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Projetos autorais ganham vida com vaquinha virtual

A estudante Jasmini Cavalcante produziu ilustrações, e a jornalista Amanda Cotrin, ensaio fotográfico em Caracas

Por: Beatriz Mota Furtado

Um ensaio fotográfico sobre o cotidiano de Caracas; ilustrações que informam sobre os devidos cuidados de prevenção à Covid-19; histórias em quadrinhos sobre duas amigas no isolamento da pandemia; e podcasts com dicas para mamães de primeira viagem. Esses quatro projetos só saíram do papel graças a uma “vaquinha virtual” que suas autoras apresentaram em uma plataforma para financiamento coletivo. Gente que as autoras não conheciam compraram a ideia e deram vida a empreendimentos que, de outra maneira, teriam ficado na gaveta.

“Eu queria mostrar uma Venezuela de um jeito diferente daquele que a grande mídia costuma mostrar”, explica a jornalista Amanda Cotrim, que procurou parceiros, na plataforma Vaquinha Virtual, que acreditassem no seu trabalho e compartilhassem de suas ideias. Em quinze dias, a fotógrafa, formada em jornalismo na PUC-Campinas, conseguiu o dinheiro para bancar a viagem para Caracas e colocou o projeto em prática, com uma série de fotografias de rua. Além da Vaquinha Virtual, a plataforma Catarse também foi aliada de outras artistas para tirar os planos do papel.

O Catarse é a primeira e maior plataforma de financiamento coletivo do Brasil. Reunindo projetos criativos, que vão dos mais simples até os mais elaborados, a iniciativa visa dar oportunidade para novos empreendedores e artistas ingressarem no mercado. O site funciona como um marketplace, onde os consumidores colaboram com uma quantia mensal, estipulada e padronizada pelo vendedor, e ganham, de acordo com o valor investido, um dos produtos oferecidos pelo empreendedor.

Jasmini: “É preciso olhar as pequenas coisas e enxergar a beleza”; Amanda: “… uma Venezuela de um jeito diferente” (Fotos: Arquivos Pessoais)

Quatro mulheres, buscando divulgar e promover projetos autorais que não têm espaço na grande mídia, procuraram plataformas de financiamento coletivo. Trazer informação sobre um diferente ponto de vista é um objetivo em comum das quatro criadoras: fotografias que expõem a realidade do dia a dia da Venezuela, quadrinhos que refletem sobre o isolamento social, ilustrações que educam sobre a prevenção contra a Covid-19 e podcasts com dicas para mulheres que se tornaram mães recentemente.

Jasmine Cavalcante, ou Jas, como gosta de ser chamada, nunca tinha enxergado a arte como uma carreira. Para ela, a arte é um refúgio. A cearense de 22 anos decidiu mudar-se para Campinas há 3 anos para cursar a faculdade de medicina. Para Jas, a flexibilização das aulas para o ensino remoto devido à pandemia, possibilitou o encaixe da arte na rotina de estudos de período integral.

Ela conta que sempre usou suas ilustrações como papel de parede do celular, adesivos e blocos de notas. Foi então que pensou que o que era útil para ela, também poderia ser para outras pessoas. Assim, decidiu criar um projeto no Catarse. “A internet ajuda muito o artista porque funciona como uma grande vitrine”, ressaltou.

O projeto, nomeado de “Clube da Jas” surgiu pelo desejo de expandir a arte para as pessoas e, ao mesmo tempo, ser uma fonte de renda para a estudante. Os apoiadores arcam com um custo mensal de R$ 5,00 e em troca ganham recompensas como cartelas de adesivos, blocos de notas e calendários, feitos pela artista. Jasmine conta que usa as obras para traduzir para a comunidade o que aprende nas aulas de medicina.

“A arte traduz muita coisa que eu aprendo, como por exemplo as medidas sanitárias de prevenção contra a Covid-19. Com os desenhos, eu consigo mostrar de uma forma clara e divertida, a importância dos cuidados contra a disseminação do vírus”, explicou.

Usando um bloco de notas para rascunhar as ideias que depois são passadas para um aplicativo de desenhos em seu tablet, Jas se inspira em coisas da natureza e no que a faz se sentir bem. “É preciso olhar as pequenas coisas e enxergar a beleza. Hoje damos muito valor para coisas grandes e parece que só aquilo que é gigante e famoso é bonito, mas não é assim”, ponderou.

