ver se eles se empolgam com a leitura, sempre nesse envolvimento, contando histórias e comprando livros e apresentando para eles”.

A dona de casa diz que o método mais eficaz para seu filho foi começar por livros de contos curtos. “São várias historinhas que envolvem bastante a criança, para depois você chegar com o livro maior. Então às vezes você tem que falar na voz do livro, você tem que interpretar”. Para ela, participar da história ajuda na concentração do ouvinte.

Ela se diz surpresa com os frutos que vem colhendo. “Meu filho tem um vocabulário rico de palavras, de tanto ouvir eu falando as palavras, ou eu lendo o livro, então eu me surpreendi porque às vezes ele vai contar uma história e ele usa palavras que normalmente outras pessoas não usariam”, finaliza Mileide.

Ilsa Regina Faustino Abreu é enfermeira de formação e atualmente preside a ADACAMP, em entrevista cedida ao portal digitais ela se diz realizada com a função que exerce (Foto: Arquivo pessoal)

Ilsa Abreu, presidente da Associação para o Desenvolvimento dos Autistas em Campinas (ADACAMP), ressalta a importância da participação da família no processo de aprendizagem da criança com TEA, sendo primordial a relação entre as partes. “Nós precisamos do tripé, ADACAMP, família e escola. Se alguém sai daquilo que está sendo proposto a gente perde esse trabalho, então é preciso ter esse contato muito próximo com a família”, a diretora diz que é importante respeitar o tempo das crianças.

A ADACAMP oferece diversos serviços que auxiliam no desenvolvimento de crianças com TEA, inclusive na área da fala. Ilsa comenta que sua equipe dispõe de especialistas da área de fonoaudiologia para auxiliar no desenvolvimento da fala e escrita, e revela que um dos métodos eficazes é a ecolalia. “A fono escreve na lousa e repete para a criança, e a criança repete aquilo o que ela ouviu. Às vezes você percebe que não saiu aquilo que foi dito, mas eu recebo aquele som como se fosse a palavra, e aí a gente começa fazendo aproximações sucessivas de algumas coisas”, explica. E finaliza dizendo sobre a importância de inserir a criança em um ciclo social de maneira moderada, sem forçar a criança e respeitando seu tempo.

Júlia Bueno conta que a leitura e a contação de histórias é uma ferramenta importante para o desenvolvimento da fala de crianças com TEA (Foto: Arquivo pessoal)

Júlia Da Silva Bueno é turismóloga, trabalha com recreação em redes de hotelaria e faz atendimento recreativo individual. A recreadora comenta sobre a importância de inserir a criança nas rodas de brincadeira e o método que ela utiliza para fazer isso no hotel onde trabalha. “Estabelecer uma relação de confiança para que a criança se sinta mais confortável com o grupo, na medida que a criança vai apresentando sinais de participação vamos dando mais notoriedade e tarefas, como por exemplo ser o pegador de uma brincadeira”.

Ela revelou dois casos bem-sucedidos que obteve no atendimento individual de crianças com TEA. O primeiro, no desenvolvimento da comunicação de uma menina após apresentar o “livro das emoções” na rotina de leitura no acompanhamento recreativo individual, e o outro caso, de um menino que ela apresentou histórias para identidade e representatividade inserindo o personagem autista na sociedade, dentro da escola e tendo profissões, isso possibilitou que ele pudesse se enxergar e se imaginar dentro de contextos que antes não eram oferecidos a ele. Júlia, assim como Anita, Mileide e Ilsa, reforça a importância de respeitar o tempo da criança com TEA.

De acordo com o IBGE e a Fundação SEADE, existem 205.608 crianças (entre 0 e 14 anos) em campinas, desse montante, segundo a ONU, 1% se enquadra no espectro

Segundo a ONU, o número de pessoas com TEA no mundo é equivalente a 1% da população mundial, de acordo com a estimativa feita pela Unicamp, existe cerca de 30 mil pessoas com TEA na Região Metropolitana de Campinas.

A ADACAMP atende 158 pessoas com TEA, a associação existe há mais de 30 anos e auxilia no desenvolvimento delas. Ilsa Abreu, em entrevista cedida ao Portal Digitais, contou como se sente liderando um projeto tão importante para a sociedade. Confira no link: https://youtu.be/warxvXhbAUs

Orientação e edição: Prof. Gilberto Roldão


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