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Plataformas de leitura on-line incentivam a leitura e a publicação de novas obras
Por Kamila Minari
Em 2020, o mercado editorial registrou encolhimento de 8,8% na pandemia, tal como o consumo de livros físicos que vem perdendo gradativamente espaço para e-books e plataformas de leitura on-line, aponta a Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial. Com o avanço tecnológico, as fanfics ou fanfiction — obras fictícias escritas por fãs baseada em uma ou mais celebridades, personagens ou obra notoriamente conhecida, sem fins lucrativos, que abrangem diversas categorias, como suspense, aventura e romance — surgem como uma espécie de ruptura na indústria editorial tradicional e adaptam a produção literária à era digital.
“Sonho em ser escritora desde que aprendi a ler e escrever. Admito que é um processo cansativo, mas é o único em que eu me sinto eu. É o meu prazer escrever e não me sinto plena fazendo qualquer outra coisa senão lendo e escrevendo”, relata Lara Scappino, autora independente com mais de 3,6 milhões de leituras na plataforma de leitura on-line Wattpad. “Quando eu era jovem lia muita fanfic. Acabei me inspirando nas bandas e universos que eu gostava e comecei a escrever também. A fanfic é uma maneira de iniciar o escritor. Hoje, quando leio meus primeiros rascunhos, acho horríveis, péssimos, mas ao mesmo tempo me sinto feliz por não ter desistido e por ter evoluído tanto”.
A narrativa ficcional criada por fãs e compartilhada em sites, blogs, fóruns on-line e outras plataformas da internet vem crescendo no País. Segundo Lara, a fantic incita a criatividade e o gosto pela leitura de novas gerações ao apresentar histórias da cultura moderna criadas por outros indivíduos comuns. “Elas trazem um sentimento de identificação. Não somos uma nação de leitores, mas podemos nos tornar através de ferramentas que conectem os mais novos com o universo que se identifiquem, já que a literatura é para todos. Os clássicos são importantes, mas se o jovem se interessa por histórias de confrontos medievais fantasiosos, que diferença isso faz?”, questiona.
Pesquisas mostram que o País tem poucos leitores. Segundo levantamento do Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural, o brasileiro lê em média cinco livros por ano, sendo aproximadamente 2,4 livros lidos apenas em parte e 2,5 inteiros. Já a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural entre os anos de 2015 a 2019, a porcentagem de leitores no Brasil caiu de 56% para 52%, ou seja, o país perdeu mais de 4,6 milhões de leitores nesses quatro anos.
“Na adolescência, eu lia de quatro a cinco livros por mês. Conforme fui crescendo, perdi o hábito. O conteúdo dos livros já não me agradava mais, então comecei a escrever o que eu gostaria de ler e publicar no Spirit, surpreendentemente, as outras pessoas gostaram também”, diz Bruna Almeida, universitária e escritora independente que acumula mais de 170 mil visualizações em suas histórias hospedadas na plataforma de leitura digital Spirit Fanfics e Histórias. Ela relata que a leitura foi e continua sendo fundamental para o seu processo criativo e que embora escute críticas, o universo das fanfics é onde se sente confortável para expressar-se.
Lara e Bruna apontam que as fanfics influenciaram fortemente os seus hábitos de leitura durante a adolescência e expõem terem sido ofendidas por conta das fanfictions que liam e escreviam. Almeida relata ter abandonado o hábito de leitura por esse motivo. Já para Lara as críticas foram essenciais para o seu desenvolvimento. “Até hoje uso as críticas como motivação para escrever cada vez melhor e publicar novas histórias cada vez mais criativas. Sempre haverá alguém para falar mal, mas desde que uma pessoa se identifique com os personagens e situações que eu escrevo, estou satisfeita”, afirma.
Além do universo literário, as plataformas de publicação on-line expandem-se até mesmo para o mercado cinematográfico, como é o caso da trilogia 50 Tons de Cinza. O sucesso mundial escrito por E. L. James e lançado em 2011 surgiu começou como uma fanfic inspirada na Saga Crepúsculo, intitulada “Masters of The Universe”. Lara e Bruna falam como se inspiram nesses casos de sucesso e relatam ser difícil ser um escritor de livro independente por conta do alto custo da publicação – cerca de R$ 3 a 5 mil – e a baixa demanda de leitores no País.
As fanfictions são uma atividade sem fim lucrativo e que não têm a intenção de ferir os direitos autorais da obra original. Tratam-se de uma continuidade dos universos criados através da percepção criativa do fã.
Saiba mais
Confira plataformas on-lineque permitem a leitura e a publicação de fanfics:
- Wattpad: Lançado em 2006 com o slogan “Onde as histórias ganham vida”, a plataforma é uma das mais famosas e dinâmicas para criadores e leitores de fanfics.
- Spirit Fanfics e Histórias: Contando com um rankingdas principais categorias — com mais histórias publicadas —a plataforma hospeda gratuitamente histórias originais e proporciona a interação de outros usuários por meio dos comentários.
- Archive of Our Own (AO3): Lançada em 2009, a plataforma se autodescreve como um repositório de código aberto para a disponibilização de fanfictions. Internacional e majoritariamente no idioma inglês, o AO3 hospeda poucas histórias em português.
- Tumblr: Famosa plataforma de comunicação lançada em 2007, ela hospeda diversos conteúdos literários, dentre eles as fanfictions.
Orientação: Profa. Cecília Toledo
Edição: Oscar Nucci
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