Além de Jasmine, outras artistas também usam a plataforma Catarse para promover projetos autorais artísticos, divulgando-os para mais pessoas. É o exemplo de Helô D’Angelo, jornalista, ilustradora e quadrinista, chargista no jornal “Brasil de Fato” e capista do podcast Mamilos. Helô é autora dos quadrinhos Dora e a Gata e Isolamento, que começaram como webcomics nas redes sociais e agora vão virar livros. Através dos quadrinhos, como no caso da obra “Isolamento”, a ilustradora tenta trazer leveza para o isolamento social.

Helô D’Angelo: tirinhas HQ sobre isolamento social (Foto: Arquivo Pessoal)

A obra “Isolamento” é uma série de tirinhas inspiradas nos vizinhos de Helô. “É quase um livro de fofocas”, brincou ela. A autora conta que se baseia em conversas engraçadas dos vizinhos para mostrar as diferentes realidades que ocorreram na pandemia. As conversas são adaptadas e os nomes são omitidos. “O Catarse é uma grande oportunidade de financiamento para projetos autorais. O meu foi financiado no dia 31 de maio e bateu 244% da meta. Foi um sucesso”, comemorou.

Em outro projeto, Thaís Maruoka, jornalista de 34 anos criou o podcast “Em casa a gente conversa” – que conta com 72 episódios de aproximadamente 1 hora cada, divididos em 2 temporadas – nos quais aborda, juntamente a convidados especialistas, assuntos sobre a maternidade e a vida da mulher. Para ela, a importância de projetos autorais é enorme. “É preciso abrir espaço para pequenos empreendedores, dar uma chance para pessoas que estão dispostas a mostrar potencial e trabalhos de excelência, tanto quanto os grandes veículos de comunicação”, alertou.

Thais conta que teve a ideia de criar o projeto para ajudar mulheres na construção diária da maternidade. “Eu tento lembrar o que foi mais difícil nesse período e em quais momentos eu mais precisava de ajuda. São as respostas para essas dúvidas que eu busco trazer para as mães, no podcast”, apontou.

Ela explica que a ideia de colocar o projeto de podcast no Catarse tinha como objetivo gerar um retorno financeiro. “Infelizmente ele tem dado retorno muito baixo porque as pessoas, por mais que consumam, não têm o hábito de ajudar financeiramente, ainda mais quando se trata de projetos pequenos e, pior ainda, durante a pandemia, período em que as pessoas ficaram mais desfavorecidas”, disse.

Thaís Maruoka: 72 episódios do podcast “Em casa a gente conversa” (Foto: Arquivo Pessoal)

Além de financiar os projetos pelo Catarse, as artistas contam que usam as redes sociais para divulgá-los e arrecadar doações. É o caso da jornalista e fotógrafa Amanda Cotrim, autora do projeto “Venezuela em Fotos”, composto por uma série fotográfica de 3 partes com 23 imagens em cada, retratando a cidade de Caracas, na Venezuela, de um ponto de vista diferente do que é mostrado nos grandes veículos de comunicação. O projeto, produzido no mês de setembro de 2019, contou com o patrocínio parcial de apoiadores das redes sociais de Amanda, através de “vaquinha virtual”. Em 2 semanas, ela tinha o dinheiro para realizar o documentário fotográfico.

“Eram pessoas que, assim como eu, queriam ver como era Caracas fora das imagens dos jornais. Há uma importante parte dessa história que muitas vezes é esquecida: o cotidiano”, relatou Amanda. A autora conta que aquela foi sua primeira ida à Venezuela e que tinha como principal objetivo mostrar o lado humano e o dia a dia das pessoas.

Amanda também ressaltou a importância do incentivo aos trabalhos autorais. “Uma fotografia não muda as coisas, mas mostra o que está acontecendo. Ninguém pode dizer que não sabia. Apesar de ser uma batalha difícil, por tentar conseguir o apoio das pessoas para um projeto que não está ligado à uma instituição, é extremamente necessário mostrar um ponto de vista diferente do que é visto nas grandes mídias”, apontou.

A seguir, links para as produções do projeto “Venezuela em Fotos”: Parte 1 | Parte 2 | Parte 3

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti

Edição: Fernanda Almeida


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